É bem verdade a pergunta do artigo de Luciana Maria Allan - diretora do Instituto Crescer para a Cidadania à Revista INFO, "por que tenho que aprender isso?"
Quem nunca, né?
Até hoje não sei, por que, meu Deus, a tabela periódica?
O fato é que para mim, teria sido bem mais útil, mais horas de aulas de língua portuguesa, de artes cênicas (não, não tenho nenhum talento na área, as poucas aulas que tive "só" me ensinaram sobre expressão corporal), de história e geografia, de filosofia e as de literatura - no "formato" de um único ano em que o professor não nos obrigava a decorar se o escritor x era do período romântico ou do realismo e os cambal, mas nos ajudava a olhar a partir do que líamos, o mundo à época de cada texto e o contexto em volta. Isso sim, era o máximo e isso sim, até hoje é útil - quando lembro de usar.
Por incrível que pareça, tirando o ensino médio que foi muito legal (por causa das amizades que sobrevivem até hoje, quase 20 anos depois, e de duas professoras que marcaram a minha vida de modo bem especial), a minha experiência mais interessante de escola, foi justamente a "mais precária", na 4ª série, em que na mesma turma estavam misturadas três séries e uma única professora para o grupo de uns 20 alunos. A escola era assim não porque tinha pretensões de lançar novas tendências, mas porque ou era assim ou não estudávamos...enfim.
O fato é que naquele "caos" nós íamos pra casa com uma demanda e no dia seguinte todos colaboravam com o aprendizado de todos e a professora apenas nos orientava e tirava dúvidas.
Mas aí, a escola padrão tem outro escopo: o professor sabe tudo, a aluno apenas tem que decorar fórmulas, datas e um monte de porcarias para passar na porcaria do vestibular, de uma porcaria de faculdade que não tem nada a ver com a vocação dele, para ir para uma porcaria de mercado de trabalho em que ele, igual ao que sempre fez, desde a primeira infância, não pensa, apenas reproduz a porcaria do que é ordenado fazer.
Isso é uma droga e há quem pague bem caro para que os filhos tenham um acesso privilegiado a isso.
"A palavra escola tem origem no grego scholé, que significa , curiosamente, lugar do ócio. Fundada por filósofos na Grécia, as escolas eram espaços para ocupar o tempo livre e REFLETIR, geralmente enfatizando uma área específica do conhecimento. Os alunos estudavam informalmente, sem que fossem separados por séries e em salas de aula, e as disciplinas eram ensinadas por um modelo pedagógico de QUESTIONAMENTOS." (Luciana Maria Allan)
Isso: reflexão e questionamentos.
O problema todo é termos nos transformado em meros repetidores, reprodutores, robôs para cumprir tarefas e fazer a roda do mercado girar.
Só acho que precisamos resgatar isso: estímulo à reflexão e ao questionamento de toda sorte e natureza, aquela tagarelice infantil e inocente dos pequenos, que nós tratamos de calar o mais breve possível colocando cada vez mais cedo as nossas crianças nas jaulas proibidoras da dúvida para que mais cedo e mais velozmente se tornem elementos úteis na engrenagem dessa vida chata de cumprir ordens e repetir que o mundo é assim mesmo.
O bom é que a era digital realmente é revolucionária e a tecnologia já está forçando a sociedade a romper esse ciclo de encarceramento com perspectiva a estimular a busca por uma escola diferente, que ao invés de encarcerar as mentes age como elemento a estimulá-las a voar a partir das perguntas, das dúvidas, da criticidade, da apreciação à vida e os seus movimentos, a não dar mão aquilo que definimos como "tem que ser assim porque o mundo é assim".
Não, senhores, o mundo não é assim. O mundo é aquilo que nos pomos a fazer dele e com ele, e há uma geração querendo fazer um mundo diferente deste que lemos nos livros formatadores de mentes reprodutivas e do que vemos na TV.
"As escolas que têm a coragem de quebrar as fronteiras das salas de aula e que respeitam a individualidade de seus alunos podem preencher esse gap (de pessoas despreparadas). As que resistem continuam formando só mais um tijolo na parede". (Luciana Maria Allan)
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