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Sobre dores

Desde muito jovem atuo em frentes de assistência social. Já lidei com mil dores. Minhas e de outras pessoas. Nunca, porém, desenvolvi ações ou ajudei em hospitais. É uma realidade muito distante das minhas capacidades. É como me vejo. Não sei o que fazer ou dizer, em hospitais. Isso é profundamente, estranho. Já são sete dias de internação da minha mãe. Ela está bem. Apesar de todos os desconfortos naturais desse processo e suas condições. Está recebendo atenção médica qualif icada, sendo acompanhada e aguardando cirurgia - que foi adiada para quinta-feira (14). Hoje a noite começou agitada. No quarto ao lado, um senhor que não para de vomitar. Parece que suas tripas vão sair pela boca, tamanho esforço que faz e desespero que exprime no gemido. Noutro canto um paciente está tão agitado que a equipe foi acionada para contê-lo. Em outro quarto, um outro paciente chora desesperadamente. Um choro de profunda dor. Nada posso fazer. É um estado de impotência estranho, desconcertante.

Minha mãe passou mal

Na segunda-feira minha mãe passou mal. Vômitos. Uma vez no hospital, já foi internada, pois o que tinha, na verdade, era um ataque cardíaco. Foi submetida a um cateterismo. Tentativa de angioplastia, sem sucesso. E aguarda, agora, uma ponte de safena para resolver o drástico quadro de entupimento de veias. Desde segunda-feira temos nos revezado no acompanhamento na UTI. Meu plantão é das 20h às 8h, em dias alternados, e em claro, claro, porque seria impossível pregar o olho c om os equipamentos buzinando e o entra e sai de profissionais para fazer medições de rotina e medicações necessárias. Fico aqui, entre um filme, uma leitura e mil pensamentos, tentando acelerar o tempo e, ousando avaliar a fragilidade da nossa existência e como ela se oculta na nossa arrogância da certeza de eternidade, da superiodade e autoridade sobre a vida, quando isso não existe. Nunca existiu. Hoje estamos e em seguida não mais. Em um instante, tão donos de nós e de todos, no instante depois, com

A vida se dá compartilhada

John Donne, já há alguns séculos bradava que "nenhum homem é uma ilha, isolado em si mesmo; todos são parte do continente, uma parte de um todo." Mas nós, ao contrário da óbvia primeira interpretação possível, nos conduzimos à insistente apropriação do comum como se a um pertencesse. Nosso olhar é detido em nós, em atroz perturbação individual que perfura qualquer outro olhar mais cordial ao outro - parte de nós em significado existencial mais elementar. Compartilhar, o verbo (ação) que deveria ser o eterno presente da nossa existência, tal qual respirar, dissolve-se invisível, sem qualquer questionamento, como quando nos falta ar ou o que se tem é poluído, pesado. Esquecemos com muita facilita que somos comum desde antes de existirmos. Somos a soma de dois, conjunto de vários e, conforme se fazem os dias em nosso existir, nos tornamos milhares. Um pouco de cada um antes de nós. Um pouco dos convivas. O profundo mistério da coexistência. E por que insistimos em

Diz muito de você, como você julga o outro

Cuidado. Diz muito de você, como você julga o outro. Diz, quase sempre, sobre as suas motivações mais secretas, sobre as intenções do seu coração, sobre a sua energia reativa, sobre a sua disposição espiritual. São chamados inocentes e tolos os que costumam acreditar nas boas intenções, na transformação, na motivação para o bem, nas coisas contra as quais não há lei. São tomados por sagazes e fortes os que estão sempre à espreita, dos discursos inflamados, dos pensamentos  elaborados, das articulações pessoais de incontáveis tentáculos, todas marcas positivas que pelo sentimento dúbio de fazer manipulação, se tornam malignas. Prefiro os inocentes, crédulos. Nada ganha a minha alma na companhia dos ardilosos, de coração sempre conjecturando a reação melhor acabada, de extensão tamanha que impede ao outro seguir. Nada me acrescenta o campo da disputas, a violência simbólica, a virulência do olhar, da ação, da palavra, da confusão. Talvez, ao final dos meus dias eu repouse meus pen

Política no Quadradinho, um novo ciclo

Alô Povos e Povas do Distrito Federal, a partir de hoje o nosso pequeno, altamente privilegiado e segregado e desigual território, passa a ter novo Governador. E nós, cidadãs e cidadãos, temos uma nova representação legislativa. É muito importante participar do processo democrático, cujo marco mais celebrado é a eleição, mas a sua construção é no cotidiano. O Portal G1 organizou um infográfico com as promessas de campanha do governador. Tome conhecimento, acompanhe. Saiba que  ninguém governa sozinho. É uma engrenagem. Tão importante quanto, é acompanhar a CLDF. Ao invés de fechá-la, como bem coloca o pessoal o Observatório Social de Brasília, o fundamental é ocupá-la. A participação social qualifica os mandatos legislativos de forma impressionante e, consequentemente, aperfeiçoa a democracia. Ainda há parlamentares que não acreditam nisso porque no lugar de representantes, se percebem substitutos do povo. A legislatura 2019/2023 terá apenas 8 deputados reeleitos. Temos uma

Um sonho para a igreja em 2019

Sim, eu tô bem ciente de que eu não tenho autoridade para isso. Mas, como a gente tá na era do opiniódromo livre, vou continuar a minha vibe. Sugestão de temas para a Igreja Cristã Brasileira (todas elas) para 2019. Se liguem! Não é fazer um cultinho especial, numa data x qualquer, meio fantasioso, como se todas as coisas que estão por trás, na frente e no meio, envoltas, não fossem bem sérias. Não é nada disso não, tá? É promover ações para sensibilização real, sacou? 🗓  Janeiro: mundo, mundo, vasto mundo; fraternidade universal, o que é para que serve isso? Política Internacional, tratados, acordos; 🗓  Fevereiro e Março: os males do patriarcado; doenças, estigmas e sequelas do machismo; violência contra a mulher (inclusive na igreja); a mulher na igreja e na sociedade etc; 🗓  Abril: um mergulho na cultura dos nossos povos originários; as violações dos seus direitos; demarcação de terras indígenas; atuação da igreja na cultura indígena, conflitos, etc; 🗓  Maio e Junh

SOBRE SILÊNCIOS

Não faz muito tempo fiquei realmente impressionada ao me dar conta de que tinha ficado quase 72 horas sem dar uma única palavra com ninguém. Nem aquele áudio insuportável via Whatsapp. Sou um paradoxo nessas coisas porque sou tagarela em assuntos do meu interesse, capaz de conversar sobre um leque de assuntos até interessantes, sem passar vergonha. Também sou uma boa oradora. Brinco que se tiver um pouquinho de conhecimento do assunto enrolo bem e, em alguns  temas até me passo por sabichona. Sou mega ativa em algumas plataformas digitais. Todavia, adoro o silêncio e casa vazia por causa dele, o silêncio. Gosto de observar pessoas. Gosto de me dedicar às pessoas. Mas não abro mão do silêncio. Há pouquíssimas pessoas com as quais eu me percebo quase espontaneamente conversadeira. Menos ainda aquelas ao lado das quais o silêncio não incomoda a mim, nem a elas. Isso diz sobre mim e sobre o mundo. E ainda não tenho clareza do que exatamente. Claro está, para mim, da necessidade q