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Nenhuma pessoa é sozinha. Nem Deus.

Entre as características que fazem as grandes lideranças está a profunda consciência de que ninguém vence sozinha até que todos vençam. Por mais óbvio possa parecer, ainda precisa ser dito: nenhuma pessoa é sozinha, nem mesmo Deus.
O grande chamado do pacto dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, proposto pela Organização das Nações Unidas, traz exatamente essa chave, quando toma por mote aos compromissos assumidos pelos países signatários, 'NÃO DEIXAR NINGUÉM PARA TRÁS'. Isso também pode se aplicar a nos despertar, nos nossos pequenos espaços de liderança (ou não tão pequenos assim), um princípio elementar nos ensinando que a liderança cuja vitória é sua apenas, faz-se a mais derrotada, fraca e medíocre das lideranças.

Neste processo de reflexão volto outra vez às referências da minha vida, porque é o que forma o meu caráter.

O ensino do Jesus está cheio desse paradigma de liderança - que só vence quando todos vencem -, quando fala da ovelha perdida - em que 99 ovelhas são deixadas seguras no aprisco e o pastor sai pelos vales e colinas até encontrar a 100ª e trazê-la para junto das outras, em segurança. Ou na parábola da dracma perdida, cujo mesmo princípio é aplicado. E mesmo quando relata a história do filho pródigo, que por escolha própria se vai. Mas a alegria da comunidade só se faz quando do seu retorno. E muitos outros exemplos poderiam ser trazidos.

Uma pergunta que deveria, talvez, nos visitar a cada passo de chegada, tem a ver com o quanto nos sentimos motivados a voltar e ajudar as outras pessoas da nossa equipe, aquelas menos hábeis, que ficaram para trás?

A grande busca da humanidade, é provável que resida na necessidade de se fazer comunidade. Isso mesmo numa lógica social que enaltece o individualismo ao extremo. Assim, se chegar ao espírito comunitário em escala global é um desfio de natureza homérica, começar pelos nossos pequenos grupos e equipes de trabalho - por exemplo - desenvolvendo o compromisso de não deixar ninguém para trás, poderia nos amenizar o sofrimento do não pertencimento que a cultura do eu impõe.

Às vezes, na posição de líderes, estamos tão tomados pelo desejo de cruzar a linha de chegada, porque a corrida é pesada, e somos tão freneticamente empurrados pelas demandas de resultados, que esquecemos que uma comunidade se faz quando há real entendimento de todos os indivíduos, mas a começar das lideranças, que ninguém vence até que todos vençam. Ou serão inócuas as nossas ações. Produziremos resultados plásticos, do tipo que até dura uma eternidade, mas não sustentam vida. Ao contrário, degradam.

E se impuséssemos a nós algumas questões, como:
  • Quantas das nossas ações e construções estão focadas em chegarmos na frente?
  • Quanto estamos dispostos a repensá-las colocando-os sob a perspectiva de chegarmos juntos?
  • Quanto estamos dispostos a retornar do ponto a que chegamos para ajudar alguém a cruzar a linha de chegada, mesmo que isso ponha em risco o nosso resultado individual?

Há muito está disseminado entre os povos que não somos uma ilha, mas parte de um todo. O que significa, dentre tantas coisas, que nenhuma pessoa é ou se faz sozinha - por seus próprios e únicos méritos. No entanto, a nossa força é, no geral, ensinada à busca por caminhos e resultados que falam do coletivo, mas se inspiram na ação individual. Ou, disciplinadamente nos pomos à construção de um outro paradigma, ou a nossa fala fará eco apenas ao nosso ego.

Se o Deus é trindade, por que insistimos em querer ser sozinhos?

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