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Mostrando postagens de março, 2020

O toque que cura

A noite foi ruim. Muito quebrada e cheia de medos. Esses invisíveis tão reais que nos habitam e às vezes nos querem, se deixarmos, adoecer. Tentei meditação. Tentei criar mundos imaginários. Nada funcionou, senão o cansaço a me apagar, com pausas e reticências madrugais.  Resolvi começar o dia com novos exercícios. Não abri notícias, de nenhuma natureza. O banho foi mais demorado, mais atencioso ao movimento das águas que me percorriam e o sentido de todas elas em mim - ao tempo em que tentava uma tal desconexão com o lá fora que, sabia, me gritava a um frenesi desnecessário e não cabido. Frente ao espelho percebi que precisava era ficar frente a mim mesma, em carne, pele, sentimentos, pensamentos - meus porquês e (des) razões. Falaram-me ao pé do ouvido, sutilmente, algumas questões. Foram tão amistosas que não pude silenciá-las. Por que estamos em constante batalha mental? Não poderíamos simplesmente desenvolver uma parceria saudável com a nossa própria mente? Por q

Bolsonaro é um abutre

Bolsonaro é um abutre, cuja alegria é devorar  em cadáveres. Ele escolhe a manhã de domingo de 29 de março para passear em Ceilândia e Taguatinga, a região de maior adensamento populacional do Distrito Federal, com um 1/4 dos habitantes do nosso território. É também a região que abriga dois hospitais públicos em estado de calamidade,  retrato de anos a fio sem investimento na infraestrutura hospitalar, sem fortalecimento do quadro de profissionais, sem ampliação da estrutura de  atendimento que permita às bases de saúde desafogar o sistema macro. E o que quer Bolsonaro com o seu passeio irresponsável? Nada além do exercício cotidiano da sua perversidade, nada além de gritar mais uma vez o seu pouco caso com os esforços da equipe ministerial de saúde,  nada além de esfregar na cara dos demais poderes públicos que zomba das suas pactuações republicanas - porque a única coisa que ele saboreia é o prato da morte, pesadamente temperado de perversidade e ao som do seu riso zombet

Quarentena. Dia 15.

Quarentena. Dia 15. Algumas pessoas desesperadas com o tédio. Possível. Tédio? {fastio  Dia 12 foi a última vez que pus a cara na rua para coisa outra que não comprar comida. Depois? Mercado. Lavar roupa na casa do amigo. Isolamento real. Dias sem sol. Dias de muitos agitos. Dias de muitas demandas. Pressão. Tensão. Alguns dias em que a solidão que gosto, incomodou - porque mais que estar só, em silêncio, havia muitos gritos na minha mente. Problemas. Angústias. Preocupações. E todas as assombrações da política do nosso país. Os picos de emoção ainda são basicamente conectados às coisas que a gente queria resolver e não pode. NÃO PODE MESMO. E se ver o que sempre foi - um ser pequeno que pode pouco, embora se ache muito, é frustrante. Não deveria frustrar, já que o tempo todo a gente lida com coisas, próprias ou de outras pessoas, acerca das quais pouco ou nada se pode fazer. Mas a gente frustra. O outro pico de emoção é com a mãe teimosa, que não

Música na madrugada

Que música embalará nossas madrugadas, enquanto não voltar a nos residir a expectativa do estar junto sob o guiar do sol? Que morada nos faremos nos tempos do abandono à sorte, que nos restou como pagamento às agressões que fizemos à vida? Que laços nos envolverão como decoração e adorno, ou estarão prisões? Lembraremos ao amanhecer, o toque, o cheiro, o calor? Sorrirão nossos olhos enquanto cerrados estão nossos lábios, ou fechados anunciarão apenas distância. Recordaremos nossa energia agregadora e conexão intensa ou restaremos frios? Que música embalará nossas manhãs quando a madrugada escura e silenciosa, sem passos sob as janelas, passar e e fizer outro era? Dançaremos outra vez ou desaprenderemos o fruir? Dançaremos novos balanços, livres e leves, expressões de uma alma que venceu a turbulência e reaprendeu ser? Ou retornaremos o baile do possuir apressado? E a cortina do tempo se abrirá em oportunidade? Ou fechada nos dirá adeus? Que música embalará nossa próxima madrugada?

