Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens com o rótulo vida cristã

O livro e a vaidade

Conforme os dias passam só posso dizer que aquele tal livro Sagrado para os cristãos (e eu tento ser uma, portanto, sagrado para mim) é o mais importante que já li na minha vida. Ele é um tanto maluco, sanguinário, misterioso, controverso e por isso, tantas vezes incompreensível, mas ainda não encontrei nenhum outro para substitui-lo na minha cabeceira. Ele me conserta e desconserta; me constrói e desconstrói; me acalma, tanto quanto me desespera; planta e rega as mais absurd as esperanças no meu coração e quase na mesma medida, muitas vezes, me diz que é tudo um sopro sem controle, e isso me assombra. O livro. Ele me vira do avesso e quando penso que estou aprendendo me prova que ainda não sei nada. Ele expõe as minhas vaidades, medos, mentiras, hipocrisias e todas as minhas facções interiores - essas minhas guerras incontidas, que extrapolam a geografia da minha alma e se esvaem por meus olhos, lábios, poros, gesto, em reações tão concretas que se firmam ante minhas

Em Reforma?

Às vésperas do tal 499º aniversário da Reforma Protestante , talvez nos grite com muita força hoje a necessidade de pensarmos sobre essa palavra - REFORMA - o seu poder e o seu significado. Quando a nossa teologia está distante dos gritos da alma humana; quando a nossa teologia não consegue mais dialogar com os guetos, os becos, as vielas, as ruas, as demandas sociais, a inquietação da nossa existência, o nosso sentido espiritual de ser gente; quando a nossa teologia não nos p rova a pensar, enxergar e a assumir responsabilidade com o sistema de vida no qual existimos como parte, alguma coisa está estranha. Muito estranha. Não é a Escritura, assim creio, que se fez incompleta nos seus princípios e, portanto, insuficiente para as demandas da humanidade. Mas, a estratagema teológica do distanciamento, da comunicação academicista, do discurso ao invés do diálogo, da vedação aos questionamentos e às dúvidas, da literalidade textual e desprezo de valor do Cristo, pessoa inspirado

Comunhão

Até que me provem o contrário continuarei crendo e dizendo: é impossível comunhão na multidão. À multidão a gente se agrega e faz coro, dá novos tons e novas cores às vozes. Comunhão mesmo é fruto do partir do pão, do olho no olho que perscruta a alma e decifra a anatomia dos pensamentos de quem convive, se desnuda sem temores dos julgamentos. Comunhão é ombro para receber o peso do corpo cansado, é peito sobre o qual reclinar a cabeça confusa, é colo pra dar e receber carinho, são braços estendidos pra segurar o que cai e levantar o derrotado, são pés dispostos e disponíveis pra mais uma caminhada, ainda aquela do desgarrado. Comunhão são as agruras do pensar junto, construir junto, acreditar junto, se transformar junto, chorar junto, sorrir junto e ajuntar os dilacerados pela vida pra fazer-se um novamente. No mais, há expectação, mais uma voz em coro numa multidão em frenesi por existir em pequenos rompantes de ajuntamentos sectários. Impossível comungar assim. Por isso, sigo a

Um grito que não sai

Um recorte da PDAD (Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios) - 2016, no caso Estrutural:  http://www.codeplan.df.gov.br/…/Apresentacao_PDAD_Estrutura… Dados que dizem muito, especialmente quando olhamos o resultado da pesquisa de outra Região Administrativa do DF, o Lago Sul (divulgada hoje:  http://agenciabrasilia.df.gov.br/…/10/pdad-lago-sul-2016.pdf ), e lembro o que ouvi em audiência pública sobre a desobstrução da Orla do Lago que é de TODOS NÓS, contra a qual se agarram com unhas e dentes, uma meia dúzia de moradores auto proclamados "o maior PIB do planeta", e que lançam mão de todas as formas possíveis para continuar a judicialização das ações de abertura da orla a quem de direito. Enfim, o real grito das nossas ações e reações não sai da nossa garganta, ficando os nossos silêncios expressos em números como esses aqui, resumidos ao final, e em mais detalhes no link abaixo. E esse grito, quem o dará? Quando falaremos pela redução da desigualdade so

Somos sempre mais do mesmo (?)

