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Pelo direito de sonhar

Era quarta-feira, como outras tantas na padaria perto de casa. Um pigado, por favor. Com mais café e leite, bem quente. Mais quatro biscoitos de queijo. Meu pedido de todo dia. Enquanto espero...uma mensagem salta no Messenger. "Ádila, sabe de alguma oportunidade de emprego?" Não é a primeira vez a mesma questão me bate à porta. Minha caneta cor de rosa também salta para escorrer sua tinta no primeiro verso de papel que encontro na mochila. Impossível não me ver voltando ao final da década 1990, quando eu tinha a mesma idade do meu amigo da conversa. Muito embora, é preciso afirmar, mesmo em condições severas, as dele são bem mais arrojadas. 1997. Eu morava em Ceilândia. QNM 03. Quem conhece sabe que é barra pesada. Hoje ainda menos que naquela década. Mais de uma vez, ao retornar da escola (CEd 07) me deparava com a rua (conjunto G) fechada pela PATAMO. Ninguém entrava ou saía até que mais uma operação atrás de merla,  a droga da quebrada, fosse finalizada. Uma vez te

Por mandatos mais participativos e transparentes

A nossa história recente vive um mergulho profundo na crise de representatividade. Estruturas frias, rígidas, distantes, ensimesmadas, incapazes de dialogar com os atuais dilemas da nossa sociedade. Os partidos não dão mais conta sozinhos, do desafio da construção a política. Na REDE acreditamos no novo jeito de fazer política e que ele está diretamente ligado ao resgate do protagonismo do cidadão para que ele voz ativa em todos os processos do fazer política, de modo que os representantes sejam de fato REPRESENTANTES, e não substitutos dos cidadãos e cidadãs. Entendemos que uma das suas principais contribuições da REDE para o resgate da política é trabalhar para quebrar o monopólio dos partidos, criando novos métodos e fortalecendo outros que já existem, em parceria com os movimentos cívicos e as instituições, oxigenando a política com mais participação real da população no processo democrático e mais transparência na ação dos seus representantes. A convicção nestes princ

Abraços, poderosos entrelaçamentos

Abraços são tão poderosos e fazem tanta falta, muitas vezes! Todos já passamos pela por aquele dia em que não queríamos palavras, presentes, nada. Apenas um abraço e rosto e ânimo se transformavam. Abraço, aquele nomento especial, quando dois corpos se encontram e se entrelaçam, trocam energia, cheiro, calor e se fazem vivos em toque tão profundo que é capaz de fazer aflorar o melhor de nós. A verdade é que todos deveríamos nos permitir abraçar, de verdade, com firmeza, em cada encontro com aqueles que amamos, aqueles que tem significado para nós, aqueles que de algum modo estão na nossa vida. Abraços aquecem, curam, encorajam, acolhem, falam com tanta clareza que nos deixam sem palavras. Não à toa cantamos que "o melhor lugar do mundo é dentro de um abraço". Em tempos de apartação pelos motivos mais tolos possíveis, bom seria fôssemos capazes de nos permitir mergulhar num abraço amigo ou do filho, mãe, pai, do amor, de quem ocupa a nossa mente com ternura. Você é capa

Deixar as malhadas

R ecentemente uma amiga me admoestou com a seguinte frase: "mana, já está de você deixar as malhadas". Claro que eu ri, e muito. A referência é bíblica, à história de Jacó e seus tempos de serviço ao sogro  Labão, enriquecendo-o e não tendo adequado reconhecimento por seu trabalho. É  principalmente, uma chamada à aceitação pública de desafios que muitas vezes a gente já enfrenta no privado, "às escondidas", nos bastidores. Nunca enriqueci ninguém e, graças a Deus,  meu trabalho quase sempre teve reconhecimento de valor. Não em todos os sentidos, obviamente. Há um fato importante porém, trazido por essas referências e de modo muito forte. Mostrar o que sou capaz de fazer, ou melhor, assumir minhas capacidades, nunca foi algo que me atraísse. Muito ao contrário. Quase sempre só me salta aos olhos a ácida crítica que eu mesma me imponho. Sei fazer muitas coisas e quando assumo desafios normalmente tenho excelente desempenho. Mas tenho enorme e sincera dificuldade

Sob cargas, destinos

Dezesseis, não mais que dezoito anos, dou como sua idade. No generoso fio que escorria no seu rosto, bem mais que suor, escorria sua juventude, energia, esperança, sonhos, outro futuro possível.  O olhar? Embaçado da fumaça dos carros apressados que reclamavam sua presença m suas vias. Atrás de si e carregado pela força dos juvenis braços, um carro de dois pneus e uma pesada carga do nosso consumo exagerado, nosso desperdício de vidas. Uma buzina. Um grito. Uma passagem de raspão. O quase atropelo de um corpo de dezesseis anos que via tudo passar rápido, a começar da sua juventude. No carro, outro possante? Sim, mas não o motor de muitos cavalos. Um outro ser de impávida juventude, força, sonhos, usufruto bem nutrido do presente, futuro garantido - senão pelo não sabido que não se controla, Era negro, aquele outro de animal, a carregar cargas que não produziu. Pele preta, daquele quase atropelado no asfalto, uma quase repetição do atropelo da sua exis

SOBRE A FELICIDADE

Sempre tive certo preconceito com "pessoas felizes". Não acredito na felicidade,  assim, como se propaga e nos é vendida. Acredito no estado de felicidade, por exemplo, que nos  invade diante de uma criança sorrindo ou fazendo aquelas perguntas ou argumentações que nos tiram o chão, nos desnudam e nos colocam no lugar da insignificância - o único que nos pertence no final das contas. Acredito no estado de felicidade que se apodera do nosso olhar frente à delicadeza ou poder incomparável da natureza, em cores, formas, sabores. Ou ainda, nos acordes musicais, na poesia, nos mistérios da lua, no silêncio. O estado de felicidade nos provoca pensamentos, nos orienta, nos impulsiona a ações mais gentis, mais humanas, nos faz cambaleantes e nos inspira a buscar novo ciclo feliz. Às vezes nos paralisa também. O estado de felicidade é tão poderoso que parece se eternizar. Mas não creio real essa tal felicidade em sorrisos que não findam,  celebrações eternas, graça a perder de vis

SOBRE CALOR E GENTE QUENTE

Gosto de comida quente, café quente e  gente quente. Nossa tropical localização nos faz mais quentes. Talvez nos lembre que sinônimo de vida seja o calor. Dia desses um amigo me veio com um diagnóstico sobre determinada pessoa dizendo achá-la fria. Neguei. Ele insistiu que era sim. Deu-me como prova e provocação que bastava olhava para outras pessoas que aquela rodeavam, como eram frias. Argumentei que muitas vezes a vida impõe tantas regras, durezas, enfrentamentos, autopoliciamento no falar, agir e reagir que, no passar dos tempos, sob aquele regime tão intenso, perde -se o calor, essa vividez  do existência com cor. Explica. Justifica? Pus-me a pensar a respeito porque, obviamente, a minha argumentação não me convenceu. Será que tem que ser assim, tornarmo-nos frios para sobreviver à dureza e frieza dos desafios que temos que enfrentar, às vezes anos a fio? Não estaria no calor, esse pulsar vivo dos nossos traços, expresso na força e vibração do falar, expansão de alma, riso