Pular para o conteúdo principal

Forma e conteúdo, o que o tempo nos está ensinando


Minha próxima tatuagem será algo assim. Só tenho uma. Por hora.

Eu amo essas peças de vida, contorcidas.
A gente olha e não dá nada. Despreza. Sentencia feiúra. 

É que a gente valoriza os invólucros. Idolatra a aparência que nos é vendida padrão.

E despreza conteúdo. Não compreende a potência das raízes.

Então a gente constrói sobre a areia fofa,  que tem o seu lugar. Não para base. Não a algo que se deseja perene.

O que esse tempo nos tem ensinado? 

Da solidão. De multidões emocionais nos cubículos da nossa alma,  todas juntas e ao mesmo tempo, agora e sem pedir licença, sem aviso-prévio, sem agendamento. O quanto a solidão nos importa? Por que nos importa? O que nos constrói e desconstrói?  Por que a tememos? Para que a veneremos?

Da presença. Das milhares de vozes humanas em laços familiares dos quais nos desacostumamos porque a era do cada um por si virou grito de independência e solidez social. Plástico?

Das impercepções das almas, método de existir de distantes que regia nossos dias e que agora nos cobra a conta da desconexão e o não saber o que fazer com a mão vazia,  solta, fria.

O que somos afinal? 
O que nos tornamos?
Do que somos feitos?

Corpo, alma, inteligência, ambições, sonhos compartilhados, sorrisos que se desmancham lágrimas.  Em que medidas as tintas da vida nos pintam ante o universo inescrustável e nos fazem quadros de um tempo ou arte universal?

O que ainda há de nós em nós?

Somente as raízes poderão dizer.
Somente raízes poderão nos gerar mais amanhecer que nos permita frutos e a eternização desejada,em sonhos, em esperança, legados humanitários. Em outras vidas.

Somente as raízes nos podem revelar origem e continuidade.

Somente as raízes de quem somos.
E nada mais.

Nada mais.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Democracia e representatividade: por que a anistia aos partidos políticos é um retrocesso

Tramita a passos largos na Câmara dos Deputados, e só não foi provado hoje (2/maio) porque teve pedido de vistas, a PEC que prevê anistia aos partidos políticos por propaganda abusiva e irregularidades na distribuição do fundo eleitoral para mulheres e negros. E na ânsia pelo perdão do não cumprimento da lei, abraçam-se direita e esquerda, conservadores e progressistas. No Brasil, ainda que mulheres sejam mais que 52% da população, a sub-representação feminina na política institucional é a regra. São apenas 77 deputadas entre os 513 parlamentares (cerca de 15%). E no Senado, as mulheres ocupam apenas 13 das 81 cadeiras, correspondendo a 16% de representação. Levantamentos realizados pela Gênero e Número dão conta que apenas 12,6% das cadeiras nos executivos estaduais são ocupadas por mulheres. E nas assembleias legislativas e distrital esse percentual é de 16,4%. Quando avançamos para o recorte de raça, embora tenhamos percentual de eleitos um pouco mais elevado no nível federal, a ime...

Narrativas. Vida. Caos. Desesperança.

  Quando eu era pastora repetia com muita frequência, aos membros da igreja, sobre a necessidade de submeterem o que ouviam de mim ao crivo do Evangelho, aprendi isso com o bispo Douglas e com o Paulo, o apóstolo rabugento (e por vezes preconceituoso), mas também zeloso com a missão cristã assumida. Outra coisa que eu repetia era que as pessoas só conseguiriam se desenvolver se exercitassem a capacidade de pensar. Nunca acreditei num Deus que aprecia obediência cega, seres incapazes de fazer perguntas. E cada vez mais falo a Deus que se ele não conseguir se relacionar com as minhas dúvidas, meus questionamentos, as tensões do meus dilemas e mesmo cada um dos incontáveis momentos em que duvido até dele, então ele não é Deus. Será apenas um pequeno fantasma das minhas invencionices mentais, portanto, irreal. E por que isso aqui da gaveta das minhas convicções e incertezas? Assim? A nossa História é basicamente um amontoado de narrativas. Ora elas nos embalam na noite escura e fria. O...

Reforma?

Daqui 11 dias celebraremos 505 anos da reforma protestante.  Naquele 31 de outubro de 1517 dava-se início ao movimento reformista, que dentre seus legados está a separação de Estado e Igreja. É legado da reforma também o ensino sobre o sacerdócio de todos os santos, na busca por resgatar alguns princípios basilares da fé cristã, que se tinham perdido na promíscua relação do poder religioso com o poder político. E, co mo basicamente todo movimento humano de ruptura, a reforma tem muitas motivações e violência de natureza variada. No fim, sim, a reforma tem sido muito positiva social, política, economicamente e nos conferiu uma necessária liberdade de culto.  Mas, nós cristãos protestantes/evangélicos, teremos o que celebrar dia 31?  Restará em nossas memórias algum registro dos legados da reforma? Quando a igreja coloca de lado seu papel de comunidade de fé, que acolhe e cura pessoas e passa a disputar o poder temporal, misturar-se à autoridade institucional da política, e...