Daqui 11 dias celebraremos 505 anos da reforma protestante.
Naquele 31 de outubro de 1517 dava-se início ao movimento reformista, que dentre seus legados está a separação de Estado e Igreja.
É legado da reforma também o ensino sobre o sacerdócio de todos os santos, na busca por resgatar alguns princípios basilares da fé cristã, que se tinham perdido na promíscua relação do poder religioso com o poder político. E, como basicamente todo movimento humano de ruptura, a reforma tem muitas motivações e violência de natureza variada.
No fim, sim, a reforma tem sido muito positiva social, política, economicamente e nos conferiu uma necessária liberdade de culto. Mas, nós cristãos protestantes/evangélicos, teremos o que celebrar dia 31? Restará em nossas memórias algum registro dos legados da reforma?
Quando a igreja coloca de lado seu papel de comunidade de fé, que acolhe e cura pessoas e passa a disputar o poder temporal, misturar-se à autoridade institucional da política, ela está automaticamente abdicando da sua autoridade espiritual, fazendo-se portanto, aquele sal que para nada mais serve a não ser para ser lançado fora, na porta da cidade, quando será pisoteado pelos homens.
É isso o que queremos?
No que tange à política, qual o papel da igreja?
Não seria orar pelas autoridades para que elas cumpram suas responsabilidades?
E quais?
A prática da justiça com o fim de promover a paz.
Isso significa, por exemplo: construção de oportunidades à prosperidade de todas e todos através da aplicação adequada dos recursos públicos.
É papel da igreja, por seus comunitários, denunciar a corrupção dos governos, por ação ou omissão.
É papel da igreja, por seus comunitários, anunciar o padrão do reino que se deseja norte à limitada existência humana na Terra, ou seja, um sistema social que oferte alimento ao faminto, água ao sedento, hospital ao doente, refúgio ao desterrado, acolhimento ao prisioneiro e que olhe as necessidades dos vulnerabilizados para prover e promover soluções a uma vida comum com mais equilíbrio entre todos.
É papel da igreja, por seus comunitários, não perder a consciência de que toda solução humana é corruptível e portanto, vigilância não é só exercício da espiritualidade individual, mas compromisso da coletiva existência social - quando um a outro não deixa cair e se cair, a mão que aponta caminho será estendida para o recomeçar necessário.
E o que temos testemunhado?
Pastores aos berros ameaçando comunitários de exclusão da mesa da comunhão em decorrência de voto. Nada mais antibíblico. Por quê?
É crime. Além disso, joga no lixo o livre arbítrio e subverte a autoridade espiritual da Igreja ao medíocre poder humano. Assim, portanto, se um pastor te exige voto em candidato a ou b e chama de apóstata quem não segue sua orientação, fique em paz, meu irmão, minha irmã, esse pastor há muito se despiu da autoridade do Cristo, que acaso algum dia ele recebeu. Ele é um apóstata.
O balizador da tua consciência não é o teu pastor. E nem o maniesto político-partidário. O balizador da tua consciência é Cristo e a sua mensagem.
Lembra do que o apóstolo Paulo disse à Igreja?
Submetam o que de mim ouvem e veem ao Espírito Santo. E que seja maldito aquele que ensinar outra coisa que não o Evangelho.
Eu tenho a minha fé e a minha prática. Tenho minha jornada individual e coletiva de desenvolvimento espiritual. Mas nesse momento quero fazer um convite a você, irmã e irmão, que está angustiado e temeroso sobre todo esse cenário que estamos vivendo:
Submeta o que o teu pastor tem dito e orientado ao Evangelho.
Você realmente acredita no divino Espírito Santo, tal qual diz sobre ser ele quem pode convencer? Então ore a Ele e peça orientação.
Não diz a Bíblia que Cristo ilumina o coração de todo homem?
Seja crente de verdade. Tome sua decisão e responsabilize-se por ela.
Na fé, e também na ação cívica, não existe terceirização de responsabilidades. Mesmo que te queiram dizer em contrário. É tua responsabilidade escolher o caminho. E a única régua que temos, praticantes da fé cristã, é se as nossas escolhas têm alinhamento com os princípios do Reino à promoção da justiça. Essa régua é para nós e não para impor ao outro. Essa régua diz respeito às nossas responsabilidades individuais, na nossa relação com o divino, e diz respeito ao mandamento do cuidado que o Divino nos deu como prática cotidiana a ser buscada e que não nos deveria deixar escolher caminhos e tomar decisões que produzam resultados apenas para o indivíduo.
O Divino é comum. Inspira esforços sociais que cuidem do comum e em que a submissão é por amor, no conjunto das relações humanas, de modo a produzir um viver saudável na sociedade. E isso nada tem a ver com submissão do poder espiritual ao temporal.
Desde tempos remotos foi dito que Deus é amor e que o verdadeiro amor lança fora o medo. Quando o divino se submete ao temporal ele se mediocriza e passa a atuar aterrorizando com o fim de manter aparência da autoridade perdida.
É assim que muitas igrejas estão hoje. E isso precisa ser denunciado e abolido da nossa prática. Precisamos retomar a caminhada do compromisso fundante da nossa fé.
Talvez o caminho esteja em nos colocarmos sempre em reforma para não nos fazermos abismo que chamando outro abismo promove a destruição que combatemos.
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