A política, muito genericamente falando, é o espaço da consertação - quando problemas, questões, divergências e a pluralidade de visões de mundos e caminhos são postos à mesa para que coletivamente busquemos, com diálogo e pactos, soluções comuns para os problemas e demandas da sociedade, junto aos arranjos técnicos e socias que a compõem.
Significa, portanto, que para pensar e fazer política não se pode prescindir de condicionantes.
As condicionantes são a um tempo, lugar de partida e também norte a uma chegada. Ou seja, estando à mesa uma demanda social para qual precisemos de solução, o ciclo que se segue é buscar os agentes sociais e políticos que tenham conexão de ação ou contraposição àquela demanda para que pensem, estruturem e construuam a solucionática ao que ali está.
Essa conjunção de esforços pode exigir, por exemplo, que forças políticas divergentes se unam. E elas o farão com uma finalidade e um arranjo construído em cima de compromissos mútuos, de responsabilidades que digam respeito ao espaço de cada coletivo, e ao comum que os pede ou os coloca no mesmo lugar.
Para que a solução daí emanada seja o mais sadia possível e com sustentabilidade social e política suficiente para torná-la realidade, dão-se os pactos - que por sua vez tem origem em concessões e composições dentro de limites éticos.
Não é tão complexo assim perceber essa estrutura. A complexidade está em chegar às definições sobre o que une as forças sociais e políticas, o que as afasta, o que cada uma pode e do deve abrir mão para compor em nome de uma conjuntura, ou pela consolidação de uma posição, construção para que algumas realidades se deem ou outras sejam alteradas.
No Brasil desse hoje politicamente virulento, de sufocamente democrático e de aviltamento social, em que parecemos todos encarcerados e sob tortura, há muito se diz e pede que todas as forças sociais e política que tem responsabilidade com o país se unam.
Agora, nunca se deveria demandar que essa unidade seja ao custo e sacrifício das condicionantes programáticas possíveis entre as forças sociais e políticas. Afinal, o simples fato de se fazer coro a um pedido dessa natureza significa impor violação do pacto democrático básico sobre qual sociedades modernas se constróem: pluralidade.
Reduzir a pluralidade de pensar, propor, apontar caminhos e mesmo divergir, já é de partida uma quebra à unidade para uma lógica de imposição por auto-descaracterização.
Se o momento é delicado, é também o marco temporal que mais impõe responsabilidade às forças políticas que melhor agregam capacidade, por exemplo, em uma disputa eleitoral, a que façam os movimentos de diálogo, escuta às condicionantes dos possíveis parceiros, análise, devolutiva, construção de pontes, apontamento de alternativas para que se dêem concensos.
Respeito à democracia é também, e no contexto vivido no Brasil hoje, basicamente colocar de lado as tendências ao adesismo sem custo para necessariamente se estabelecer pactos programáticos com limites éticos e condicionantes bem claros. Quem sabe assim não avancemos em definitivo à maturidade política e democrática que tanto desejamos e carecemos?
O Brasil precisa estabelecer pactos pela democracia e por uma outra lógica social e política bem distante dessa sobre a qual se constrói.
E para isso precisamos compreender que pacto não é adesão sem condicionante. Aliás, isso seria completamente irresponsável com o país e suas gentes e por isso, sequer aventado por quem quer que seja.
Não estará passando da hora de a nossa pressão ser sobre quem tem essa capacidade de virar a chave no pleito eleitoral, no sentido de busca a quem ainda não se somou formalmente? E de deixar de lado os gritos de adesão cega e irresponsável?
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