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MAIS UMA ORELHA NO CHÃO?

Depois de uma vigília, a mais pesada de toda a sua vida, quando esteve mergulhado na mais profunda angústia e solidão possível a um vivente suportar, chegaram soldados e servos para levá-lo preso. Armas em punho. Medo nos olhos. E o traidor a guiá-los. Pedro, um dos seus e daqueles que o deixaram só na angustiante vigília, porque cansado dormiu, saca a espada e com maestria decepa a orelha de Malco, um servo. Uma repreensão à ação precipitada, embora natural. Uma ação inesperada. Uma cura. Um ensino. As armas da missão do Cristo não fazem sangrar, não dilaceram corpos, nem adoecem almas. Tempos semelhantes aqueles vivemos hoje. Instabilidade política e social que colocam em xeque a nossa dignidade, o ânimo, a nossa visão de mundo, a nossa fé, a esperança. Orelhas ao chão é o primeiro impulso. No entanto, o ensinamento do Cristo permanece o mesmo e o seu fruto é EMPATIA. Malco, o servo, cumpria ordens de um sistema traiçoeiro e perverso e a sua presença ali esta

Soprando forte. Em todos os lugares.

Os ventos do autoritarismo agem por frestas, batem portas e janelas, arrancam lençóis nos varais, derrubam casas, torres, contorcem e distorcem estruturas, abalam construções e firmam-se como a última ordem válida a que se devem curvar todos. Os ventos do autoritarismo começam sutis, como a brisa do fim do dia e embevecem desatentos, corações em desalento, ocupados em demasia, apressados se desesperam. Os ventos do autoritarismo sopram em todos os lugares e vão ganhando força se não enfrentados. Os ventos do autoritarismo rasgam mãos que trabalham, sangram corações de vela ideológica comum, cegam até os olhos mais dedicados e tornam insanos os lúcidos da terra. Os ventos do autoritarismo estão varrendo a terra. Nunca deixaram (é verdade) ou deixarão a nossa história. Nos levaremos por eles? Como os enfrentaremos? O que de nós restará ao cabo de seus ataques mais vorazes?

Vasti, mulher poderosa

Perambulando pela Asa Norte à procura de um almoço (que eu deveria ter feito em casa) dou de cara uma loja chamada Vasti. A lembrança imediata é da rainha Persa. Acho que da próxima vez que for falar na reunião da igreja, tomarei o breve relato bíblico do poderoso ato da rainha Vasti como base do sermão...rs Se você é ou foi, como eu, igrejeira (o), especialmente pentecostal, lembrará sem muito esforço do lugar dado a Vasti. Na sua "desgraça", a oportunidade divina para o suc esso de Ester ou, simplesmente o silêncio sobre o seu ato, quando ousou dizer NÃO ao abuso e violência de um rei bêbado. E por que não falamos sobre o poderoso ato feminino do NÃO? Por que não falamos sobre machismo? Por que não falamos de relacionamentos abusivos nos casamentos evangélicos? Por que não falamos sobre o significado de autoridade? Por que não falamos da objetificação da mulher, inclusive na igreja? E por que não falamos que o amor é subversivo? Por que não falamos de am

Sobre o poder a compaixão

Todos nós, em algum nível, temos poder. Alguns de nós nos desenvolvemos nele e o tornamos alavanca para muitas coisas, de forma decente até. Outra parte de nós se embevece no poder, aqueles pequeninos do cotidiano e mergulha num processo amedrontador de monstrificação. O poder atordoa com muita facilidade. Todos os poderes. Já estive mergulhada no poder eclesiástico e vi de perto, por dentro, como ele pode ser destruidor. Já fui vítima e vitimei através dele. Infelizmente, e com muita dor digo isso, grande parte dos abusos de poder que hoje consigo identificar, me remetem àquela época. Conchavos promovidos por quem está em posição de autoridade, relatos parciais de situações coletivas com o fim de manipular construções, decisões, ações. Entrega de dados apenas na parte que interessa a quem tem maior fatia de poder. Fora as chantagens, emocionais e financeiras. Todos nós temos ou podemos ter pequenas fatias de poder. O que temos feito com elas e o que temo

O balaio dos proibidos

A convivência minimamente respeitosa, ainda que o ideal fosse harmoniosa, na diversidade e espaço de oposição de ideias, tem se tornado exercício para poucos, dada a nossa sina e preferência autoritária que nos faz incapazes de ver, ouvir e falar para além de nós mesmos e, nos coloca no estranho dos mais estranhos movimentos: de reduzirmos o "mundo, vasto mundo" ao quintal dos nossos pensamentos, construído em palafitas sobre os nossos esgotos emocionais. São muitos os balaios que criamos em decorrência disso, destaco um: O BALAIO DOS PROIBIDOS. Numa embalagem, que enfeitamos com a nossa melhor retórica, colocamos não só os que pensam diferente de nós, vamos mais fundo, escolhemos os atrevidos que ousam dizê-lo, pois, ora, que afronta!  Não bastasse o outro, humano livre e diferente de mim, por natureza, divergir do que eu me torno e expresso, como ele (o outro) ainda pode querer dizer que pensa e escolhe ir noutra direção de agir e expressar o seu pensamento e mod

Internamente melhor para externamente melhor

O sistema político é autoritário, antidemocrático, segregador, ensimesmado, machista, violento e não afeito à renovação. Qual o principal local, oficina ou laboratório de todas essas práticas? A construção interna dos partidos políticos. É lá que esses caminhos se desenham, são treinados e se consolidam para se repetirem ano após após ano nas casas legislativas, e também no exercício do poder executivo. Quer saber se determinada pessoa é democrata, praticamente da velha ou nova política, se está a serviço ou se servindo da política? Olhe para o modo como ela se porta e faz a construção interna do seu partido. Ela valoriza os processos horizontais, coletivos, colaborativos e compartilhados, ou é aderente aqueles feitos às escondidas, com velado desprezo ao coletivo, como ente capaz de melhor criar, ainda que "dê mais trabalho" que as decisões e caminhos dos iluminados? Ela valoriza a emancipação das pessoas ao seu redor, dando -lhes plena liberdade de op

Orla Livre, econômica próspera e ambientalmente sustentável

O Caderno Cidades do Correio Braziliense deste domingo (02), trouxe duas páginas sobre os negócios possíveis, ou melhor, as algumas possibilidades econômicas numa das áreas mais incríveis do Distrito Federal, o Lago Paranoá. Durante décadas, sinônimo, para mim, dos muros segregacionistas do DF, personificados no "tão perto e tão longe", "para ver, não usufruir", "saber que existe para saber que nunca será seu" e, "aos poderosos, tudo", a partir de 2015, um pesado processo de sua democratização finalmente foi levado a termo, são sem muitas tensões e enfrentamentos judiciários movidos por pessoas que tomaram por patrimônio privado o que a todos pertence. Ainda que o seu processo de plena estruturação leve um tempo, a desobstrução da orla do lago Paranoá, por si só e se fosse apenas isso, já seria digna de celebração e cobraria muito controle social da população do Distrito Federal. Toda ela. É preciso que o conjunto da população do DF a