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Postagens

Sobre facas, facadas, sangue, vingança e demonização

E se invertêssemos a lógica operandi e demonizássemos a nossa irresponsabilidade social e descompromisso ético e político com o nosso país? É fato quase certo, enfim, tomaríamos perfeita ciência de que nos pesa repensar valores e preços e assumir uma nova postura no firme propósito de construir a cidade e o país que desejamos aos berros e desprezamos em ações cotidianas. O que não nos despertou a fazer a imperiosa necessidade do exercício diário da generosidade, da solidariedade, do espírito coletivo, da justiça, da equidade, as facas, facadas, o sangue e a vingança nos impõem hoje, mais uma vez. Mas a quem demonizaremos? Uma manchete. Um mundo de histórias. Um grito. Uma vergonha. "Duas tragédias antes da tragédia 15 passagens pela polícia. A primeira quando tinha 11 anos. O pai, ele só viu duas vezes. A mãe, catadora de latas, foi indiciada por abandoná-lo com fome na rua (...) desistiu dos estudos no sexto ano..." De quem é a conta de tantas tragédias, aque

“Reduzir a Maioridade Penal é Retroceder no Processo de Efetivação de Direitos”

Em meio a tantas ofensivas conservadoras no que diz respeito aos direitos das minorias, das crianças e adolescentes e a discussão no Congresso Nacional sobre uma possível redução da maioridade penal, o Correio da Cidadania conversou com três responsáveis pelo Sefras Cárcere – a coordenadora do projeto, Camila Gibin, a assistente social Aline Dias e o Frei Alex Ferreira – a respeito do trabalho que desenvolvem dentro dos presídios. Na conversa, discutimos questões que permeiam o sistema penal e prisional. O Sefras – Serviço Franciscano de Solidariedade – existe há 15 anos e desde o final de 2011 tem um grupo denominado Sefras Cárcere dentro dos presídios e das unidades da Fundação Casa. Trata-se de uma iniciativa socioeducativa que tem como foco discutir questões da sociedade e temas da atualidade de maneira crítica com os internos. O objetivo principal é criar espaços de convívio com a população presa e desenvolver reflexões e pensamento crítico a respeito dos temas propostos.

“Exame de Consciência”: A Bíblia e a Redução da Maioridade Penal

Algumas Igrejas têm o bonito costume de propor a seus fieis que de tempo em tempo façam seu “exame de consciência”. Às vezes essa prática reforça o sentimento de culpa. Em outras situações, trata-se de oportunidade de revisão de caminho escolhido, de mudança verdadeira, de conversão. Sou convidado/a aqui a fazer meu “exame de consciência” sobre o que desejo para nossas crianças e adolescentes e, pelo fato de ser pessoa cristã, como a Bíblia tem me ajudado nesse propósito. Se desejo saber se estou fazendo uma boa leitura da Bíblia, devo conseguir responder afirmativamente a perguntas como estas: Quando leio a Palavra de Deus, sinto aumentar em mim o desejo de amar e acolher o diferente e de aprender com ele? Minhas meditações bíblicas têm me levado a acreditar mais nas pessoas, mesmo quando elas erram ou cometem crimes? Sou capaz de acreditar na capacidade que um adolescente tem de se recuperar quando ajudado por mim e pela sociedade? Tal como Jesus, sinto vontade de amar e acolher a

Quem é mesmo o bandido?

Não sou o que chamam "bem nascida". Mas, sou branca, tenho nível superior (poderia caminhar agora para a segunda graduação, pois fui recentemente aprovada em Ciências Sociais na UnB, porém estou indo - por hora - por outro caminho, retomando minha especializando e depois volto a buscar a UnB novamente, se for o caso.). Ainda sobre formação, meus pais tem ensino médio (o que ainda é uma conquista no Brasil) e três dos meus quatro irmãos tem nível superior (à exceção do mais novo que até agora não quis). Por que tudo isso? Um post barato de auto-promoção? Na verdade, escrevo isso para dizer que sou absolutamente privilegiada, embora, repito, não seja "bem nascida". Branca, filha de pais brancos. Meus pais nunca foram e provavelmente nunca serão doutores, mas não só foram alfabetizados, como no Brasil dos anos 70 e 80 chagaram a ser até professores com a formação de Magistério que possuem. Isso é muito significativo. Mas, há uma massa de marginalizados nesse país.

Olhando Vesgo

Já faz bastante tempo "não consigo tempo" para escrever por aqui. Hoje, no entanto, trago uma publicação especial e tomada de empréstimo da querida Jane Maria Vilas Bôas. Garanto: vale a leitura e depois dela refletir um pouco sobre a temática e o rumo que temos dado ao nosso Brasil. ----- OLHANDO VESGO Jane Maria Vilas Bôas A cada descoberta de mais bilhões de dinheiro público surrupiado de órgãos governamentais – portanto tesouro de todos os brasileiros – mais a população fica indignada e perplexa com o tamanho da corrupção. Alguns dos envolvidos além de nos roubar, matam a esperança de que a política seja um lugar para produzirmos coisas boas para todos. São dois crimes praticados no mesmo ato, apropriação do que é público e a porta fechada para o único caminho coletivo que fez a humanidade avançar rumo a regras de convivência democráticas, com justiça, com possibilidade de vida digna para todos. E o crime é tanto maior quanto se vê que essa estrada ain

Eu prefiro a periferia.

Eu prefiro a periferia. Por lá não há nada, mas creia, nunca está vazia. Por lá, tira-se força extraordinária das dores para transformar a desgraça dos ais e turbulências do nada ter em reflexão, filosofia, arte e até poesia. Sim, frente à frenética hipocrisia das plumas e espaços brilhantes e frieza dos mármores congressionais, eu prefiro a periferia. Lá o Deus se faz gente, carne, sangue, vida efervescente, compadece-se do pequeno, feio, preto, pobre, bêbado, prostituta, cego, analfabeto, viciado e doente. Lá o Deus desce do céu e senta-se no chão ou à mesa - se houver, e se faz gente como a gente. Lá o Deus só tem uma regra, ela é simples e chama-se amor permanente. Eu prefiro a periferia Atropelada pela desumanidade Milagre! Humana se mantém na lama, no lixo, no esforço sôfrego da vida nos becos escuros, fedidos e sem saída, escadas de difícil acesso e subida. Talvez bem egoísta, eu prefira a periferia porque ela controla a minha própria in

A pergunta que ainda ecoa!

Era final de tarde, uma tarde daquelas em que a gente diz “uffa, é comer algo, tomar um banho, colocar os pés pra cima e relaxar”. Era. Mas, havia ali, muita gente. Gente cansada e faminta. Gente que não podia fazer nada por si. “Onde compr aremos comida para toda esta gente?”  A pergunta de mais de dois mil anos atrás venceu os limites da Galiléia e reverbera até nós, neste exato momento. Sabe o incrível? As mesmas respostas continuam sendo dadas e elas giram em torno da negativa de condições na resolução de problemas como a fome – que poderia aqui representar a privação de direitos. O Evangelho diz que o Cristo já sabia o que estava por fazer, mas colocou a questão para ver qual seria a resposta dada a ela por aqueles que se diziam seus discípulos. A questão continua e a expectativa do Cristo também.  Já agora, ele aguarda resposta da Igreja frente também à fome, mas não apenas de uma refeição no meio de uma peregrinação – a que alcança no Brasil ainda, em 3,4 milhões de pe