Quando eu era menina adorava ler dicionários. Para mim eram universos de palavras que abrindo outras palavras e estas abrindo outros universos, numa infinita cadeia de conexões e seus significados.
Minha mente ia à loucura. Ficava serelepe. Eufórica. Eu, em completa ansiedade para encontrar contexto de uso àquelas novas descobertas.
As palavras sempre me impressionaram. E o sentido, então!
Desde ontem tenho refletido muito especialmente, sobre uma palavra cujo sentido nos tem passado em branco. RESPEITO.
Sempre considerei que conhecer uma palavra me tornava mais rica, porque me ampliava a visão, posto que uma palavra não fecha um conceito, mas o conecta a outro, cria pontes entre mundos que distantes estavam e que, de outro modo não se aproximariam, e apontam às divergências - sem necessariamente promover exclusão de existir.
Depois passei a considerar que as palavras, como a vida cuja origem está nelas, assim acredito, são dinâmicas. Ou seja, elas não se fazem estanques nas eras da existência. Antes, podem se resignificar infinitamente, mas, sem tomar o seu contrário original. É uma nova conexão que a robustece e aperfeiçoa.
Isso no meu leque conceitual.
RESPEITO. RESPEITAR.
Consideração. Dar importância ou atenção. Agir de modo a não ferir, não prejudicar, não ofender (alguém), ou não destruir (algo). Admitir a existência ou o valor. Reconhecer. Importar-se. Ponto de vista, aspecto. Motivo, causa.
Sabe aqueles livros dos quais a gente se desfaz e se arrepende? Tenho dois exemplos: dicionários sobre a origem de palavras da raiz grega e do latim. Eu os utilizava para preparar os sermões (pregações) para a igreja.
Pois bem, dizem os da etimologia, que a palavra RESPEITO vem do «lat[im] respectus,ūs, significando "ação de olhar para trás; consideração, atenção, conta; asilo, acolhida, refúgio".
Respeito, prosseguem os dicionários, quer dizer, entre outras coisas, «ato ou efeito de respeitar(-se)»; «sentimento que leva alguém a tratar outrem ou alguma coisa com grande atenção, profunda deferência; consideração, reverência»; e «estima ou consideração que se demonstra por alguém ou algo».
A todo instante cobramos respeito e, no geral conectamos o seu sentido e significado à autoridade de posição hierárquica e à obediência tácita.
Não vou alongar o palavreado referenciando os variados sentidos à palavra. Prendo-me a provocar que olhemos sua origem e as conexões a que aponta.
Não seria isso base suficiente a que revisitemos nossos sentimentos e resignifiquemos nossas posturas frente ao outro, mas a partir de outros aspectos acerca de nós mesmos?
Olhar para trás, às vezes, é o que precisamos para que os passos adiantes não se dêem em falso.
Assumirmo-nos refúgio pode ser mais potente que impor ação cujo sentido apenas cabe a nós.
Tratar a outra pessoa, interlocutora dos nossos anseios e receptora da nossa existência, com atenção que a valorize gente pode ser a chave para conquistar a sua alma e, portanto, desenvolver uma conexão tão profunda que nem as piores intempéries a abalam.
Talvez, na ausência de sensibilidade para entender respeito e seus significados, voltar a palavra rasa nos ajude a perceber que a vida é mais que uma tarefa bem cumprida.
RESPEITO no tempo da ignorância: tesouro de valor imensurável e, por óbvio, apenas valorizado por quem o experienta.
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