Todos os dias somos visitadas por sons. Alguns podem se fazer apenas ruídos (ou são de fatos). Podem nos agredir, embalar, inspirar.
Sons, algumas vezes são memórias. De todo tipo.
Também podem ser compasso a uma ação. Ou antes e depois disso, celebração de um marco qualquer, de um tempo que finalmente chegou ou passou. De um singelo existir.
Sons podem ser o imperativo à necessidade do silêncio - de emoções, de pensamentos, de um fazer que se perdeu ou que precisa apenas deixar de ser por um instante e se recompor noutros sentidos.
Os sons podem ser morte ou vida pulsando. E, tão diversos quanto suas expressões que nos chegam aos ouvidos, reconhecidos ou despertando curiosidade ou repulsa, são os seus sentidos.
As vezes passamos por ciclos tão avassaladores que até os silêncios são muitos sons nos falando coisas.
Escutamos?
O que efetivamente nos disseram?
Deveriam?
De repente, por aqui, alguns cânticos novos ocuparam meus ouvidos tão fortemente que precisei parar o que fazia para escutá-los mais detidamente e deixar que me encorajassem observá-los.
Eram pássaros em desfrute do alimento disponível.
Para mim? Uma grande e significativa conversa.
Eles me perguntaram sobre as vozes que tenho ouvido e as razões porque as deixo penetrar minha mente e coração, os movimentos que elas me provocam. E me questionaram, sem violência, o quanto me tenho aplicado a discerni-las, não para desprezar aquelas que eventualmente me atormentam, mas para saber motivos, pois eles estão em mim, são, possivelmente, sentimentos que precisam ser resolvidos em mim e não no outro a quem possa olhar atravessado por me desconhecer.
E aqui e agora eles também me instigaram sobre as vozes que põem em riso meu coração, tocam minhas melhores emoções e se fazem nutrição e força às longas caminhadas às quais preciso me dedicar.
Não é fácil discernir sons, sejam eles de vozes solitárias, amigas ou distantes desconhecidas, ou de composições e arranjos, combinados ou apenas misturados no mesmo tempo e espaço.
Aliás, não é nada fácil discernir sequer as vozes e sons que nos habitam.Mas talvez nossa caminhada seja um pouco menos confusa se nos dedicarmos a ouvir o que está na nossa alma, o que expressam os nossos lábios e, então, os incontáveis sons que nos rodeiam podem se ressignificar.
É possível que assim a gente consiga ver melhor e escolher melhor ao que prestar atenção e por isso, tropeçar menos e valorizar o que importa e ao que dá sentido à vida - o encontro de vidas - e apreciar os pequenos momentos de cada dia, estes que nos ensinam sobre nutrição ao corpo, à alma para novos começos a partir do disponível e presenteado e também, da semeadura que fomos capazes de fazer.
Dos sons que nos habitam e aos que chegam aos nossos ouvidos, quais ouviremos e faremos reverberar?
Comentários
Postar um comentário