Quantas dores residem o Brasil nesta terça-feira de não carnaval jamais imaginada?
As milhões de dores inquietas nos olhares das famílias e amigos das já quase 250 mil vidas ceifadas pela Covid.
As milhões de dores em rasgos profundos nas almas das mais de 14,1 milhões de pessoas desempregadas, somados ao 5,8 milhões de desalentados. E na esteira dos 32,7 milhões dos descobertos que vagam na informalidade.
As milhões de dores perfurantes de estômagos dos mais de 10 milhões de famintos que e esgueiram na selvagem existência de serem despossuídos.
Como canta Paulo Nazareth, parece mesmo que a vida, ou o que dela sobra, "anda pela sarjeta, jogada pelo chão."
O orçamento público da saúde e da educação é dizimado sem pudor. A fatia de recursos para provisão à proteção e preservação dos nossos biomas, desaparece sem que os gestores públicos se constranjam sequer a se justificar. Ao mesmo tempo a mesma caneta dá cifras ao fomento do armamento populacional.
Saliva amarga. Corrói. É a deliberação livre e saltitante pela morte.
De fome, de doenças, à queima-roupa ou por envenenamento de alimentos e rios, assim acorrenta-se o Brasil às dores.
E arde em ira. Parece que o sol se pôs em repouso eterno sob a nossa ira e fez morada em nós.
Enquanto isso, nossos partidos políticos são incapazes de pensar um projeto de país. Eles apenas querem o poder sem se sentirem ao menos provocados a dizerem para quê.
Nomes, a todo instante, são macheteados, num burburinho eterno. E questionar isso é carimbar-se iludido-inocente-que-nada-sabe.
Os trotes frenéticos da irresponsabilidade político-partidária nacional são os mesmos que não apenas machucam, fazem lamacento de vaidade o solo do Distrito Federal.
A mesma inspiração mórbida que habita o Planalto reside o Buriti.
A mesma incapacidade para buscar e construir alternativas governamentais ao nosso país, através e a partir das responsabilidades político-partidárias, anda faceira e de mãos dadas aqui no Distrito Federal.
Disputa política baseada em vaidades e anseios pessoais e desprovida de qualquer aceno a olhar a Capital Federal e suas múltiplas realidades, necessidades e dores.
Não importam as gentes que escorrem pelos desfiladeiros do desemprego, da fome, das doenças, das misérias do não acesso à educação emancipadora.
Nada disso fala às mentes e corações das lideranças políticas do Distrito Federal.
Importa o nome de seus partidos chancelados ao poder, mesmo sem projeto. Poder pelo poder diz mais, diz mais alto e com mais eloquência. Poder para provar-se poder. Apenas.
Partidos não são seus dirigentes. Não deveriam ser.
Partidos são associações políticas de cidadãs e cidadãos que se devem prestar a pensar o país, seus entes federativos e prover - do encontro das comunidades livres de pensamento, do estudo das múltiplas realidades e necessidades, da análise das políticas públicas -, caminhos capazes de orientar os espaços de poder a serem ocupados por projetos que orientem os destinos do país para que se faça transformador, capaz de dar dinamismo e consistência à capacidade econômica do país para superação dos seus desafios e promovê-lo a mais justo, mais equilibrado.
Se dirigentes partidários nacionais e locais desprezam o valor de suas funções e só conseguem enxergar o lambuzar de poder vazio, talvez esteja na hora de aprenderem, demais agentes políticos e partidários, a subverter essa lógica para colocá-los na parede. Se não para focarem a realidade que as dores gritam e exigir delas projetos para o país e para a cidade, que virem decoração. Silenciosa, de preferência.
E pensar o país, o estado, a cidade, não pode poder ser exercício de apenas um partido. O poder é exercido no plural. Os projetos para fazê-lo serviço político à sociedade, portanto, pedem pensar e construir plural.
Ou apenas ficaremos anestesiados pelas dores?
Ou apenas ficaremos anestesiados pelas dores?
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