Depois de uma vigília, a mais pesada de toda a sua vida, quando esteve mergulhado na mais profunda angústia e solidão possível a um vivente suportar, chegaram soldados e servos para levá-lo preso. Armas em punho. Medo nos olhos. E o traidor a guiá-los.
Pedro, um dos seus e daqueles que o deixaram só na angustiante vigília, porque cansado dormiu, saca a espada e com maestria decepa a orelha de Malco, um servo.
Uma repreensão à ação precipitada, embora natural.
Uma ação inesperada. Uma cura. Um ensino.
As armas da missão do Cristo não fazem sangrar, não dilaceram corpos, nem adoecem almas.
Tempos semelhantes aqueles vivemos hoje.
Instabilidade política e social que colocam em xeque a nossa dignidade, o ânimo, a nossa visão de mundo, a nossa fé, a esperança.
Orelhas ao chão é o primeiro impulso. No entanto, o ensinamento do Cristo permanece o mesmo e o seu fruto é EMPATIA.
Malco, o servo, cumpria ordens de um sistema traiçoeiro e perverso e a sua presença ali estava submetida a isso.
Somos capazes de perceber ao nosso redor ou estamos tomados pelos arroubos de uma noite mal dormida, onde sob intensa confusão interior, apenas reagimos decepando orelhas de opositores?
Perceba ao seu redor. Pense por um momento.
A que ordem e cosmovisão estão submetidos os que te enfrentam agora e se fazem inimigos teus?
Este outro, carne como você, que na mesma frequência da sua existência suspira: pelo que age e por que assim age? Como se deu a sua concepção de valores? Que medos povoam a sua mente? Que âncoras estão sob os seus pés? Que motivos mobilizam as suas ações? Por que e como chegou ao ponto da violência (como julgamos ser) possuir a sua alma em falas e ações?
Faremos o exercício da empatia que nos ensina a necessidade constante e incansável do diálogo, ou a maestria para decepar será nossa ação mais consistente e sagradamente posta a termo?
Será mesmo que a ânsia por defender os nossos valores deve nos fazer puxar a espada em língua ferina, gesto duro, passo apressado e assim, tão violento ou, nos caberia, no lugar do outro sentar para ver, ouvir, sentir e tentar pensar o mundo como o outro, esse nosso desprezado próximo que inimigo se fez, vê, ouve, sente e pensa o mundo?
No lugar das disputas por narrativas e autoria de destinos, o mundo nos pede hoje, aqui e agora, diálogo e o diálogo exige escuta ativa, atenta, sincera e respeito, troca, empatia.
No seu lugar, o que faria Jesus?
A missão do Cristo não fere. Cura!
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