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Mostrando postagens de 2014

Eu prefiro a periferia.

Eu prefiro a periferia. Por lá não há nada, mas creia, nunca está vazia. Por lá, tira-se força extraordinária das dores para transformar a desgraça dos ais e turbulências do nada ter em reflexão, filosofia, arte e até poesia. Sim, frente à frenética hipocrisia das plumas e espaços brilhantes e frieza dos mármores congressionais, eu prefiro a periferia. Lá o Deus se faz gente, carne, sangue, vida efervescente, compadece-se do pequeno, feio, preto, pobre, bêbado, prostituta, cego, analfabeto, viciado e doente. Lá o Deus desce do céu e senta-se no chão ou à mesa - se houver, e se faz gente como a gente. Lá o Deus só tem uma regra, ela é simples e chama-se amor permanente. Eu prefiro a periferia Atropelada pela desumanidade Milagre! Humana se mantém na lama, no lixo, no esforço sôfrego da vida nos becos escuros, fedidos e sem saída, escadas de difícil acesso e subida. Talvez bem egoísta, eu prefira a periferia porque ela controla a minha própria in

A pergunta que ainda ecoa!

Era final de tarde, uma tarde daquelas em que a gente diz “uffa, é comer algo, tomar um banho, colocar os pés pra cima e relaxar”. Era. Mas, havia ali, muita gente. Gente cansada e faminta. Gente que não podia fazer nada por si. “Onde compr aremos comida para toda esta gente?”  A pergunta de mais de dois mil anos atrás venceu os limites da Galiléia e reverbera até nós, neste exato momento. Sabe o incrível? As mesmas respostas continuam sendo dadas e elas giram em torno da negativa de condições na resolução de problemas como a fome – que poderia aqui representar a privação de direitos. O Evangelho diz que o Cristo já sabia o que estava por fazer, mas colocou a questão para ver qual seria a resposta dada a ela por aqueles que se diziam seus discípulos. A questão continua e a expectativa do Cristo também.  Já agora, ele aguarda resposta da Igreja frente também à fome, mas não apenas de uma refeição no meio de uma peregrinação – a que alcança no Brasil ainda, em 3,4 milhões de pe

Escolhas

É assim, mais simples do que supomos, sem choro nem reza: cada escolha uma sentença. E nas escolhas ... Os caminhos podem ser de pedras e causar feridas, e pelas veredas bem tortuosas, ainda é possível que nos rasguemos em espinhos. Mas há flores e luzes e águas também, às vezes até corredeiras que por breves tempos levam pra longe da gente o suor da caminhada, as lágrimas da tensa estrada e nos lavam o corpo e renovam a alma, dão-nos pele limpa, esperança, novo e bom cheiro, nova energia. E ainda nos falam, as águas, para seguirmos com o alerta de se para trás olharmos que seja apenas para nos lembrarmos "do que foi bom". À beira dos caminhos há frutos danosos, venenosos que a fome nos precipita prová-los. Há o fruto, porém, da esperança, que corta o poder do veneno e alimenta ... a alma para que busque o pão para o corpo e seguimos. Há trevas nos caminhos e nelas apenas se percebem o uivos apavorantes e no terror da noite escura, às vezes, não há pr

#Versos: É preciso

É preciso calar a alma  E emudecer o coração É preciso enxugar a face E crer que existe outra razão É preciso ir além da fala E dar nova semente ao chão É preciso regar a terra E aprender a equilibrar a emoção É preciso renovar a mente todo dia Na esperança de não viver em vão