Somos mais do mesmo sempre. E, às vezes, é  desanimador. Começamos coisas travestidas de nova mentalidade, de avanço no pensamento e modo de ver e organizar o mundo. De repente, damos no mais do mesmo. Os velhos muros entre homens e mulheres, definindo na Igreja. Tipificação de "missão de homem vs missão de mulher", no clássico "cabeça baixa, silêncio e "submissão", continuam sendo erigidos. As velhas cercas de arame farpado que mostram  à juventude  um "novo mundo" - "livre e interativo" - , ao tempo em que a impede de ir além de um metro quadrado de questionamento, sob o risco de sangrar até morrer porque a liberdade vai apenas até o limite da obediência tácita da vírgula que entorta o texto, não a permitindo ser posta em outros pontos da escrita para fazer sentido ao que se lê, e significado ao que se deve viver. Sim, as cercas estão aí, brilhantes no papel de delimitar claramente o "novo mundo" ao mundo velho. A v

É assim que eu congrego

Confesso, sinceramente, faço esforço para voltar a me encaixar no sistema religioso tal como fiz a vida inteira. Aquele do tipo congregar várias vezes na semana, cantar músicas "espirituais", chorar, ler a Bíblia com outras pessoas e orar com elas e aí me vejo asfixiando como um peixe fora d'água. É estranho. Sinto falta das pessoas e careço de oração que me fortaleça a fé para as lutas diárias, que me mantenha consciente de quem eu sou e de quem eu não sou. Mas cada vez menos, consigo enxergar possibilidade de me encaixar em reuniões num templo, dentro de um processo litúrgico normal. Não, não tem nada a ver com a liturgia e não querê-la, até porque a minha construção pessoal me faz aderir muito facilmente a determinadas formalidades. A questão é outra e tem a ver com compreensão das coisas, sentido de existência, significado de vocação e exercício dela. Decidi-me "romper" para me perder com o anseio de me achar, faz pouco mais de dois anos.

Os que caem, invisíveis

"Nove entre 10 jovens mortos na área metropolitana de Brasília são negros:  http://goo.gl/TSS35o Essa realidade tem consequências devastadoras. Além de famílias destruídas pela dor, há uma enorme perda para o futuro da cidade". Faço um clamor à sociedade brasiliense e em especial aos meus irmãos, da fé cristã, por que uma vergonha dessas não poderia ser, JAMAIS, admitida por qualquer cidadão dessa cidade. Se sobre nós, pesa a responsabilidade da propagação do EVANGELHO, ou a proclamação das boas novas, pergunto: o que temos feito para que as boas novas e não apenas balas, tiros, drogas e violência, cheguem à juventude? A pergunta que deveria nos perturbar todas as noites e nos tirar o sono, certamente, não deveria ser o carro novo e outras COISAS, mas só e tão somente só "onde está você que diz que me adora, mas não estende a mão?" Não podemos falar de um Reino ali e além, desprezando que o reino está dentro de nós e PRECISA SE MANIF

#ReduçãoNãoÉSolução!

Dia 30? Estarei lá, na rua ... porque problemas crônicos e questões complexas não são resolvidos assim, como se está querendo fazer, é preciso chamar a sociedade para o debate, é preciso olhar a fundo para tudo o que envolve a proposta e aquilo que está posto e não recebeu a atenção devida em 25 anos de ECA. Não é 'reduz ou não reduz' simples assim por isso é preciso por fim a essa corrida de resolver problemas sociais sem integração da sociedade, sem pô-la no centro do debate. ‪#‎ ReduçãoNãoÉSolução‬ Vamos avançar socialmente, minha gente! Linda campanha uruguaia e mudança de opinião a partir de um novo olhar! Somos capazes? Tentemos!   Emoticon wink ---- A lição uruguaia e o nascimento da geração desarmada Dois terços dos uruguaios eram a favor da redução da maioridade penal. Em outubro do ano passado, houve um referendo naquele país sobre o tema. 53% contra a redução, 47% a favor. O que aconteceu? Como as pessoas no Uruguai mudaram de

