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O tempero da vida são os afetos

Gosto de cozinhar. Não sou lá uma especialista. Estou longe de fazer as mesas que a minha irmã mais velha faz. Mas gosto de cozinhar. De ficar horas procurando algo na internet uma receita nova para daí fazer (quase sempre) do meu jeito e servir às pessoas que amo. Fazendo uma comidinha para quem amo e quando me dou algo especial é como se fosse um momento de conexão especial. Na verdade é isso. Fazia um bom tempo que eu não me permitia cozinhar com afeto. Talvez a última vez tenha sido o que levei pro reveillon na viinhança. Embora numa correria terrível, caprichei todo o possível. E 2022 chegou como uma tromba d'água assustadora e violenta, levando tudo pela frente, sem respeitar justificativas ou o que mais fosse. E lá se vão quase 45 dias passados e hoje me dei conta que ainda não havia me colocado a fazer do ato cozinhar uma experiência, como gosto.  E olha, não falo de pratos chiques não. Nem sei fazê-los. Como disse, nem sei colocar uma mesa direito. Falo de cuidar dos alime

Os olhos são as janelas do corpo (ou da alma)

Diz a sabedoria: "Os olhos são as janelas do corpo. Se vocês abrirem bem os olhos, com admiração e fé, seu corpo se encherá de luz. Se viverem com olhos cheios de cobiça e desconfiança, seu corpo será um celeiro cheio de grãos mofados. Se fecharem as cortinas dessas janelas, sua vida será uma escuridão." Eu adaptaria para os olhos são as janelas da alma. Por mais óbvio seja, parece que recorrentemente é necessário dizer o quanto nós julgamos as pessoas por aquilo que somos capazes de fazer. E quase sempre isso dista, anos luz, do que elas realmente estão fazendo ou considerando fazer. Então, em um processo de rupturas, por exemplo, se nós somos do tipo agressivo e violento que atua para enxotar as pessoas dos espaços e fazer os mais ardilosos arranjos de modo nos garantirmos em estruturas de micro-poder, é assim que lemos as outras pessoas e começamos a desenvolver pensamentos e medidas conspiratórias em lugares que somente nós encontramos os males imaginados. E e

Narrativas. Vida. Caos. Desesperança.

  Quando eu era pastora repetia com muita frequência, aos membros da igreja, sobre a necessidade de submeterem o que ouviam de mim ao crivo do Evangelho, aprendi isso com o bispo Douglas e com o Paulo, o apóstolo rabugento (e por vezes preconceituoso), mas também zeloso com a missão cristã assumida. Outra coisa que eu repetia era que as pessoas só conseguiriam se desenvolver se exercitassem a capacidade de pensar. Nunca acreditei num Deus que aprecia obediência cega, seres incapazes de fazer perguntas. E cada vez mais falo a Deus que se ele não conseguir se relacionar com as minhas dúvidas, meus questionamentos, as tensões do meus dilemas e mesmo cada um dos incontáveis momentos em que duvido até dele, então ele não é Deus. Será apenas um pequeno fantasma das minhas invencionices mentais, portanto, irreal. E por que isso aqui da gaveta das minhas convicções e incertezas? Assim? A nossa História é basicamente um amontoado de narrativas. Ora elas nos embalam na noite escura e fria. Ora n

Sobre liberança política e partidária

Formar e revelar quadros políticos para apresentarem ideias, propostas e caminhos, alternativas e soluções aos principais dilemas da sociedade, deveria ser dos principais papéis dos partidos. Já não é. Faz tempo. Especialmente nos partidos progressistas. Há algo muito errado nisso, sério e precisa ser problematizado. As direções partidárias deveriam se questionar sobre o que há quando precisam, necessariamente, recorrer aos seus anciãos para disputas eleitorais ou não elegem. Precisam fazer profundo diagnóstico das razões de suas instâncias estarem sempre ocupadas pelos mesmos rostos e as mesmas assinaturas definindo o que pensar e fazer dos partidos partidos. Precisam pensar porque se ofendem dirigentes cobrados a que anciãos deem espaço aos jovens e assumam com honra o lugar de anciãos. Não é demérito. Muito ao contrário. E não é desvalor aos velhos que jovens requeiram espaço para errar, inclusive. É também assim que se aprende. E sobre erros, aliás, é preciso que jovens tenham os s

Responsabilidade Política com o DF

Quando a gente se apresenta para fazer política, independente do lugar ou função ocupada, é preciso manter firme compromisso com o espírtio de serviço. O passo seguinte e consequente é o exercício do diálogo, a busca por convergência, o fazer coletivo e a colaboração. Nenhum partido ou liderança política é capaz de promover sozinha as mudanças que a nossa sociedade precisa. Em canto algum. Pensar-se a atuar à parte, isolado, às escondidas é sinal de fraqueza e prepotência. É, também, caminho à tirania que se arroga plena de poderes para ditar regras, desfazer construções e decidir destinos com o poder personlístico desenhado às sombras dos pequenos grupos. Não sou AS da política, muito ao contrário. Mas tenho aprendido a cada dia que ou atuamos e construímos com máxima transparência e disposição real à partilha de autoria e busca por convergências, ou seguiremos dragados pela violência política, o autoritarismo, a distorção dos valores da política a serviço do comum. O Diat

A gradiosidade da política está em distribuir poder

A grandiosidade da política está em distribuir poder Política grandiosa em capacidade transformadora só se faz a partir de alguns princípios elementares: Escuta ativa;  Diálogo efetivo; Transparência radical; Participação ampla; Experimentação. Isso distribui poder. Isso faz a política potente e grandiosa.  Fora disso a política é medíocre. Toda vez que um grupo ou organização partidária se furta ao exercício profundo desses princípios acaba por se fechar, mergulhando em uma lógica reducionista de centralização e na mediocridade das disputas de pequenos poderes. A ação política, então, fica estreita e frágil. As pessoas e grupos que a fazem podem até gritar, mas nada dirão. A potência da palavra não se traduzirá em construção. O que resta é política da espécie ensimesmada, distante das pessoas, da diversidade, pluralidade e da potência das múltiplas vozes que podem sim, ser uníssonas sem perder a potência vocal individual. Todos os dias, em todos os espaços de que participo

Um abraço verde

Daqui vejo o mundo como um abraço verde e essa sombra é aconchego e proteção. Daqui vejo o balanço de galhos, folhas dançando ao sopro do vento e vagar de pássaros, macaquinhos. Distração, curiosidade. Alívio à alma. Daqui observo as chuvas, o correr de suas águas, seus caminhos, escadas lavadas, terreno outro dia seco agora verdinho vibrante. Vida. Daqui vejo o sol pelas frestas das árvores quando dão um passe especial a um ou outro lado no baile do vento. Deslumbre. Daqui choro quando triste, quando alegre, quando cansada. E rio. De mim, dos outros, da vida e todos os seus devaneios. Instantes. Daqui sonho, faço planos, rascunho cada um deles, escrevo e descrevo meu mundo desejado e aquele do qual me livro. Reconstrução. Daqui observo longe olhando a jornada das formigas e me impactando com a forma da existência delas. Aprendizado. Daqui recebo cura. Ah, quanta cura daqui vivi. Abraços nos dias doloridos - quando houve perda, quando a alma esteve doída, ansiosa, teimosa em errar, em