Pular para o conteúdo principal

Postagens

Escuta. Alegrias e Dores. Direitos Humanos no cotidiano.

Quando a gente separa um tempo para escutar as pessoas o tempo seguinte pode ser o abraço da despedida ou do acolhimento às alegrias e dores compartilhadas. Tenho feito o exercício intensional do acolhimento porque quero minhas palavras e ações cada vez mais próximas, de mãos dadas. Muitas foram as dores que compartilhei nas últimas semanas. Muitas foram as dores que acolhi e, parte significativa delas se conectou ao meu senso de justiça, me deixando  triste, provocando revoltas, estimulando reflexões às quais estou procurando amparo, luz e compreensão sobre o que vem a significar. Estou lendo mais uma vez, 'A construção do público: cidadania, democracia e participação', de Bernardo Toro. Revistar essas páginas me ajuda muito nesses momentos de pensar coisas que me são muito caras. A cada nova leitura um acúmulo da experiência anterior e o que, no curso do cotidiano experiencio. A percepção inicial - da qual outras se desdobram - é a cobrança da existência no que tocamos e no

Cuidar da criação, nossa primeira missão

A mordomia cristã deveria começar pelo cuidado à criação - a Terra, habitação comum que nos foi confiada e seus viventes, de todas as espécies - de onde derivariam os êxitos da nossa caminhada.   O grande desejo do Criador é que, refletir a sua natureza seja o ponto de partida da nossa caminhada. E assim, que nos tornemos capazes de cumprir a nossa primeira missão: cuidar da criação e orientar as nossas escolhas, ações e reações a partir dessa referência.   “O Eterno levou o homem para o jardim do Éden, para que cultivasse o solo e mantivesse tudo em ordem.” (A Mensagem)     Tudo era muito bom e Ele se alegrou nisso. Havia ali, no jardim, a expressão da sua natureza, em detalhes. Cores, formas, sabores. Um sistema completo e eficiente de cooperação para a manutenção do fluir da vida em sinergia, interdependência e equilíbrio.   E Ele nos fez mordomos.   Sob a clara orientação de mantermos a ordem do Éden, deu-nos a Terra por habitação e fez nossa responsabilidade pri

Ordem autoritária não sustenta respeito

Quando a força bruta é a premissa semeada no espaço pedagógico, sua lição não tarda germinar e em se reproduzir. Ainda nos faltará muito para compreender que o simbolismo comunica com muita eficiência? A escola é o espaço da irmandade, da colaboração, da coletividade para o aprendizado saudável e de melhoramento das pessoas. Uma comunidade humana que tem problemas e fissuras relacionais como qualquer outra. Justamente por seu caráter pedagógico em tudo - estrutura física, sistema organizacional, operação de rotinas, conexões entre seus entes -, é a escola um campo fértil às práticas nela semeadas , especialmente sob a chama simbólica, que nunca demoram a germinar e a se reproduzir. O respeito semeado pela cultura da paz e do reconhecimento de valor à diversidade e da resolução de conflitos através do diálogo floresce em espaços, ambientes e em pessoas movidas a se desafiarem a novas posturas quando feridas na alma, confrontadas em seus erros, desabonadas em suas opiniões

O que os homens do poder temem?

Se tivesse que definir dois principais pilares da democracia, daqui do meu processo de aprendizado e desenvolvimento cívico, eu diria que a transparência e a participação social. E eis que somos abraçados por terrível paradoxo. Em resposta ao clamor da população por mais transparência aos atos administrativos e políticos dos eleitos, e de aprimoramento e ampliação dos mecanismos de interação com o Estado e participação na construção das leis e das políticas públicas, o que temos são ações nebulosas no sentido de impedir acesso à informação e de promover vedação aos espaços de discussão e de ação social na política. O que temem os homens do poder quando aumentam o grau de sigilo sobre seus atos administrativos e políticos e quando extinguem espaços de participação social? O que tem a esconder? Por que tamanho receio de compartilhar poder? Todos que acompanham o tilintar da vida pública concordarão sobre a necessidade de aperfeiçoar os mecanismos de participação e controle so

Sobre dores

Desde muito jovem atuo em frentes de assistência social. Já lidei com mil dores. Minhas e de outras pessoas. Nunca, porém, desenvolvi ações ou ajudei em hospitais. É uma realidade muito distante das minhas capacidades. É como me vejo. Não sei o que fazer ou dizer, em hospitais. Isso é profundamente, estranho. Já são sete dias de internação da minha mãe. Ela está bem. Apesar de todos os desconfortos naturais desse processo e suas condições. Está recebendo atenção médica qualif icada, sendo acompanhada e aguardando cirurgia - que foi adiada para quinta-feira (14). Hoje a noite começou agitada. No quarto ao lado, um senhor que não para de vomitar. Parece que suas tripas vão sair pela boca, tamanho esforço que faz e desespero que exprime no gemido. Noutro canto um paciente está tão agitado que a equipe foi acionada para contê-lo. Em outro quarto, um outro paciente chora desesperadamente. Um choro de profunda dor. Nada posso fazer. É um estado de impotência estranho, desconcertante.

Minha mãe passou mal

Na segunda-feira minha mãe passou mal. Vômitos. Uma vez no hospital, já foi internada, pois o que tinha, na verdade, era um ataque cardíaco. Foi submetida a um cateterismo. Tentativa de angioplastia, sem sucesso. E aguarda, agora, uma ponte de safena para resolver o drástico quadro de entupimento de veias. Desde segunda-feira temos nos revezado no acompanhamento na UTI. Meu plantão é das 20h às 8h, em dias alternados, e em claro, claro, porque seria impossível pregar o olho c om os equipamentos buzinando e o entra e sai de profissionais para fazer medições de rotina e medicações necessárias. Fico aqui, entre um filme, uma leitura e mil pensamentos, tentando acelerar o tempo e, ousando avaliar a fragilidade da nossa existência e como ela se oculta na nossa arrogância da certeza de eternidade, da superiodade e autoridade sobre a vida, quando isso não existe. Nunca existiu. Hoje estamos e em seguida não mais. Em um instante, tão donos de nós e de todos, no instante depois, com

A vida se dá compartilhada

John Donne, já há alguns séculos bradava que "nenhum homem é uma ilha, isolado em si mesmo; todos são parte do continente, uma parte de um todo." Mas nós, ao contrário da óbvia primeira interpretação possível, nos conduzimos à insistente apropriação do comum como se a um pertencesse. Nosso olhar é detido em nós, em atroz perturbação individual que perfura qualquer outro olhar mais cordial ao outro - parte de nós em significado existencial mais elementar. Compartilhar, o verbo (ação) que deveria ser o eterno presente da nossa existência, tal qual respirar, dissolve-se invisível, sem qualquer questionamento, como quando nos falta ar ou o que se tem é poluído, pesado. Esquecemos com muita facilita que somos comum desde antes de existirmos. Somos a soma de dois, conjunto de vários e, conforme se fazem os dias em nosso existir, nos tornamos milhares. Um pouco de cada um antes de nós. Um pouco dos convivas. O profundo mistério da coexistência. E por que insistimos em