O Voo - Controle

Ah, esse nosso louco desejo por controle... Gastamos nossos dias num esforço sobre-humano por provar sermos capazes de controlar tudo ao nosso redor, tudo o que nos diz respeito e se possível, até o que não nos diz - diretamente - respeito. Mas, do alto de milhares e milhares de metros, no meio de uma turbulência em um voo, talvez seja uma das mais gritantes amostras de que esse tal controle não é compatível com as nossas capacidades. Inexiste, assim, para nós. Quem somos, afinal? O que de fato podemos fazer sobre os elementos que nos rodeiam e as forças do sistema em que estamos inseridos e do qual sequer temos noção de tamanho? Sabemos da sua imensidão, e talvez por isso, no desespero  da nossa incapacidade de medi-lo, impor-lhe regras e estabelecer-lhe controle, tentemos nos colocar no seu centro e defini-lo a partir de nós, nossos desejos, sonhos, necessidades, ambições, problemas, medos. E aí, se não temos controle, resta-nos "aproveitar" a visão estontean

Antes das nuvens, bits e bytes

Gente, bora combinar? Acesso à internet não é simplesmente poder entrar numa rede virtual de conexões. A internet não são apenas bits e bytes. Acesso à internet é acesso ao mundo, a um mundo de possibilidades, informações que podem se transformar em sólidas bases de conhecimento e qualificações diversas para que as pessoas sejam mais vivas e ativas na sociedade, tornando-a melhor e mais rica. A internet, mas que conexões virtuais é um mundo de pessoas em conexão e todas as vezes que as pessoas se conectam, o novo acontece e o mundo pode ser melhorado, porque embora existam as más conexões, os bem as sobrepuja. Por isso, é mais que urgente: internet ampla e irrestrita é um direito de todos e esta é uma discussão que precisa ser levada a sério. Só tomando um espectro bem pequeno: já pensou se a molecada da  Favela Santa Luzia , na Estrutural tivesse acesso à internet? Um novo mundo, um leque gigante de oportunidades se abriria para eles e eles, na potência criativa e

O privilégio comissiona grandes responsabilidades

O tempo é ligeiro. Hoje, mas que ontem. A tecnologia digital deixa-o ainda mais ligeiro. E parece que nunca vamos "dar conta" de acompanhar o girar do mundo. "Calma alma minha, calminha, você tem muito o que aprender". Só em 1808 começa a circular no Brasil o primeiro jornal por aqui publicado. A primeira transmissão de rádio? Só em 1922. Consegue imaginar? A Europa se trucidando, pra variar, na 1ª Guerra Mundial e na Terra Brasilis, guerra o quê? Não tô falando dos militares e das elites que estudavam na Europa. É do povo, que digo. O mundo "quebra" em 1929. Vem a 2ª Guerra Mundial e o mundo se esfarela de 1939 a 1945. No Brasil tá uma quizumba do criolo doido (pra variar) e em 1950 chega a televisão por aqui. Mas a bichinha só se torna a dona das nossas mentes no final dos anos 1970. É bom lembrar que em 1970 nós tínhamos 33,6% de analfabetos no Brasil, entre pessoas de 15 anos ou mais. Bom ... pra deixar as c

Serenidade para semear a paz

Em tempos de nervos à flor da pele, que nos levam a falar antes que a frase seja revista, estou procurando compreender alguns textos daquele livro que julgo sagrado, a Bíblia. E chamaria os meus irmãos e irmãs em Cristo a fazerem o mesmo. É bem saudável, viu? *As bem-aventuranças trazem o seguinte em Mateus capítulo 5, verso 9: "Felizes as pessoas que trabalham pela paz, pois Deus as tratará como seus filhos." Esse texto, então, me remete a Isaías capítulo 32, verso 17:  "A justiça trará paz e tranquilidade, trará segurança que durará para sempre." E por sua vez, me traz à memória Tiago capítulo 1, versos 19 e 20: "Lembrem disto, meus queridos irmãos: cada um esteja pronto para ouvir, mas demore para falar e ficar com raiva. Porque a raiva humana não produz o que Deus aprova." Tomo os textos acima como exortações bem certeiras à busca de alinhamento dos meus comportamentos e reações para que o Evangelho do Reino não seja apenas um

