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O que virá depois?

Talvez a maioria de nós esteja passando por altos e baixos emocionais. Ainda que eu esteja sob um teto, tenha minha casa abastecida e possua meu trabalho e salários assegurados - até o momento -, e cuja ameaça está vinculada à arrecadação do Estado e sua afetação - que sei, chegará, em algum momento, eu estou. Não tem como não está. Não é? Então, fico aqui pensando sobre que legado o que estamos vivendo nos deixará. O que virá no dia depois do amanhã, este incerto desejado? - A sanha competitiva ainda será nossa fiel companheira, outra vez? - As relações de trabalho baseadas na exploração e lucro a qualquer custo ainda nos guiarão as escolhas? - Que compreensão de valor ao trabalho - Estado, empresários e empregados - teremos? - Que valores revisitaremos com o compromisso de tomá-los por base de uma nova dinâmica de vida? Revisitaremos? - A necessidade de estarmos juntos, tão exposta em nossas palavras hoje, é fruto de um despertar de consciência coletiva e vida devotada

SEM PARTILHA DO PÃO NÃO HÁ RESSURREIÇÃO

Os evangelhos trazem uma história, pós crucificação e ressurreição, cheia de significado. Os discípulos no caminho de Emaús. A cidade distava de Jerusalém cerca de 10 km. Um estranho se aproxima e longa conversa se dá pelo caminho. A grande surpresa: acaso você é o único que não sabe dos acontecimentos dos últimos dias? Era eloquente, aquele estranho. E discorria com muita graça e sabedoria sobre as profecias.  Continuava, todavia, um estranho de boa conversa. Chegam ao destino e, sendo noite, os discípulos o convidam para entrar e participar da refeição. À mesa, o estranho de boa conversa ora e, agradecendo reparte o pão. Um milagre acontece. Os olhos de todos se abrem. Os corações aceleram. Eles o reconhecem. É O CRISTO. ELE VIVE. Não há mensagem mais poderosa que a partilha. É a partilha que semeia em nós a esperança. É a partilha que nos renova sonhos e vida. É a partilha que nos faz humanos. É a partilha que nos resgata dos nossos mais terríveis medos. É a partilha que

[v.2020 - APENAS AMEM]

Ele estava muito cansado, física e emocionalmente. Os últimos dias, especialmente desde a sua chegada aos arredores de Jerusalém, não estavam nada fáceis.  Não bastasse a dor de ver o sofrimento do povo, a exploração da fé de todos ali, a inabilidade dos discípulos em lidar com a miséria e a violência, ainda lhe pesavam as próprias dores - da responsabilidade,  da missão, do que estava por vir, da solidão. E  como doía a solidão. Então ele resolveu abraçá-la, já que nada poderia fazer contra ela. E procurou um jardim, que embora sombrio aquela noite, denso e absolutamente pesado - talvez por antever o que logo aconteceria ali, era um jardim. Ele tremia e não era de frio. Talvez nem frio cobrisse aquelas regiões por aqueles dias. Ele estava gelado e sozinho. Ainda que três dos que o acompanhavam fazia três anos, estivessem por ali,  mas distantes, essa era verdade, Ele estava sozinho. As trevas dominaram violentamente aquela noite enquanto Ele gemia. Sozinho.

O toque que cura

A noite foi ruim. Muito quebrada e cheia de medos. Esses invisíveis tão reais que nos habitam e às vezes nos querem, se deixarmos, adoecer. Tentei meditação. Tentei criar mundos imaginários. Nada funcionou, senão o cansaço a me apagar, com pausas e reticências madrugais.  Resolvi começar o dia com novos exercícios. Não abri notícias, de nenhuma natureza. O banho foi mais demorado, mais atencioso ao movimento das águas que me percorriam e o sentido de todas elas em mim - ao tempo em que tentava uma tal desconexão com o lá fora que, sabia, me gritava a um frenesi desnecessário e não cabido. Frente ao espelho percebi que precisava era ficar frente a mim mesma, em carne, pele, sentimentos, pensamentos - meus porquês e (des) razões. Falaram-me ao pé do ouvido, sutilmente, algumas questões. Foram tão amistosas que não pude silenciá-las. Por que estamos em constante batalha mental? Não poderíamos simplesmente desenvolver uma parceria saudável com a nossa própria mente? Por q

Bolsonaro é um abutre

Bolsonaro é um abutre, cuja alegria é devorar  em cadáveres. Ele escolhe a manhã de domingo de 29 de março para passear em Ceilândia e Taguatinga, a região de maior adensamento populacional do Distrito Federal, com um 1/4 dos habitantes do nosso território. É também a região que abriga dois hospitais públicos em estado de calamidade,  retrato de anos a fio sem investimento na infraestrutura hospitalar, sem fortalecimento do quadro de profissionais, sem ampliação da estrutura de  atendimento que permita às bases de saúde desafogar o sistema macro. E o que quer Bolsonaro com o seu passeio irresponsável? Nada além do exercício cotidiano da sua perversidade, nada além de gritar mais uma vez o seu pouco caso com os esforços da equipe ministerial de saúde,  nada além de esfregar na cara dos demais poderes públicos que zomba das suas pactuações republicanas - porque a única coisa que ele saboreia é o prato da morte, pesadamente temperado de perversidade e ao som do seu riso zombet

Quarentena. Dia 15.

Quarentena. Dia 15. Algumas pessoas desesperadas com o tédio. Possível. Tédio? {fastio  Dia 12 foi a última vez que pus a cara na rua para coisa outra que não comprar comida. Depois? Mercado. Lavar roupa na casa do amigo. Isolamento real. Dias sem sol. Dias de muitos agitos. Dias de muitas demandas. Pressão. Tensão. Alguns dias em que a solidão que gosto, incomodou - porque mais que estar só, em silêncio, havia muitos gritos na minha mente. Problemas. Angústias. Preocupações. E todas as assombrações da política do nosso país. Os picos de emoção ainda são basicamente conectados às coisas que a gente queria resolver e não pode. NÃO PODE MESMO. E se ver o que sempre foi - um ser pequeno que pode pouco, embora se ache muito, é frustrante. Não deveria frustrar, já que o tempo todo a gente lida com coisas, próprias ou de outras pessoas, acerca das quais pouco ou nada se pode fazer. Mas a gente frustra. O outro pico de emoção é com a mãe teimosa, que não

Música na madrugada

Que música embalará nossas madrugadas, enquanto não voltar a nos residir a expectativa do estar junto sob o guiar do sol? Que morada nos faremos nos tempos do abandono à sorte, que nos restou como pagamento às agressões que fizemos à vida? Que laços nos envolverão como decoração e adorno, ou estarão prisões? Lembraremos ao amanhecer, o toque, o cheiro, o calor? Sorrirão nossos olhos enquanto cerrados estão nossos lábios, ou fechados anunciarão apenas distância. Recordaremos nossa energia agregadora e conexão intensa ou restaremos frios? Que música embalará nossas manhãs quando a madrugada escura e silenciosa, sem passos sob as janelas, passar e e fizer outro era? Dançaremos outra vez ou desaprenderemos o fruir? Dançaremos novos balanços, livres e leves, expressões de uma alma que venceu a turbulência e reaprendeu ser? Ou retornaremos o baile do possuir apressado? E a cortina do tempo se abrirá em oportunidade? Ou fechada nos dirá adeus? Que música embalará nossa próxima madrugada?