Eu prefiro a periferia.
Por lá não há nada, mas creia, nunca está vazia.
Por lá, tira-se força extraordinária das dores para transformar a desgraça dos ais e turbulências do nada ter em reflexão, filosofia, arte e até poesia.
Sim, frente à frenética hipocrisia das plumas e espaços brilhantes
e frieza dos mármores congressionais, eu prefiro a periferia.
Lá o Deus se faz gente, carne, sangue, vida efervescente, compadece-se do pequeno, feio, preto, pobre, bêbado, prostituta, cego, analfabeto, viciado e doente.
Lá o Deus desce do céu e senta-se no chão ou à mesa - se houver, e se faz gente como a gente.
Lá o Deus só tem uma regra, ela é simples e chama-se amor permanente.
Eu prefiro a periferia
Atropelada pela desumanidade
Milagre! Humana se mantém na lama, no lixo, no esforço sôfrego da vida nos becos escuros, fedidos e sem saída, escadas de difícil acesso e subida.
Talvez bem egoísta, eu prefira a periferia porque ela controla a minha própria insanidade e me resgata todo dia, a humanidade.
Eu prefiro a periferia
Do corpo marcado, renegado, maltratado, de lado deixado pra o tempo vencer na estratégia de apenas esquecer. E que consegue ainda assim, sobreviver à consciência do valor de ser mesmo sem ter.
Eu prefiro a periferia.
Que ressurge na alma que sofre os pesos das marcas, mas luta e se refaz todo dia e não se permite perder como a água que no ralo escorre. Ali ainda há garra que sofre, mas não morre.
Eu prefiro a periferia.
Onde há esperança em flor comunitária todo dia.
Onde do nada brota um riso que quebra a melancolia.
Onde o espelho mostra a cara sem fantasia.
Onde o Cristo nasceu para nos dar alegria.
E ali se mostra nos gestos pequenos, maiores que a nossa mais pujante alegoria
Para que percebamos que a cruz está vazia.
Eu prefiro, sim e apesar dos seus nadas como nada eu sou, a periferia.
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