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SOBRE CALOR E GENTE QUENTE

Gosto de comida quente, café quente e  gente quente. Nossa tropical localização nos faz mais quentes. Talvez nos lembre que sinônimo de vida seja o calor. Dia desses um amigo me veio com um diagnóstico sobre determinada pessoa dizendo achá-la fria. Neguei. Ele insistiu que era sim. Deu-me como prova e provocação que bastava olhava para outras pessoas que aquela rodeavam, como eram frias. Argumentei que muitas vezes a vida impõe tantas regras, durezas, enfrentamentos, autopoliciamento no falar, agir e reagir que, no passar dos tempos, sob aquele regime tão intenso, perde -se o calor, essa vividez  do existência com cor. Explica. Justifica? Pus-me a pensar a respeito porque, obviamente, a minha argumentação não me convenceu. Será que tem que ser assim, tornarmo-nos frios para sobreviver à dureza e frieza dos desafios que temos que enfrentar, às vezes anos a fio? Não estaria no calor, esse pulsar vivo dos nossos traços, expresso na força e vibração do falar, expansão de alma, riso

Nossos hábitos, nossas construções

Muito raramente preparo café da manhã em casa. É quase o único momento que paro. É um misto de preguiça e necessidade de um momento para nada fazer além de ler um jornal, revista, livro, ouvir música ou apenas me deixar navegar nas águas do nada tarefeiro e mergulhar nos pensamentos ou observação. O local é simples. A comida é básica. O horário é quase sempre o mesmo. As experiências da observação são quase sempre significativas. Cá estou mais uma vez. Uma mesa livre à frente. O casal chega. Faz o pedido. Recebe seus itens solicitados e se dirige à mesa. Ela está bagunçada com restos de comida do usuário anterior. Um prato, um copo, uma caixa de achocolatado e algum a sujeira espalhada. O casal volta e começa a tomar café de pé, ao lado do freezer de sorvetes até que alguém limpa a mesa. Ok. Faria que os responsáveis pelo local se mantivessem absolutamente atentos e ágeis quanto à limpeza das mesas. Melhor seria que o cidadão anterior deixasse a mesa em mí

As distâncias de Brasília

Fui ao escritório conferir se determinado serviço já estava pronto, já que o profissional não me respondia. "A senhora terá que esperar mais ou menos uma hora para que eu termine a parte de hoje." Ok. Fome. Ali na 215 norte tem umas comidinhas bacanas. Dilema. Ou enlouqueço de vez e enfrento a passagem subterrânea ou enlouqueço e atravesso o Eixo Rodoviário. Eu estava na 314 norte e o mapa me dizia que apenas 1,2 km me separavam até a comida desejada, em 14 minutos de caminhada. Eixo ou passagem subterrânea, que uso com frequência (até 18h), que doidice farei? Atravesso o Eixinho. Olho para um lado. Olho para o outro. Ando uns 200 m na direção norte, pelo canteiro. Desisto. Não sou capaz de enfrentar as máquinas exibindo seus tanques abastecidos. Melhor deixar para frequentar o Eixão amanhã, quando estiver fechado para os carros e aberto para as pernas, das gentes circulantes. Brasília é linda. Apesar de chamarem a cidade de

MAIS UMA ORELHA NO CHÃO?

Depois de uma vigília, a mais pesada de toda a sua vida, quando esteve mergulhado na mais profunda angústia e solidão possível a um vivente suportar, chegaram soldados e servos para levá-lo preso. Armas em punho. Medo nos olhos. E o traidor a guiá-los. Pedro, um dos seus e daqueles que o deixaram só na angustiante vigília, porque cansado dormiu, saca a espada e com maestria decepa a orelha de Malco, um servo. Uma repreensão à ação precipitada, embora natural. Uma ação inesperada. Uma cura. Um ensino. As armas da missão do Cristo não fazem sangrar, não dilaceram corpos, nem adoecem almas. Tempos semelhantes aqueles vivemos hoje. Instabilidade política e social que colocam em xeque a nossa dignidade, o ânimo, a nossa visão de mundo, a nossa fé, a esperança. Orelhas ao chão é o primeiro impulso. No entanto, o ensinamento do Cristo permanece o mesmo e o seu fruto é EMPATIA. Malco, o servo, cumpria ordens de um sistema traiçoeiro e perverso e a sua presença ali esta

Soprando forte. Em todos os lugares.

Os ventos do autoritarismo agem por frestas, batem portas e janelas, arrancam lençóis nos varais, derrubam casas, torres, contorcem e distorcem estruturas, abalam construções e firmam-se como a última ordem válida a que se devem curvar todos. Os ventos do autoritarismo começam sutis, como a brisa do fim do dia e embevecem desatentos, corações em desalento, ocupados em demasia, apressados se desesperam. Os ventos do autoritarismo sopram em todos os lugares e vão ganhando força se não enfrentados. Os ventos do autoritarismo rasgam mãos que trabalham, sangram corações de vela ideológica comum, cegam até os olhos mais dedicados e tornam insanos os lúcidos da terra. Os ventos do autoritarismo estão varrendo a terra. Nunca deixaram (é verdade) ou deixarão a nossa história. Nos levaremos por eles? Como os enfrentaremos? O que de nós restará ao cabo de seus ataques mais vorazes?