A política não tem proprietário. Tem construtor, o cidadão. Por isso, creditar à política status de organização partidária e relegá-la às mãos de alguns poucos iluminados tira-nos autonomia e por consequência, autoridade; faz-nos subservientes aos sistemas, quando menos pior, espectadores; dá à representação status e autoridade substitutiva que nunca caberia; afasta-nos dos eixos decisórios da vida comunitária e, no lugar da soberania popular, coloca a burocracia e a briga por pequenos poderes como mandatários.
Nos tempos atuais, quando no mundo todo - de norte a sul - ecoam gritos de "vocês não nos representam", o que mais vemos são instâncias decisórias no Estado, nos Governos e nas organizações partidárias é o sistema se repetindo em autoritarismo, numa quase demência comportamental de quem se tem certeza de propriedade da ágora, da política e do fazer política, ao invés de os entes humanos ou organizativos se lançarem ao exercício crítico dos seus processos de ações internas e externas e suas conexões entre motivos e motivações e o alcance e impacto delas,
Resultado óbvio (desprezado): mais pessoas longe da política institucional ou partidária.
❓ (Isso) é bom ou ruim?
Se considerarmos como meta do nosso fazer política quebrar o monopólio dos partidos, pode ser de indiferente para muito bom. Afinal, a política deveria ser a criação de livre atuação do povo por sua organização de vida em sociedade e por discutir, propor e construir melhorias desses sistemas de vida.
Pode ser bom se esse movimento tirar as pessoas das sucursais partidárias e levá-las a (re) criar as assembleias do povo, com o povo e para o povo - por política em todos os espaços sociais, na perspectiva de movimentar o Estado e sociedade em prol da comunidade.
Pode ser ruim quando a transição da dependência formal para construção de quase toda política pública sequer foi iniciada (em termos de abrangência e consistência); quando a cidadania não se colocou como uma rotina e é mera desconhecida da esmagadora maioria da população e apenas uma palavra abstrata e difícil de significar.
Pode ser péssimo quando o caminho é a criminalização da política.
Há construções político-partidárias que escapam disso?
Totalmente não creio. Sei das que se esforçam e que, com absoluta dificuldade, tentam oxigenar o sistema construindo pontes para uma outra prática política - pensada, feita e mantida na centralidade da cidadania autônoma e autoral e não na burocracia partidária. Como essa construção é feita de gente, é também cheia de vícios e dependência dos ciclos de comando e controle e das práticas de todo o velho sistema, apenas, quase sempre, com roupagens pouco diferentes.
Romper monopólio exige enfrentamento. Libertar-se de vícios impõe determinação. Ambos só podem alcançar êxito se forem propósitos coletivos.
❔ Queremos?
Primeiro passo: possuir firme consciência de que partidos não podem ter o monopólio da política.
Primeiro passo: possuir firme consciência de que partidos não podem ter o monopólio da política.
Se partidos não são CNPJ em papéis nem, apenas, sistemas de organização burocrática, mas pessoas em papéis sociais e de serviço, podendo lançar mão das organizações burocráticas para construção de ecossistemas humanos e sociais e, quem sabe, maximizar alcance de pluralidade, não é ao CNPJ o enfrentamento. Tanto quanto não é à desconstrução do sistema burocrático o foco das energias de quebra do que está posto. Mas à cultura que domina as pessoas que constroem os sistemas políticos atuando em torno de si e para sua manutenção, quando deveriam existir em razão das pessoas e para serviços às pessoas e às relações sociais.
A demanda, portanto, é por uma nova cultura política e isso passa, necessariamente, por pessoas que permitam oxigenar a mente com práticas de autonomia, ativismo autoral, descentralização, emancipação, criatividade, colaboração, generosidade e o tornar-se apenas mais um nos processos coletivos - quando todos somos importantes sim, proprietários da ação coletiva, nunca.
É um desafio coletivo, que nos pede energia coletiva para pensar e construir outros caminhos, em que a voz decisória na política não se restrinja aos partidos e suas performances, mas devolva ao cidadão poder de dizer e realizar.
É um desafio coletivo, que nos pede energia coletiva para pensar e construir outros caminhos, em que a voz decisória na política não se restrinja aos partidos e suas performances, mas devolva ao cidadão poder de dizer e realizar.
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