Pular para o conteúdo principal

Serenidade para semear a paz

Em tempos de nervos à flor da pele, que nos levam a falar antes que a frase seja revista, estou procurando compreender alguns textos daquele livro que julgo sagrado, a Bíblia. E chamaria os meus irmãos e irmãs em Cristo a fazerem o mesmo. É bem saudável, viu?

*As bem-aventuranças trazem o seguinte em Mateus capítulo 5, verso 9:
"Felizes as pessoas que trabalham pela paz, pois Deus as tratará como seus filhos."

Esse texto, então, me remete a Isaías capítulo 32, verso 17: 
"A justiça trará paz e tranquilidade, trará segurança que durará para sempre."

E por sua vez, me traz à memória Tiago capítulo 1, versos 19 e 20:
"Lembrem disto, meus queridos irmãos: cada um esteja pronto para ouvir, mas demore para falar e ficar com raiva. Porque a raiva humana não produz o que Deus aprova."

Tomo os textos acima como exortações bem certeiras à busca de alinhamento dos meus comportamentos e reações para que o Evangelho do Reino não seja apenas um discurso, mas uma prática na minha vida e muitas questões surgem.

O quanto as nossas palavras, ações e reações tem contribuído para a promoção da serenidade? Sim, estamos precisando disso, pois essa nuvem carregada de espírito revanchista (e de modo algum desprezo as justificativas) apenas nos impulsionará à precipitação (em palavras e atitudes) e nos fará - mesmo sem que tenha sido a nossa intenção - ser a mão que a aperta o gatilho da intolerância.

A nossa insatisfação deve nos conduzir, penso, a uma atitude de busca de conhecimento e participação qualificada nas discussões e processos que envolvem o nosso país, não essa verborreia, insana disposição de disparar ao vento, "palavras apenas palavras". No que isso contribuirá? 

E se buscarmos compreender que o exercício a que nos orienta Paulo, "no que depender de vocês mantenham paz com todos", pode nos auxiliar de modo mais efetivo a produzir conscientização acerca dos últimos acontecimentos e a partir disso, ações maduras e transformadoras?

E se buscarmos compreender que a perpetuação dos ambientes perturbadores que nos tem envolvido no cotidiano, são em muito, fruto da absorção de um modo de vida que não condiz com a pregação do Cristo -  que nos ensina a vida simples, só para citar um único exemplo, mas nós queremos a opulência, porque dizemos que isso é prosperidade e dela que precisamos. Daí, nos afastamos das pessoas, porque mais nos valem as coisas. Não percebemos que isso é uma chave de desconstrução das relações e multiplicam no nosso mundo todas as más coisas que detestamos e contra as quais falamos?

Porque essas reflexões, considero, podem me melhorar e a outras pessoas também, trago um ponto que será tema de conferência na próxima semana, em fórum com o Pr. Carlinhos Queiroz. O tema é o seguinte: "Sempre haverá pobre no mundo, mas haverá justos para que eles não passem fome?"

Acho que mais que a nossa "justiça" por aquilo que queríamos, vale para esses tempos, irmãos e irmãs, tentarmos compreender à luz do Evangelho e da Visão de Reino de Deus, o que é justiça e  se a temos praticado, ou desejado, ou buscado, porque a manifestação da justiça e dos seus frutos, é a vontade de Deus (Felizes as pessoas que têm fome e sede de fazer a vontade de Deus, pois ele as deixará completamente satisfeitas - Mateus, capítulo 5, verso 6). Vejam que coisas realizadora!

Penso que sem esse esforço, qualquer discurso é vazio e soa absolutamente incoerente.

Por isso, de modo algum me permito propor a que deixemos de questionar o sistema e os seus modos, muito ao contrário. A ordem do nosso Senhor é bem clara e objetiva: "Trabalhem para o bem da cidade para onde eu os mandei. Orem a mim, pedindo em favor dela, pois, se ela estiver bem, vocês também estarão." (Jeremias capítulo 22, verso 7).

A ordem é um grande desafio e nos exige muita energia. 
Que tal darmos a ela a atenção devida?

Paz!

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Democracia e representatividade: por que a anistia aos partidos políticos é um retrocesso

Tramita a passos largos na Câmara dos Deputados, e só não foi provado hoje (2/maio) porque teve pedido de vistas, a PEC que prevê anistia aos partidos políticos por propaganda abusiva e irregularidades na distribuição do fundo eleitoral para mulheres e negros. E na ânsia pelo perdão do não cumprimento da lei, abraçam-se direita e esquerda, conservadores e progressistas. No Brasil, ainda que mulheres sejam mais que 52% da população, a sub-representação feminina na política institucional é a regra. São apenas 77 deputadas entre os 513 parlamentares (cerca de 15%). E no Senado, as mulheres ocupam apenas 13 das 81 cadeiras, correspondendo a 16% de representação. Levantamentos realizados pela Gênero e Número dão conta que apenas 12,6% das cadeiras nos executivos estaduais são ocupadas por mulheres. E nas assembleias legislativas e distrital esse percentual é de 16,4%. Quando avançamos para o recorte de raça, embora tenhamos percentual de eleitos um pouco mais elevado no nível federal, a ime...

Narrativas. Vida. Caos. Desesperança.

  Quando eu era pastora repetia com muita frequência, aos membros da igreja, sobre a necessidade de submeterem o que ouviam de mim ao crivo do Evangelho, aprendi isso com o bispo Douglas e com o Paulo, o apóstolo rabugento (e por vezes preconceituoso), mas também zeloso com a missão cristã assumida. Outra coisa que eu repetia era que as pessoas só conseguiriam se desenvolver se exercitassem a capacidade de pensar. Nunca acreditei num Deus que aprecia obediência cega, seres incapazes de fazer perguntas. E cada vez mais falo a Deus que se ele não conseguir se relacionar com as minhas dúvidas, meus questionamentos, as tensões do meus dilemas e mesmo cada um dos incontáveis momentos em que duvido até dele, então ele não é Deus. Será apenas um pequeno fantasma das minhas invencionices mentais, portanto, irreal. E por que isso aqui da gaveta das minhas convicções e incertezas? Assim? A nossa História é basicamente um amontoado de narrativas. Ora elas nos embalam na noite escura e fria. O...

Reforma?

Daqui 11 dias celebraremos 505 anos da reforma protestante.  Naquele 31 de outubro de 1517 dava-se início ao movimento reformista, que dentre seus legados está a separação de Estado e Igreja. É legado da reforma também o ensino sobre o sacerdócio de todos os santos, na busca por resgatar alguns princípios basilares da fé cristã, que se tinham perdido na promíscua relação do poder religioso com o poder político. E, co mo basicamente todo movimento humano de ruptura, a reforma tem muitas motivações e violência de natureza variada. No fim, sim, a reforma tem sido muito positiva social, política, economicamente e nos conferiu uma necessária liberdade de culto.  Mas, nós cristãos protestantes/evangélicos, teremos o que celebrar dia 31?  Restará em nossas memórias algum registro dos legados da reforma? Quando a igreja coloca de lado seu papel de comunidade de fé, que acolhe e cura pessoas e passa a disputar o poder temporal, misturar-se à autoridade institucional da política, e...