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Si.lêncio

Houve um tempo de silêncio significativo dos motores, dos passos na rua, das vozes que insistem em gritar aleatoriamente sem compromisso de algo dizer. E aqui dentro éramos convidados a um olhar interior com menos distração, ao exercício de perceber ao redor, à busca de alguns detalhes ou à simples entrega a pequenos momentos de nada. Enquanto se assevera a nossa crise e aumentam as pilhas dos nossos mortos e o silêncio nos deveria comunicar transformações na lógica de existirmos social e economicamente e nas ações relacionais o que é há rompimento. Não da lógica a que nos acostumamos. Mas do silêncio que deveria estar sendo uma chave mental neste momento. Lá fora os motores voltaram a uivar assustadoramente. E, como se dia normal fosse, os passos acelerados e as vozes nas ruas dizem que a reflexão deu rapidamente lugar à potência do tangedouro do político chefe do nosso país, que insiste na política da morte como cultura a sacramentar no Brasil. O silêncio interior c

Neste dia 18 da REDE 18

Já diz, desde muito tempo,  Marina Silva  que "o sonho é a matéria-prima mais concreta da política." Política, essa ferramenta de serviço usurpada aos abusos institucionais de ações não republicanas, à distorção de sentido e valor, à criminalização de missão. Mas é, também e antes, não esqueçamos, o elo que nos conectou ao sonho de um novo jeito de caminhar, rumo a uma construção político-partidária que, embora sabidamente longe do pleno desejado, nos aponta concretamente uma utopia de bases possíveis, dentre tantas razões, por considerar o coletivo e colaborativo pensar e fazer, ponto de partida essencial. E assim, sonhamos. Diz também, desde muito tempo, a mesma Marina Silva, "eu não tenho uma causa, é a causa que me tem." E eis que o sonho, matéria-prima mais concreta da política, encontra aqui seu maior valor: o serviço às causas, em contra-ponto a qualquer tentativa de servirmo-nos delas. É refletindo sobre estas frases e a potência do signif

O que virá depois?

Talvez a maioria de nós esteja passando por altos e baixos emocionais. Ainda que eu esteja sob um teto, tenha minha casa abastecida e possua meu trabalho e salários assegurados - até o momento -, e cuja ameaça está vinculada à arrecadação do Estado e sua afetação - que sei, chegará, em algum momento, eu estou. Não tem como não está. Não é? Então, fico aqui pensando sobre que legado o que estamos vivendo nos deixará. O que virá no dia depois do amanhã, este incerto desejado? - A sanha competitiva ainda será nossa fiel companheira, outra vez? - As relações de trabalho baseadas na exploração e lucro a qualquer custo ainda nos guiarão as escolhas? - Que compreensão de valor ao trabalho - Estado, empresários e empregados - teremos? - Que valores revisitaremos com o compromisso de tomá-los por base de uma nova dinâmica de vida? Revisitaremos? - A necessidade de estarmos juntos, tão exposta em nossas palavras hoje, é fruto de um despertar de consciência coletiva e vida devotada

SEM PARTILHA DO PÃO NÃO HÁ RESSURREIÇÃO

Os evangelhos trazem uma história, pós crucificação e ressurreição, cheia de significado. Os discípulos no caminho de Emaús. A cidade distava de Jerusalém cerca de 10 km. Um estranho se aproxima e longa conversa se dá pelo caminho. A grande surpresa: acaso você é o único que não sabe dos acontecimentos dos últimos dias? Era eloquente, aquele estranho. E discorria com muita graça e sabedoria sobre as profecias.  Continuava, todavia, um estranho de boa conversa. Chegam ao destino e, sendo noite, os discípulos o convidam para entrar e participar da refeição. À mesa, o estranho de boa conversa ora e, agradecendo reparte o pão. Um milagre acontece. Os olhos de todos se abrem. Os corações aceleram. Eles o reconhecem. É O CRISTO. ELE VIVE. Não há mensagem mais poderosa que a partilha. É a partilha que semeia em nós a esperança. É a partilha que nos renova sonhos e vida. É a partilha que nos faz humanos. É a partilha que nos resgata dos nossos mais terríveis medos. É a partilha que

[v.2020 - APENAS AMEM]

Ele estava muito cansado, física e emocionalmente. Os últimos dias, especialmente desde a sua chegada aos arredores de Jerusalém, não estavam nada fáceis.  Não bastasse a dor de ver o sofrimento do povo, a exploração da fé de todos ali, a inabilidade dos discípulos em lidar com a miséria e a violência, ainda lhe pesavam as próprias dores - da responsabilidade,  da missão, do que estava por vir, da solidão. E  como doía a solidão. Então ele resolveu abraçá-la, já que nada poderia fazer contra ela. E procurou um jardim, que embora sombrio aquela noite, denso e absolutamente pesado - talvez por antever o que logo aconteceria ali, era um jardim. Ele tremia e não era de frio. Talvez nem frio cobrisse aquelas regiões por aqueles dias. Ele estava gelado e sozinho. Ainda que três dos que o acompanhavam fazia três anos, estivessem por ali,  mas distantes, essa era verdade, Ele estava sozinho. As trevas dominaram violentamente aquela noite enquanto Ele gemia. Sozinho.

O toque que cura

A noite foi ruim. Muito quebrada e cheia de medos. Esses invisíveis tão reais que nos habitam e às vezes nos querem, se deixarmos, adoecer. Tentei meditação. Tentei criar mundos imaginários. Nada funcionou, senão o cansaço a me apagar, com pausas e reticências madrugais.  Resolvi começar o dia com novos exercícios. Não abri notícias, de nenhuma natureza. O banho foi mais demorado, mais atencioso ao movimento das águas que me percorriam e o sentido de todas elas em mim - ao tempo em que tentava uma tal desconexão com o lá fora que, sabia, me gritava a um frenesi desnecessário e não cabido. Frente ao espelho percebi que precisava era ficar frente a mim mesma, em carne, pele, sentimentos, pensamentos - meus porquês e (des) razões. Falaram-me ao pé do ouvido, sutilmente, algumas questões. Foram tão amistosas que não pude silenciá-las. Por que estamos em constante batalha mental? Não poderíamos simplesmente desenvolver uma parceria saudável com a nossa própria mente? Por q

Bolsonaro é um abutre

Bolsonaro é um abutre, cuja alegria é devorar  em cadáveres. Ele escolhe a manhã de domingo de 29 de março para passear em Ceilândia e Taguatinga, a região de maior adensamento populacional do Distrito Federal, com um 1/4 dos habitantes do nosso território. É também a região que abriga dois hospitais públicos em estado de calamidade,  retrato de anos a fio sem investimento na infraestrutura hospitalar, sem fortalecimento do quadro de profissionais, sem ampliação da estrutura de  atendimento que permita às bases de saúde desafogar o sistema macro. E o que quer Bolsonaro com o seu passeio irresponsável? Nada além do exercício cotidiano da sua perversidade, nada além de gritar mais uma vez o seu pouco caso com os esforços da equipe ministerial de saúde,  nada além de esfregar na cara dos demais poderes públicos que zomba das suas pactuações republicanas - porque a única coisa que ele saboreia é o prato da morte, pesadamente temperado de perversidade e ao som do seu riso zombet