Umuntu ngumuntu nagabantu

Uma daquelas preciosidades que a gente recebe pela internet em razão das boas conexões que a vida nos permite fazer. Conexões que geram crescimento e melhoramento por exemplos, através dos ensinos, da amizade, dos puxões de orelha escancarados ou disfarçados. E aí, como recebi, compartilho: "Talvez este texto toque alguém, provoque alguém, faça algum pensamento eclodir. Achei que valia a pena compartilhar." ( Jane) ---- Um antropólogo estava estudando uma tribo na África, chamada Ubuntu. Quando terminou seu trabalho, teve que esperar pelo transporte que o levaria até o aeroporto de volta pra casa. Sobrava muito tempo, então, propôs uma brincadeira para as crianças, que achou ser inofensiva. Comprou uma porção de doces e guloseimas na cidade, botou tudo num cesto bem bonito com laço de fita e colocou tudo debaixo de uma árvore. Aí ele chamou as crianças e combinou que quando ele dissesse "já!", elas deveriam sair correndo até o cesto, e a que chegasse

A hora de revirar o lixo

Nem ao mais asséptico dos seres humanos (já que assepsia total nos é impossível possuir) é dado o privilégio de não ter que mais cedo ou mais tarde colocar a mão na lata do lixo para revirá-lo. E se precisássemos de pelo menos um motivo para aprovar essa necessidade, daria a razão de produzirmos lixo desde antes de nascermos e portanto, nem que seja apenas para nos certificarmos de que o descarte de algo foi realmente feito, não escaparemos dessa cina humana: mexer no lixo. O complicado disso tudo é que mexer no nosso lixo parece ser ainda mais complexo que no de outra pessoa. Mas, uma coisa é certa, na medida em que tomamos consciência da necessidade de revirarmos o nosso lixo, quanto mais adiamos a tarefa, mas complicada e perigosa ela poderá se tornar. O odor do apodrecimento de histórias e relações nos fazem embrulhar o estômago. Todos aqueles bichinhos gerados a partir do lixo, nos enojam e dão medo. E sim, de início, talvez, saiamos ilesos da tarefa. Mas, talvez sa

Sem acusação a ninguém, ok?

Sem acusação a ninguém, ok? Tanto que me incluo! Mas...eu vivo com essa pergunta (ou essas) ... Por que, My God, TEMOS tantos argumentos, tanta energia, tanto tempo disponível para nos opor à chamada "causa gay", usando como pano de fundo o malfadado PLC 122 (que TEM SIM, bizarrices) e NÃO TEMOS TEMPO, NEM argumentos, NEM energia e NENHUMA disposição, de qualquer natureza, para pensar a infância, os meninos e meninas em situação de abandono, largados nos orfanatos, viciados, violentados  nas ruas e dentro de casa, violentados nos seus direitos básicos e por aí, vai. Por que conseguimos rapidamente nos mobilizar quando a causa envolve esse assunto e ficamos a vida toda estáticos, sem mover um dedo diante das milhares de crianças submetidas ao trabalho escravos, à mendicância, subnutridas, fora da escola, sem educação de qualidade, sem assistência médica? Por que exigimos audiências com parlamentares, governadores e presidentes para lhes impor que não defenderão o

Só mais um tijolo?

É bem verdade a pergunta do artigo de Luciana Maria Allan - diretora do Instituto Crescer para a Cidadania à Revista INFO, "por que tenho que aprender isso?" Quem nunca, né?   Até hoje não sei, por que, meu Deus, a tabela periódica? O fato é que para mim, teria sido bem mais útil, mais horas de aulas de língua portuguesa, de artes cênicas (não, não tenho nenhum talento na área, as poucas aulas que tive "só" me ensinaram sobre expressão corporal), de história e geografia, de filosofia e as de literatura - no "formato" de um único ano em que o professor não nos obrigava a decorar se o escritor x era do período romântico ou do realismo e os cambal, mas nos ajudava a olhar a partir do que líamos, o mundo à época de cada texto e o contexto em volta. Isso sim, era o máximo e isso sim, até hoje é útil - quando lembro de usar. Por incrível que pareça, tirando o ensino médio que foi muito legal (por causa das amizades que sobrevivem até hoje,

Me digam, por favor, se forem capazes?

