Nós, evangélicos, chamamos a Bíblia de a Palavra. Então, aqui estou procurando na Palavra alguma palavra que ainda me faça sentido.
Há muito novas palavras não me visitam. Permaneço em busca de ressignificar as tantas que há tanto tempo me acompanham, as que me habitam, as que me vestem, as que me escondem, as que me alimentam, as que me tiram o fôlego, aquelas que vem fazem chorar e também aquelas que aquecem minha alma, me dão riso e festa.
Há em mim, ou em volta de mim, palavras em silêncio que não entendo, que não consigo decifrar, cujas combinações de letras não me fazem sentido. E elas me rasgam, me sangram. As vezes me provocam.
Há aqui, dentro de mim também, ou a me assediar continuamente, palavras exaltadas, de vozes alteradas, gritos muitas vezes vazios. Noutras são anseios profundos de existir.
As palavras são luzes na minha jornada. Mas preciso confessar que também, às vezes, confundem meu caminho e escurecem meus dias porque pesam.
Um dia li o Cristo dizendo que 'quem crê em mim como diz a Palavra do seu interior fluirião rios de águas vivas' e isso orientou minhas escolhas, meus dias, meu permanecer, meu tornar-me.
Mas o Cristo tornou-se turvo em tantas palavras de dores, de medo, de ódio até, tão mais falantes que a Palavra, ele mesmo revelado em códigos que se colocavam a nos ajudar lidar com o mistérios do universo.
Eu me perdi dele tantas vezes. É que eu não o via mais na Palavra, que perdeu tanto do sentido que guiou meus pés. Não o vejo, quase sempre. A verdade é que entre noites e dias a Palavra continua aqui, dentro de mim, como um rio encoberto por galhos de inseguranças e dúvidas, revoltas e tristezas. Mas, se vivo é ela quem continua fluindo vida em mim. Por isso a procuro ainda, tímida e temerosa, torcendo por um novo significado, uma revelação, um aconchego, uma exortação, uma divina providência que ainda me falta no meio de tantas ausências que me possuem.
E a Palavra me revela o Cristo para além das letras - simples e amoroso nas pessoas, na criação, na esperança que mesmo sôfrega vive e mantém vivo o correr da existência sobre a Terra.
Se são apenas palavras, cadê o sentido?
Queremos tantas palavras que nem entendemos. E se nos bastassem amor e esperança?
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