Se...um

Estando vivo hoje o Pastor Martin Luther King, sim, ele era pastor, a que marcha ele iria? Pulando num trio gritando "Deus é fiel", estendendo as mãos em "atos proféticos" sobre a cidade ou chamaria uma marcha por direitos, educação, contra a redução da maioridade penal e estenderia a mão para acudir o oprimido, cumprindo as profecias desde sempre sobre a terra e mostrando eu quero ser fiel como é Deus? Tenho cá com os meus botões que o Pastor Luther King, no próximo domin go, teria como tema do seu sermão uma poderosa exortação para que a Igreja estivesse terça - feira na frente do Congresso exigindo mais educação, menos prisão, assumindo-se pela vida e contra a redução e ele, o pastor Martin, estaria batendo na porta dos gabinetes dos deputados exigindo respeito à Carta Constitucional e na hora da votação, bem capaz estivesse na galeria da Câmara ou no gramado da Esplanada com um megafone bramando pelas causas da justiça.  --- Ps: eu já fiz marchas e mi

Sobre liberdade

É muito chato quando a gente usa uma liberdade que não tem. É uma coisa profundamente vergonhosa. Outro dia eu usei, no trabalho, uma liberdade que não tinha - pelo menos não naquele contexto e momento - e quando a minha chefe me deu um risinho de reprovação bem discreto. eu quis me enfiar debaixo da mesa, fiquei profundamente envergonhada. Ainda bem que me toquei. Sabe uma liberdade que o Cristo não nos deu? Condenar os "pecados sexuais" dos outros. Embora Ele nos tenha dado, por exemplo, a liberdade de "condenar" os desvios de caráter dos corruptos. Sim, porque a corrupção é desvio de caráter, quase sempre. Enfim... À mulher pega em flagrante adultério Ele disse "filha, deixa o meu amor te tocar, deixa eu te amar...vai...e nesse amor siga em paz o teu caminho,...siga o caminho do meu amor". Aos corruptos do templo, que zombavam da fé do povo e corrompiam aquele culto, ele puxou o chicote e saiu quebrando tudo. A gente diria, "nervosinh

Ele se compadeceu de nós e o que isso nos ensina?

O Evangelho deve querer nos ensinar alguma coisa quando, diversas vezes, destaca: "e Jesus olhando a multidão com fome (ou sofrida ou à procura de um milagre...) compadeceu-se dela...", porque uma multidão de famintos é, essencialmente, uma multidão de solitários, uma vez que na comunhão não há quem tenha falta. Já a multidão de famintos é resultado de um ajuntamento de pessoas, cada uma buscando o SEU milagre, a SUA cura, a SUA prosperidade, o TORNAR-SE mais que vencedor, o  FAZER-SE cabeça e não calda... Falta-nos olhar as multidões formadas pela mulher siro-fenícia, aquela outra de muitos maridos e ainda assim sem nenhum, o religioso que não via sentido na sua religião e tinha medo de assumir isso, o louco de Gadara, o Lázaro, o centurião desprovido de poder, o coxo e seus quatros amigos, o Zaqueu - ladrão..."metáforas" de nós todos e buscar compreender o que é essa COMPAIXÃO. Um dia ouvi que o Cristo ensinava com palavras, atitudes e sentimentos. É, acho

A pergunta que ainda ecoa!

Era final de tarde, uma tarde daquelas em que a gente diz “uffa, é comer algo, tomar um banho, colocar os pés pra cima e relaxar”. Era. Mas, havia ali, muita gente. Gente cansada e faminta. Gente que não podia fazer nada por si. “Onde compr aremos comida para toda esta gente?”  A pergunta de mais de dois mil anos atrás venceu os limites da Galiléia e reverbera até nós, neste exato momento. Sabe o incrível? As mesmas respostas continuam sendo dadas e elas giram em torno da negativa de condições na resolução de problemas como a fome – que poderia aqui representar a privação de direitos. O Evangelho diz que o Cristo já sabia o que estava por fazer, mas colocou a questão para ver qual seria a resposta dada a ela por aqueles que se diziam seus discípulos. A questão continua e a expectativa do Cristo também.  Já agora, ele aguarda resposta da Igreja frente também à fome, mas não apenas de uma refeição no meio de uma peregrinação – a que alcança no Brasil ainda, em 3,4 milhões de pe

