Pular para o conteúdo principal

Democratizar a democracia, um desafio urgente!

Hoje é o Dia Internacional da Democracia. A data foi instituída pela ONU com o objetivo de dar mais visibilidade às necessidades de processos de desenvolvimento baseados no respeito aos direitos humanos e nas liberdades fundamentais, promovendo democratização dos espaços dos poderes públicos e nas relações da sociedade. 
Ao definir a data comemorativa a ONU reafirmou que a “democracia é um valor universal  baseado na vontade, expressa livremente pelo povo, de determinar o seu próprio sistema político, econômico, social e cultural, bem como na sua plena participação em todos os aspectos da vida.” 

Segundo o  Índice da Democracia – que se propõe a avaliar o estado da democracia em 167 países a partir de cinco categorias gerais, a saber:

  • Processo eleitoral e pluralismo
  • Liberdades civis
  • Funcionamento do governo
  • Participação política
  • Cultura política 
Ao invés do avanço consistente da democracia, nos últimos anos temos visto por todo o mundo uma crescente de movimentos que andam na contramão desse ideal e regimes totalitários ganham musculatura.

Esse mesmo índice aponta que o Brasil é caracterizado como democracia imperfeita. Isso significa que desde a redemocratização avançamos nos quesitos relativos ao processo eleitoral e pluralismo e liberdades civis. Mas retrocedemos quando são observados os quesitos que avaliam a participação política, o funcionamento do governo e a cultura política. Por isso, a categoria em que estamos é um alerta, pois nos fala de um estado perigoso de ameaça à democracia.

E esse alerta nos grita quando diz que fomos o 4º país que mais se afastou da democracia no último ano. A todo momento somos sacudidos por rompantes autoritários dos nossos governos que estão marcados por baixa disposição a submeterem as estruturas governamentais e do Estado ao crivo do controle social, às demandas de transparência e de abertura dos códigos da política a mais cidadãs e cidadãos.

Aqui no Distrito Federal, seja no Poder Executivo e mesmo na Casa Legislativa, esses princípios elementares da democracia: TRANSPARÊNCIA de atos e decisões, e reconhecimento e promoção da PARTTICIPAÇÃO CIDADàtem sido menosprezados.
Isso é muito preocupante. E a consequência direta e imediata é o aumento da corrupção, do mal uso dos recursos públicos e a criminalização da política pelo aumento do descrédito da população na sua capacidade de interferir, modificar e melhorar os sistemas políticos.

Assim, o sentimento comum da população é: se meu voto e a minha participação não importam e não fazem diferença, então, o caminho das ditaduras, dos regimes totalitários acaba sendo o que resta. O que temos como resultado é menor resistência da população aos processos autoritários e aos ataques aos sistemas democráticos.

O dia de hoje precisa ser um chamado às autoridades públicas, em todas as esferas de poder, para que percebam a potência de suas posturas, para o bem ou mal, e recobrem o sentido de serviço na política pela valorização e fortalecimento da democracia.

É nossa responsabilidade, individual e coletiva, fomentar mais transparência nas Casas Legislativas e no Poder Executivo; trabalhar por governos abertos, que respeitem os espaços de participação da sociedade, que se submetam ao controle social; construir uma nova cultura política – que promova a autonomia e o livre exercício da cidadania; promover processos eleitorais cada vez mais justos e com real representatividade social, capazes de fortalecer uma sociedade cada vez mais diversa, plural para mais democracia.

Que todas e todos estejamos sensíveis aos perigos que nos rondam e o que eles significam e que nos disponhamos ao diálogo, como caminho à promoção de mais democracia.

Democratizar a democracia, um desafio urgente!
Democratizar a democracia é o nosso desafio. Já!

Ádila Lopes
porta-voz, REDE/DF

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Democracia e representatividade: por que a anistia aos partidos políticos é um retrocesso

Tramita a passos largos na Câmara dos Deputados, e só não foi provado hoje (2/maio) porque teve pedido de vistas, a PEC que prevê anistia aos partidos políticos por propaganda abusiva e irregularidades na distribuição do fundo eleitoral para mulheres e negros. E na ânsia pelo perdão do não cumprimento da lei, abraçam-se direita e esquerda, conservadores e progressistas. No Brasil, ainda que mulheres sejam mais que 52% da população, a sub-representação feminina na política institucional é a regra. São apenas 77 deputadas entre os 513 parlamentares (cerca de 15%). E no Senado, as mulheres ocupam apenas 13 das 81 cadeiras, correspondendo a 16% de representação. Levantamentos realizados pela Gênero e Número dão conta que apenas 12,6% das cadeiras nos executivos estaduais são ocupadas por mulheres. E nas assembleias legislativas e distrital esse percentual é de 16,4%. Quando avançamos para o recorte de raça, embora tenhamos percentual de eleitos um pouco mais elevado no nível federal, a ime...

Narrativas. Vida. Caos. Desesperança.

  Quando eu era pastora repetia com muita frequência, aos membros da igreja, sobre a necessidade de submeterem o que ouviam de mim ao crivo do Evangelho, aprendi isso com o bispo Douglas e com o Paulo, o apóstolo rabugento (e por vezes preconceituoso), mas também zeloso com a missão cristã assumida. Outra coisa que eu repetia era que as pessoas só conseguiriam se desenvolver se exercitassem a capacidade de pensar. Nunca acreditei num Deus que aprecia obediência cega, seres incapazes de fazer perguntas. E cada vez mais falo a Deus que se ele não conseguir se relacionar com as minhas dúvidas, meus questionamentos, as tensões do meus dilemas e mesmo cada um dos incontáveis momentos em que duvido até dele, então ele não é Deus. Será apenas um pequeno fantasma das minhas invencionices mentais, portanto, irreal. E por que isso aqui da gaveta das minhas convicções e incertezas? Assim? A nossa História é basicamente um amontoado de narrativas. Ora elas nos embalam na noite escura e fria. O...

Reforma?

Daqui 11 dias celebraremos 505 anos da reforma protestante.  Naquele 31 de outubro de 1517 dava-se início ao movimento reformista, que dentre seus legados está a separação de Estado e Igreja. É legado da reforma também o ensino sobre o sacerdócio de todos os santos, na busca por resgatar alguns princípios basilares da fé cristã, que se tinham perdido na promíscua relação do poder religioso com o poder político. E, co mo basicamente todo movimento humano de ruptura, a reforma tem muitas motivações e violência de natureza variada. No fim, sim, a reforma tem sido muito positiva social, política, economicamente e nos conferiu uma necessária liberdade de culto.  Mas, nós cristãos protestantes/evangélicos, teremos o que celebrar dia 31?  Restará em nossas memórias algum registro dos legados da reforma? Quando a igreja coloca de lado seu papel de comunidade de fé, que acolhe e cura pessoas e passa a disputar o poder temporal, misturar-se à autoridade institucional da política, e...