Talvez a maioria de nós esteja passando por altos e baixos emocionais. Ainda que eu esteja sob um teto, tenha minha casa abastecida e possua meu trabalho e salários assegurados - até o momento -, e cuja ameaça está vinculada à arrecadação do Estado e sua afetação - que sei, chegará, em algum momento, eu estou. Não tem como não está. Não é?
Então, fico aqui pensando sobre que legado o que estamos vivendo nos deixará. O que virá no dia depois do amanhã, este incerto desejado?
- A sanha competitiva ainda será nossa fiel companheira, outra vez?
- As relações de trabalho baseadas na exploração e lucro a qualquer custo ainda nos guiarão as escolhas?
- Que compreensão de valor ao trabalho - Estado, empresários e empregados - teremos?
- Que valores revisitaremos com o compromisso de tomá-los por base de uma nova dinâmica de vida? Revisitaremos?
- A necessidade de estarmos juntos, tão exposta em nossas palavras hoje, é fruto de um despertar de consciência coletiva e vida devotada ao resgate da comunidade ou apenas demanda do sentirmo-nos livres para a remontar o pleno individualismo de escolhas e vivências que valorizamos sob o codinome privacidade e liberdade não tem preço?
- Será que nos permitiremos pensar sobre o sentido de que talvez a existência seja para o serviço - em que as nossas conexões, múltiplas, são para que sirvamos ao outro a partir do que somos e ele a nós e assim, sejamos supridos, nutridos e continuemos, ou a percepção de ilha- vida isolada em si mesma permanecerá o leme do nosso navegar no mar revolto da passagem terrena?
- Quanto nos desafiaremos a pensar sobre a integração dos sistemas sociais numa malha só - que não deixa ninguém ileso - em condições de stress e trauma tão profundos quanto os que estamos vivendo?
- Que sentimentos nortearão as nossas expectativas de cada dia, hoje, enquanto a nuvem escura nos recobre os pensamentos e os dias, e amanhã - quando ansiosamente aguardamos a sua partida?
- Que palavras habitarão nossos lábios neste outro tempo desejado? Consideramos a potência de vida ou morte que elas possuem ou continuaremos a ignorar os seus significados e capacidade de alcance?
- Que atitudes abraçarão nosso cotidiano na dinâmica indissociável do sentir, falar, fazer?
- Ou será que apenas estamos ansiando desesperadamente o dia de podermos abrir as nossas portas e corrermos às ruas para voltarmos ao que sempre sentimos, falamos, fizemos e, portanto, formos?
O que virá? Que legados de carga e consciência humanitária isso tudo nos trará?
Há dias que me atrevo alimentar a esperança de que, não é possível que isso não nos motive à transformação? Não é possível que eu, tendo a graça da travessia desse momento, saia igual.
Noutro tempo me vejo apenas tristemente admitindo que a força do nosso egoísmo é tão grande, que os sistemas que nos governam são tão brutos - que nos provocam fissuras humanas tão profundas e nos tornam irreconciliáveis no sentido da vida comum idealizada.
Os dilemas da nossa existência nunca deixarão de habitar nossos ombros. É a sentença desse viver, talvez. E só. Talvez.
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