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Mostrando postagens de dezembro, 2014

Eu prefiro a periferia.

Eu prefiro a periferia. Por lá não há nada, mas creia, nunca está vazia. Por lá, tira-se força extraordinária das dores para transformar a desgraça dos ais e turbulências do nada ter em reflexão, filosofia, arte e até poesia. Sim, frente à frenética hipocrisia das plumas e espaços brilhantes e frieza dos mármores congressionais, eu prefiro a periferia. Lá o Deus se faz gente, carne, sangue, vida efervescente, compadece-se do pequeno, feio, preto, pobre, bêbado, prostituta, cego, analfabeto, viciado e doente. Lá o Deus desce do céu e senta-se no chão ou à mesa - se houver, e se faz gente como a gente. Lá o Deus só tem uma regra, ela é simples e chama-se amor permanente. Eu prefiro a periferia Atropelada pela desumanidade Milagre! Humana se mantém na lama, no lixo, no esforço sôfrego da vida nos becos escuros, fedidos e sem saída, escadas de difícil acesso e subida. Talvez bem egoísta, eu prefira a periferia porque ela controla a minha própria in

A pergunta que ainda ecoa!

Era final de tarde, uma tarde daquelas em que a gente diz “uffa, é comer algo, tomar um banho, colocar os pés pra cima e relaxar”. Era. Mas, havia ali, muita gente. Gente cansada e faminta. Gente que não podia fazer nada por si. “Onde compr aremos comida para toda esta gente?”  A pergunta de mais de dois mil anos atrás venceu os limites da Galiléia e reverbera até nós, neste exato momento. Sabe o incrível? As mesmas respostas continuam sendo dadas e elas giram em torno da negativa de condições na resolução de problemas como a fome – que poderia aqui representar a privação de direitos. O Evangelho diz que o Cristo já sabia o que estava por fazer, mas colocou a questão para ver qual seria a resposta dada a ela por aqueles que se diziam seus discípulos. A questão continua e a expectativa do Cristo também.  Já agora, ele aguarda resposta da Igreja frente também à fome, mas não apenas de uma refeição no meio de uma peregrinação – a que alcança no Brasil ainda, em 3,4 milhões de pe

Escolhas

É assim, mais simples do que supomos, sem choro nem reza: cada escolha uma sentença. E nas escolhas ... Os caminhos podem ser de pedras e causar feridas, e pelas veredas bem tortuosas, ainda é possível que nos rasguemos em espinhos. Mas há flores e luzes e águas também, às vezes até corredeiras que por breves tempos levam pra longe da gente o suor da caminhada, as lágrimas da tensa estrada e nos lavam o corpo e renovam a alma, dão-nos pele limpa, esperança, novo e bom cheiro, nova energia. E ainda nos falam, as águas, para seguirmos com o alerta de se para trás olharmos que seja apenas para nos lembrarmos "do que foi bom". À beira dos caminhos há frutos danosos, venenosos que a fome nos precipita prová-los. Há o fruto, porém, da esperança, que corta o poder do veneno e alimenta ... a alma para que busque o pão para o corpo e seguimos. Há trevas nos caminhos e nelas apenas se percebem o uivos apavorantes e no terror da noite escura, às vezes, não há pr

#Versos: É preciso

É preciso calar a alma  E emudecer o coração É preciso enxugar a face E crer que existe outra razão É preciso ir além da fala E dar nova semente ao chão É preciso regar a terra E aprender a equilibrar a emoção É preciso renovar a mente todo dia Na esperança de não viver em vão

O Voo - Controle

Ah, esse nosso louco desejo por controle... Gastamos nossos dias num esforço sobre-humano por provar sermos capazes de controlar tudo ao nosso redor, tudo o que nos diz respeito e se possível, até o que não nos diz - diretamente - respeito. Mas, do alto de milhares e milhares de metros, no meio de uma turbulência em um voo, talvez seja uma das mais gritantes amostras de que esse tal controle não é compatível com as nossas capacidades. Inexiste, assim, para nós. Quem somos, afinal? O que de fato podemos fazer sobre os elementos que nos rodeiam e as forças do sistema em que estamos inseridos e do qual sequer temos noção de tamanho? Sabemos da sua imensidão, e talvez por isso, no desespero  da nossa incapacidade de medi-lo, impor-lhe regras e estabelecer-lhe controle, tentemos nos colocar no seu centro e defini-lo a partir de nós, nossos desejos, sonhos, necessidades, ambições, problemas, medos. E aí, se não temos controle, resta-nos "aproveitar" a visão estontean