Pular para o conteúdo principal

Sobre o poder a compaixão

Todos nós, em algum nível, temos poder. Alguns de nós nos desenvolvemos nele e o tornamos alavanca para muitas coisas, de forma decente até. Outra parte de nós se embevece no poder, aqueles pequeninos do cotidiano e mergulha num processo amedrontador de monstrificação.

O poder atordoa com muita facilidade.

Todos os poderes.



Já estive mergulhada no poder eclesiástico e vi de perto, por dentro, como ele pode ser destruidor. Já fui vítima e vitimei através dele.

Infelizmente, e com muita dor digo isso, grande parte dos abusos de poder que hoje consigo identificar, me remetem àquela época. Conchavos promovidos por quem está em posição de autoridade, relatos parciais de situações coletivas com o fim de manipular construções, decisões, ações. Entrega de dados apenas na parte que interessa a quem tem maior fatia de poder. Fora as chantagens, emocionais e financeiras.

Todos nós temos ou podemos ter pequenas fatias de poder. O que temos feito com elas e o que temos deixado que elas façam conosco ou, no que elas nos transformam são questões que precisamos visitar com frequência.

Temos usado o poder na medida e orientado pela compaixão ou a nossa paixão se embriagou dos pequenos poderes e dos lençóis e laços dele se fez refém?

O pequeno poder de existir, da autonomia, do dom da palavra, da percepção e crítica mais livre que a média tem nos conduzido a uma profunda consciência de responsabilidade para além de nós ou nos envaidecido para formar hordas que nos obedeçam cegamente, nos bajulem e se dobrem com o menor grau de questionamento e resistência possível à nossa autoridade e poder?

É muito sério ter poder. Qualquer poder. Precisamos encarar isso com muita responsabilidade ou a hipocrisia de uma existência bêbada em si mesma nos destruirá.

Se você se interessa por refletir um pouco mais acerca do tema, recomendo a leitura do artigo sobre liderança da Revista Harvard Business Review, com o tema 'O poder é capaz de corromper líderes; a compaixão de salvá-los' ou, recomendo a leitura de qualquer dos textos da crucificação do Cristo, que nos dá a lição mais que perfeita sobre autoridade e poder, escolhendo permanecer na cruz.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Democracia e representatividade: por que a anistia aos partidos políticos é um retrocesso

Tramita a passos largos na Câmara dos Deputados, e só não foi provado hoje (2/maio) porque teve pedido de vistas, a PEC que prevê anistia aos partidos políticos por propaganda abusiva e irregularidades na distribuição do fundo eleitoral para mulheres e negros. E na ânsia pelo perdão do não cumprimento da lei, abraçam-se direita e esquerda, conservadores e progressistas. No Brasil, ainda que mulheres sejam mais que 52% da população, a sub-representação feminina na política institucional é a regra. São apenas 77 deputadas entre os 513 parlamentares (cerca de 15%). E no Senado, as mulheres ocupam apenas 13 das 81 cadeiras, correspondendo a 16% de representação. Levantamentos realizados pela Gênero e Número dão conta que apenas 12,6% das cadeiras nos executivos estaduais são ocupadas por mulheres. E nas assembleias legislativas e distrital esse percentual é de 16,4%. Quando avançamos para o recorte de raça, embora tenhamos percentual de eleitos um pouco mais elevado no nível federal, a ime...

Narrativas. Vida. Caos. Desesperança.

  Quando eu era pastora repetia com muita frequência, aos membros da igreja, sobre a necessidade de submeterem o que ouviam de mim ao crivo do Evangelho, aprendi isso com o bispo Douglas e com o Paulo, o apóstolo rabugento (e por vezes preconceituoso), mas também zeloso com a missão cristã assumida. Outra coisa que eu repetia era que as pessoas só conseguiriam se desenvolver se exercitassem a capacidade de pensar. Nunca acreditei num Deus que aprecia obediência cega, seres incapazes de fazer perguntas. E cada vez mais falo a Deus que se ele não conseguir se relacionar com as minhas dúvidas, meus questionamentos, as tensões do meus dilemas e mesmo cada um dos incontáveis momentos em que duvido até dele, então ele não é Deus. Será apenas um pequeno fantasma das minhas invencionices mentais, portanto, irreal. E por que isso aqui da gaveta das minhas convicções e incertezas? Assim? A nossa História é basicamente um amontoado de narrativas. Ora elas nos embalam na noite escura e fria. O...

Reforma?

Daqui 11 dias celebraremos 505 anos da reforma protestante.  Naquele 31 de outubro de 1517 dava-se início ao movimento reformista, que dentre seus legados está a separação de Estado e Igreja. É legado da reforma também o ensino sobre o sacerdócio de todos os santos, na busca por resgatar alguns princípios basilares da fé cristã, que se tinham perdido na promíscua relação do poder religioso com o poder político. E, co mo basicamente todo movimento humano de ruptura, a reforma tem muitas motivações e violência de natureza variada. No fim, sim, a reforma tem sido muito positiva social, política, economicamente e nos conferiu uma necessária liberdade de culto.  Mas, nós cristãos protestantes/evangélicos, teremos o que celebrar dia 31?  Restará em nossas memórias algum registro dos legados da reforma? Quando a igreja coloca de lado seu papel de comunidade de fé, que acolhe e cura pessoas e passa a disputar o poder temporal, misturar-se à autoridade institucional da política, e...