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Mostrando postagens de fevereiro, 2021

Quando os gritos silenciam o diálogo, o que sobra?

Diz o livro sagrado dos cristãos, que todos os dias o Eterno tinha um encontro marcado com a sua criação na viração do dia. E assim, sob o largo emblema do pôr-do-sol, dialogavam. Talvez tenha surgido aí a designação da hora feliz ou o saudável apreço que temos pelo lugar mais sagrado de uma casa: a cozinha, quando à mesa os corações se encontram e um ao outro se entregam às palavras que os conectam. À mesa desfrutamos dos sabores da partilha de refeições temperadas com amor, das bebidas que passam pelo refinamento alquímico do olho no olho honesto que não constrange. Mas à mesa também pode surgir o medo transgredindo a sacralidade da transparência relacional para convencê-la a tomar para si, por vestimenta honrosa, o adorno da culpa.  Foi assim naquela viração do dia, quando as criaturas encerraram o diálogo, se viram nuas e se vestiram de acusação. Aos gritos. Quando leio o relato bíblico, logo ali no terceiro capítulo do Gênesis, sou levada a pensar que o Eterno queria começar uma c

Dores anestesiam ou despertam

Dores profundas anestesiam da outra realidade que não aquela, da dor sentida no instante eterno de dores. Ou desperta uma força inimaginável para superação até mesmo dos doze desafios de Hércules, transformando sentidos, criando outra dinâmica existencial até então não experienciada. Quantas dores residem o Brasil nesta terça-feira de não carnaval jamais imaginada? As milhões de dores inquietas nos olhares das famílias e amigos das já quase 250 mil vidas ceifadas pela Covid. As milhões de dores em rasgos profundos nas almas das mais de 14,1 milhões de pessoas desempregadas, somados ao 5,8 milhões de desalentados. E na esteira dos 32,7 milhões dos descobertos que vagam na informalidade. As milhões de dores perfurantes de estômagos dos mais de 10 milhões de famintos que e esgueiram na selvagem existência de serem despossuídos. Como canta Paulo Nazareth, parece mesmo que a vida, ou o que dela sobra, "anda pela sarjeta, jogada pelo chão." O orçamento público da saúde e da educaçã