Tramita a passos largos na Câmara dos Deputados, e só não foi provado hoje (2/maio) porque teve pedido de vistas, a PEC que prevê anistia aos partidos políticos por propaganda abusiva e irregularidades na distribuição do fundo eleitoral para mulheres e negros. E na ânsia pelo perdão do não cumprimento da lei, abraçam-se direita e esquerda, conservadores e progressistas.
Levantamentos realizados pela Gênero e Número dão conta que apenas 12,6% das cadeiras nos executivos estaduais são ocupadas por mulheres. E nas assembleias legislativas e distrital esse percentual é de 16,4%.
Quando avançamos para o recorte de raça, embora tenhamos percentual de eleitos um pouco mais elevado no nível federal, a imediata constatação é que também não temos este segmento populacional representado nos espaços políticos brasileiros. Quanto aos indígenas, basta lembrar que foi só em 2018 que tivemos a segunda parlamentar dos povos originários eleita na história do Brasil. E a primeira mulher.
Esses dados dizem muito sobre a imensa tarefa dos partidos para promoção de maior e mais qualificada participação de mulheres na política. Eles gritam sobre a urgente necessidade de espaços institucionais da política e do Estado com a cara do Brasil e do seu povo. E eles mostram, de modo cristalino, o quanto o descumprimento da legislação pode ser prejudicial à democracia.
A aprovação da PEC da anistia desmoraliza os partidos, posto que esta concessão aumenta ainda mais a frágil credibilidade no papel dessas organizações políticas, vistos como entidades que não precisam respeitar as leis e as regras democráticas. Uma péssima pedagogia para tempos de ataques e desprezo à democracia.
Além disso, a anistia às cotas de gênero e raça pode agravar a desigualdade política, social e econômica, pela negação do valor da diversidade e da representatividade na construção democrática.
Não pode haver democracia sem ampla participação de mulheres na política, e sem casas executivas e legislativas diversas e plurais. Os partidos políticos têm responsabilidade direta e intransferível na democratização desses espaços institucionais. É fundamental, portanto, que os partidos assumam suas tarefas básicas e respeitem as leis e as regras para que a democracia seja fortalecida, e a representatividade e diversidade estejam garantidas.
Sem anistia para os partidos políticos.
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