Até que me provem o contrário continuarei crendo e dizendo: é impossível comunhão na multidão. À multidão a gente se agrega e faz coro, dá novos tons e novas cores às vozes.
Comunhão mesmo é fruto do partir do pão, do olho no olho que perscruta a alma e decifra a anatomia dos pensamentos de quem convive, se desnuda sem temores dos julgamentos.
Comunhão é ombro para receber o peso do corpo cansado, é peito sobre o qual reclinar a cabeça confusa, é colo pra dar e receber carinho, são braços estendidos pra segurar o que cai e levantar o derrotado, são pés dispostos e disponíveis pra mais uma caminhada, ainda aquela do desgarrado.
Comunhão são as agruras do pensar junto, construir junto, acreditar junto, se transformar junto, chorar junto, sorrir junto e ajuntar os dilacerados pela vida pra fazer-se um novamente.
No mais, há expectação, mais uma voz em coro numa multidão em frenesi por existir em pequenos rompantes de ajuntamentos sectários.
Impossível comungar assim. Por isso, sigo a estrada do meu destino, procurando o olhar que me ilumine e me atraia a ficar junto, o abraço que encubra a multidão dos meus pecados, a mão que segure a minha, o braço forte que me levante do lugar comum em que caí.
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