Diz o livro sagrado dos cristãos, que todos os dias o Eterno tinha um encontro marcado com a sua criação na viração do dia. E assim, sob o largo emblema do pôr-do-sol, dialogavam. Talvez tenha surgido aí a designação da hora feliz ou o saudável apreço que temos pelo lugar mais sagrado de uma casa: a cozinha, quando à mesa os corações se encontram e um ao outro se entregam às palavras que os conectam. À mesa desfrutamos dos sabores da partilha de refeições temperadas com amor, das bebidas que passam pelo refinamento alquímico do olho no olho honesto que não constrange. Mas à mesa também pode surgir o medo transgredindo a sacralidade da transparência relacional para convencê-la a tomar para si, por vestimenta honrosa, o adorno da culpa. Foi assim naquela viração do dia, quando as criaturas encerraram o diálogo, se viram nuas e se vestiram de acusação. Aos gritos. Quando leio o relato bíblico, logo ali no terceiro capítulo do Gênesis, sou levada a pensar que o Eterno queria começar u...