Um abraço é uma entrega

Sempre fui uma pessoa muito severa, com o outro, mas profundamente comigo. Não admitia erros. Que tola! Em 2001 fui alçada a uma posição no trabalho, pelo qual respondia com relativa competência. Poucos meses, já 2002, e a chefia mudou. Sob uma crise financeira bem grande e no novo perfil de gestão eu não correspondia ao que se desejava e precisava de mim. Fui tirada da função de um modo muito triste. E foi o modo mesmo. Eu realmente não estava preparada. O baque na estima, que nunca foi lá essas coisas, foi bem pesado e sofri muito. Eu chorei copiosamente porque não admitia o fracasso de não ter correspondido à confiança depositada. Àquela altura eu estava fazendo um curso na área de gestão e administração. Coisas básicas. Uma das aulas foi sobre ABRAÇAR. Pense. ABRAÇAR. Era estranho. Imagina. Eu não conhecia aquelas pessoas, a não ser das aulas. A orientadora disse, lembro com uma clareza absurda: Ádila, você precisa sentir o coração da

Mais mulheres na política

Nós acreditamos que a qualidade da democracia está diretamente ligada à participação de mulheres na política. Por isso, o estatuto da REDE Sustentabilidade determina que pelo 30% da sua direção partidária contemple representação de gênero e que os seus cargos executivos devem priorizar paridade. Aqui no DF, todavia, nos impulsemos paridade, no sentido de termos uma prática democrática mais ampla, cada vez mais próxima da real necessária. O nosso Diretório (Elo Distrital) e a  nossa Comissão Executiva Distrital - que farão a gestão partidária até novembro 2021, e a Delegação escolhida para o Congresso Nacional em maio (2020) são 100% paritárias. Além disso, a nominata eleitoral da @rededf para 2022 será paritária e os recursos que tivermos para investimento nas candidaturas deverão ser igualmente divididos entre mulheres e homens. Fora outras medidas que já estão em curso, no campo da formação política e da promoção à visibilidade das nossas lideranças femininas.

As autoridades públicas e o desrespeito às assembleias populares

A hora e a vez da sociedade? Esta é, sem dúvida, a demanda mais crescente do século. Uma urgência que fala alto. Por vezes grita, mas não tanto quanto o respeito das chamadas autoridades públicas ao espaço, ao momento e à voz da sociedade. Elas tumutuam, esvaziam e, por fim silenciam a ágora, reduzem asassembléias populares a palcos de aplausos aos seus grandes feitos e para de suas vaidades. Resultado? Comunidades em desprezo à participação social. Justo. Posto que suas vozes são emudecidas pelo barulho da onipresença das autoridades. Aí,  se não há audição à minha voz por que devo estar? Por que devo fazer parte? Por que devo me por a construir o comum? E assim progride o desserviço da disfunção da representação política pela substituição tácita, apequenadora da ação cívica e do exercício livre da cidadania. É a cultura do endeusamento das autoridades,  que desconhecem ou não ligam para o fato de que a tal autoridade que eventualmente possuem não provém de si, mas da representar o po

Partidos não detém o monopólio da política

Dirigentes partidários, por favor, evoluam. Os partidos não detém o monopólio da política. Sim, sou uma dirigente partidária. E quanto mais mergulho no desafio de aprender a fazer política e de atuar no ambiente partidário, mais convicção tenho de que, ou os partidos se atualizam ou se farão ainda mais motivo da criminalização da política e da própria  descredibilização. Estou porta-voz na REDE-DF, junto com o amigo Donga até o final de 2021. Meu compromisso pessoal (e graças ao universo, compartilhado com o meu parceiro de coordenação geral da REDE-DF) é de radical transparência dos atos partidários e promoção real de participação. Democracia intrapartidária. É um desafio e tanto porque o sistema é viciado, porque as pessoas estão apegadas ao conchavo, à tomada de decisões na surdina, porque pensar simples ficou complexo. E ousam propor confundir isso com estratégia. Não. É controle irresponsável e manietador da cidadania. Ouvi de Shalon Silva, por diversas ocasiões, sobre