Quando a gente separa um tempo para escutar as pessoas o tempo seguinte pode ser o abraço da despedida ou do acolhimento às alegrias e dores compartilhadas. Tenho feito o exercício intensional do acolhimento porque quero minhas palavras e ações cada vez mais próximas, de mãos dadas.
Muitas foram as dores que compartilhei nas últimas semanas. Muitas foram as dores que acolhi e, parte significativa delas se conectou ao meu senso de justiça, me deixando triste, provocando revoltas, estimulando reflexões às quais estou procurando amparo, luz e compreensão sobre o que vem a significar.
Estou lendo mais uma vez, 'A construção do público: cidadania, democracia e participação', de Bernardo Toro. Revistar essas páginas me ajuda muito nesses momentos de pensar coisas que me são muito caras. A cada nova leitura um acúmulo da experiência anterior e o que, no curso do cotidiano experiencio. A percepção inicial - da qual outras se desdobram - é a cobrança da existência no que tocamos e nos tornamos, a que busquemos mais entendimento sobre o valor do comum, da unidade na diversidade, do respeito à diferença do ser, pensar, construir, da necessidade da construção do espírito de comunidade como único caminho possível ao nosso resgate humanitário.
E como é complexo abraçarmos os caminhos da simplicidade. Sim, é o simples que se espera de nós.
Toro afirma que "a grande tarefa da sociedade civil é agir nesses lugares (de coletividade) nos quais é possível construir o projeto de dignidade do século XXI: a consolidação dos direitos humanos".
E aí entra a demanda urgente da valorização dos espaços de socialização, posto por Toro, a saber: a família, a rua, o grupo de amigos, a escola, a universidade, as organizações comunitárias e de bairro, as organizações intermediárias, o trabalho, as empresas, as igrejas, os partidos, os movimentos sociais e o meios de comunicação. Ambientes em que "se educa, ou se deseduca, o novo cidadão; criam-se as formas de pensar, sentir e atuar; fabrica-se, interiormente, esse novo contrato social, que significa um estado de direito, uma sociedade na qual são plausíveis os direitos humanos".
Um ponto importante. De que modo temos percebido, significado e considerado direitos humanos? Uma aplicação ao macro existencial, posto à distância, dado que nos consideramos mentes progressistas ou, veladamente, direitos humanos tem sido feitos apenas efeitos de falas nas nossas conjecturas diárias?
O espaço da criatividade e autoria tem sido respeitado, valorizado, estimulado e reconhecido?
O espaço da fala e expressão de opinião, de visão, de compreensão tem sido aberto e levado em consideração?
A divergência tem encontrado acolhida ou posta na prateleira da rebeldia vazia?
A diversidade das múltiplas mentes e gentes que somos tem sido o tecido da nossa costura social e política ou apenas retalhos valiosos enquanto dispersos porque não os compreendemos juntos e na mistura de suas texturas e cores não conseguimos perceber valor?
Voz é um monossílabo que nos diz sobre ruídos e barulhos ou que nos convida ao diálogo, ao encontro, ao exercício da mutualidade que busca unicidade?
Talvez precisemos aproximar o exercício de compreensão de direitos humanos para coisas que consideramos habitarem apenas as tendas das graves violações humanitárias e observar que o nosso cotidiano poderá contribuir muito mais para o sentido da existência humana calçada de respeito, se o respeito - no seu mais robusto e potente significado - nos vestir, aqui e agora, na comunidade participativa que estamos desafiados criar, nesse lugar onde vem ao mundo a nossa capacidade de produzir, de criar para os outros e de trabalhar com os outros.
Porque se queremos uma construção política inovadora precisamos trazer o elemento humano para o centro do nosso pensar e pensar, sempre, de dentro para fora, expressando nesse movimento a dinâmica que nos inspira e orienta.
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