Serenidade para semear a paz

Em tempos de nervos à flor da pele, que nos levam a falar antes que a frase seja revista, estou procurando compreender alguns textos daquele livro que julgo sagrado, a Bíblia. E chamaria os meus irmãos e irmãs em Cristo a fazerem o mesmo. É bem saudável, viu? *As bem-aventuranças trazem o seguinte em Mateus capítulo 5, verso 9: "Felizes as pessoas que trabalham pela paz, pois Deus as tratará como seus filhos." Esse texto, então, me remete a Isaías capítulo 32, verso 17:  "A justiça trará paz e tranquilidade, trará segurança que durará para sempre." E por sua vez, me traz à memória Tiago capítulo 1, versos 19 e 20: "Lembrem disto, meus queridos irmãos: cada um esteja pronto para ouvir, mas demore para falar e ficar com raiva. Porque a raiva humana não produz o que Deus aprova." Tomo os textos acima como exortações bem certeiras à busca de alinhamento dos meus comportamentos e reações para que o Evangelho do Reino não seja apenas um

Ativo vs Reativo

Ser sal da terra e luz do mundo pressupõe um modo de vida ativo na sociedade, e não somente reativo. Ser ativo, a seu tempo, exige conhecimento e envolvimento, pois não se pode ativar nada em nada, sem prévio conhecimento. Ser ativo, sim, dá uma boa dose de trabalho. Exige certa dose de abnegação, exercício de tolerância em mescla com posicionamento firme. Impõe a necessidade de compreender o ou tro como próximo e não apenas o outro, distante. Isso, portanto, fala do não às barreiras, do espírito coletivo, da construção colaborativa de caminhos e soluções. Ou seja, nos coloca no lugar de onde nunca deveríamos ter julgado ser possível sair: o Centro da vida em sociedade, do modo a que ela se propõe - coletiva. Como não é possível sair, nos tornamos omissos. Acontece que o mundo está cada vez mais dinâmico e, graças a Deus, cheio de ferramentas interessantes e significativamente úteis para esse processo social, cooperativo e colaborativo. Mas, e nós, que nos denomina

A Teologia da Missão Integral e o Marxismo

Reblogando Reflexão de Ariovaldo Ramos sobre "A Teologia da Missão Integral e o Marxismo" ------ Desde que ouvi falar de missão integral em 2007, enquanto fazia uma escola da JOCUM, fiquei interessado e comecei a pesquisar sobre o tema. Adquiri alguns livros, baixei artigos da internet, assinei Ultimato, enfim, quis saber quem falava sobre missão integral e o que falavam sobre missão integral. Em meio a muitas leituras e questionamentos, não sei se estou sendo tolo, mas a minha pergunta é: a teologia da missão integral dialoga com o marxismo ou mesmo se apropria de alguns pressupostos marxistas? Se sim, como articular cosmovisões contrárias uma da outra? ( Filipe Reis, Parintins, AM) ------ Bem, Filipe, nós vivemos num mundo profundamente influenciado pelo marxismo. Então, é impossível dialogar com o mundo sem dialogar com o marxismo num nível ou noutro. O marxismo mudou a face do Ocidente por, pelo menos, setenta anos. Estabeleceu-se como fato histórico, vimos sur

Dos Fragmentos no Caminho Emaús

"Te ver e não te querer É improvável, é impossível?" Assim (mas sem a interrogação) começa uma das lindas canções gravadas pela banda mineira Skank. E a partir dessa letra meu primeiro sábado de 2014 foi embalado, numa, ora frenética, ora calma dança dentro de mim, para que logo em seguida, uma história muito conhecida - o encontro de Jesus com dois discípulos no caminho de Emaús, me fizesse chorar de alegria pela oportunidade e graça da Palavra Revelada. É engraçado perceber como a história humana se repete, como não há nada de novo na face da terra e isso, não se trata de uma visão de pessimista. Não. Eis aí algo que não me acomete. Muito ao contrário. Mas, o que vemos acontecendo no caminho de Emaús, é exatamente o mesmo que se dá conosco, dia após dia. O que temos ali? - Dois discípulos de Jesus indo em direção a Emaús; - Uma caminhada envolta nas cenas de uma tragédia (anunciada e cumprida). E aqui, algumas coisas começam a me chamar a atenção. O verso 15 di