Gosto de cozinhar. Não sou lá uma especialista. Estou longe de fazer as mesas que a minha irmã mais velha faz. Mas gosto de cozinhar. De ficar horas procurando algo na internet uma receita nova para daí fazer (quase sempre) do meu jeito e servir às pessoas que amo.
Fazendo uma comidinha para quem amo e quando me dou algo especial é como se fosse um momento de conexão especial. Na verdade é isso.
Fazia um bom tempo que eu não me permitia cozinhar com afeto. Talvez a última vez tenha sido o que levei pro reveillon na viinhança. Embora numa correria terrível, caprichei todo o possível.
E 2022 chegou como uma tromba d'água assustadora e violenta, levando tudo pela frente, sem respeitar justificativas ou o que mais fosse.
E lá se vão quase 45 dias passados e hoje me dei conta que ainda não havia me colocado a fazer do ato cozinhar uma experiência, como gosto.
E olha, não falo de pratos chiques não. Nem sei fazê-los. Como disse, nem sei colocar uma mesa direito. Falo de cuidar dos alimentos e buscar nutrir-me do que eles trazem na composição, mas também conectar-me ao preparo.
Hoje fiz isso. Da hortinha doméstica colhi tomates, alface, manjericão, cebolinha e limão. Do cesto de casa uma batata doce. Da geladeira um peixe que esperava faz mais de uma semana. Do armário mel, sal, orégano, alecrim. E quarenta e cinco minutos depois foi só enfeitar o prato e saborear o alimento.
O que a agitação, as tarefas para além das horas do dia e da noite, as mil preocupações, as dores de lutas que não fazem sentido - porque não são justas -, tem tirado de nós? Por que nós as deixamos ocupar, por tanto tempo, a centralidade das nossas existências?
E quando nos damos conta estamos à beira da exaustão emocional, já não conseguimos experienciar os encontros porque nossa alma é apenas agitação. E na cama, enquanto choramos com a expectativa frustrada de reposição de energia, não conseguimos permitir ao corpo o relaxamento necessário por estarmos condicionados à tensões.
Será mesmo que as nossas entregas valem a pena, quando elas nos destroem, seja por ordem de outrem ou da violência que nos impomos ao não darmos limites às pessoas e instituições?
O tempero da vida são os afetos. Se nós não os cultivamos, então inssossa será nossa existência. Murcha e apodrecida findará no lixo das nossas próprias emoções.
Era só um almoço simples, que finalmente resolvi fazer especial. E espero que eu esteja em ponto de menor marcha. É que não vale a pena, defiitivamente, tanta correria, se não for pelo comum profundo. Não é correr que nos faz melhores e mais colaborativos com o mundo. É ser.
Perfeito!!
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