Estarei lá, na rua ... porque problemas crônicos e questões complexas não são resolvidos assim, como se está querendo fazer, é preciso chamar a sociedade para o debate, é preciso olhar a fundo para tudo o que envolve a proposta e aquilo que está posto e não recebeu a atenção devida em 25 anos de ECA.
Não é 'reduz ou não reduz' simples assim por isso é preciso por fim a essa corrida de resolver problemas sociais sem integração da sociedade, sem pô-la no centro do debate.
Vamos avançar socialmente, minha gente!
Linda campanha uruguaia e mudança de opinião a partir de um novo olhar!
Somos capazes? Tentemos!
Emoticon wink
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A lição uruguaia e o nascimento da geração desarmada
Dois terços dos uruguaios eram a favor da redução da maioridade penal. Em outubro do ano passado, houve um referendo naquele país sobre o tema. 53% contra a redução, 47% a favor. O que aconteceu? Como as pessoas no Uruguai mudaram de ideia sobre esse tema? Debate. Argumentos foram expostos. Uma linda campanha de jovens, envolvendo igrejas, sindicatos e outros conseguiu reverter o clima de medo com argumentos sensatos. As pessoas se dispuseram a ouvir.
Mas, antes disso, alguém acreditou que era possível. Que era possível fazer uma política que olhasse para quem discorda de você. Que fazer política não é apenas gritar mais alto para seus próprios aliados, mas pode ser ver quem consegue envolver mais gente com suas ideias, suas propostas.
A campanha foi linda. Teve música, teve gente na rua, teve brilho nos olhos. Porque política se faz também com o coração. Mas teve debate. Números, comparações internacionais, propostas.
Os argumentos de quem queria reduzir a idade penal eram baseados no medo. E o medo é poderoso, persuasivo. Mas o jovens do movimento contra a redução (No a la Baja) enfrentaram o discurso do medo. Enfrentaram, em primeiro lugar, reconhecendo que era preciso falar além do seu círculo de aliados.
Construíram bem os argumentos. 1) Reduzir não soluciona: Os jovens de menos de 18 anos são uma porcentagem ínfima de quem comete os crimes. Vender essa ideia como panaceia para a violência é uma falsidade. 2) Reduzir é pior: medidas socio-educativas recuperam mais do que a prisão. Colocar esses jovens na prisão é entregá-los às universidades do crime, é fornecer mais mão de obra ao crime organizado. 3) Reduzir é errado: jovens presos são estigmatizados, marginalizados. Adolescentes estão ainda formando sua personalidade. Se alguém merece uma segunda chance na vida, esse alguém é um adolescente.
Mostraram que os países que reduziram a maioridade para 16 anos se arrependeram. 23 estados americanos, por exemplo, voltaram atrás e estão revendo a redução da maioridade.
Aqui vc pode ver um dos vídeos da campanha de láhttps://youtu.be/QqrBu4LfXvA
E eles ganharam. Os argumentos venceram o medo.
Eu sou contra a redução da maioridade penal. E se não fosse, teria sido convencido pelos uruguaios. Mas esse não é um texto sobre a redução. É um texto sobre o nascimento de uma nova política. De uma nova geração política.
A política na América Latina é, historicamente, uma política armada. Revoluções e ditaduras forjaram nossa vida política, nossos políticos.
Essa política armada contamina ainda hoje nossos debates. Contamina as práticas políticas. O plebiscito uruguaio pode ser um marco no nascimento da geração política desarmada em nosso continente. Uma geração – a primeira- formada na democracia. Uma geração que sabe ouvir e quer ser ouvida. E que sabe que ser desarmado não significa ter medo de lutar.
Esse vídeo, feito pela campanha No a la Baja quando eles ganharam o plebiscito, mostra que a semente começou a germinar:https://www.youtube.com/watch?v=zsDmrjJSY5Q .
Cabe a cada um de nós cultivar esse jardim.
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Pedro Abramovay, escreve quinzenalmente para o Quebrando o Tabu.
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