Não interessa se o cara (ou a cara) está envolvido está a tampa em processos de corrupção (ativa e passiva), se está comprometido(a) com grupos de interesses contrários ao público, se o resultado prático e efetivo das suas ações tenha impacto contra os que mais sofrem e que mais necessitam de políticas de Estado com vistas ao seu empoderamento. Não, nada disso tem a menor importância, desde que o terreno, o telhado ou o dinheiro para a festa da minha congregação esteja assegurado, desde que o meu emprego esteja garantido por mais um período. Que droga de mundo cristão é esse, me digam por favor, se forem capazes? Estou cansada desse discurso de defesa da família e do "reino", cujo escopo é única e exclusivamente um pacote de regras morais. Estou cansada  desse discurso de defesa dos interesses cristãos. Que doidos? Acaso é interesse do Cristo o teto, o terreno ou a festa de congregação "a", "b", "x" ou "z"? Pelo que m

A restauração da criação

No nosso submundo evangélico (e não em contexto de desprezo, mas falando de conjunto de um todo maior), é muito comum a menção à restauração. Em tempos de Teologia da Prosperidade, então, tudo se resume à "restauração da sua vida financeira para que Deus seja visto e honrado no que você tem". Bom, nem vou continuar nesse viés porque não é o objetivo por agora. O fato é que muito facilmente podemos identificar a necessidade e mais, nos prontificar - quase instantaneamente - a pensar e buscar a restauração física, mental, etc. Mas, e que olhar temos conseguido devotar à necessidade de pensarmos com muita urgência, dentro das nossas comunidades de fé, a restauração da criação? Nós, evangélicos, somos muito rápidos em apontar o dedo, acusar, condenar. Somos a réplica comportamental perfeita daqueles brothers da Sinagoga, nos tempos de Jesus, os fariseus. E na mesma medida com julgamos e condenamos as pessoas, temos nos tornado condenáveis desde muito tempo, via o nosso irr

É baixo. É sujo. É nojento.

Gosto muito de uma citação que diz: "um texto fora do contexto é somente um pretexto". O contexto dessa citação, quando a ouvia, era sempre o utilizar de trechos bíblicos sem compreensão do tempo histórico, geográfico e muitos outros elementos importantes, que sendo postos de lado dão outro significado ao texto lido, transformando-os em justificativas para as mais terríveis interpretações, pretextos ao bel prazer de quem domina o texto para manipular os incautos. Em tempos de eleições, não sei porque razão, a gente (a gente eu, né) fica guardando aquela expectativa de que o processo seja inteligente, contextualizado, valorizando proposta e portanto, educativo, pela promoção civilizatória do povo. Mas, como se diz na internet, logo você é obrigado a usar o  ‪#SQN  (só que não). Isso é tão triste. É tão triste que os programas de TV, rádio, o panfletário e a internet sejam palco quase exclusivo, apenas de processos e procedimentos difamatórios e que isso seja capita

Colaboração, a força do inusitado e imponderável

Nunca, em tempo algum, um processo de transformação social ou uma revolução aconteceram sob uma única força gigante. Essas coisas nascem de loucos distribuídos e inspirando pequenos grupos próximos ou nem tanto assim ( grupos que por vezes sequer sabe m da existência um do outro), até que o inusitado das conexões acontece e os pequenos se fazem reconhecidos no resultado de um grande impacto social, histórico e por aí vai. A era digital, inegável na sua força, poder e significado, está nos permitindo - sob a dinâmica de um clique, o deslizar de uma tela a outra - a possibilidade de acesso ao mundo, em toda a sua complexidade e espetáculo - do horrendo à mais singela humanidade. A Revista Harvard Business Review (Brasil) em sua edição de setembro (2014) traz um artigo muito bacana. Sob o título de 'Compartilhar não é só para startups', Rachel Botsman da Collaborative Lab e coautora de 'What's Mine Is Yours: The Rise of Collaborative Consumption', discorre sobre c