Quase três anos depois de manter-me longe da literatura de administração e negócios, voltei a folheá-la, revisitando o impulsos de algumas das suas facetas e perspectivas frente.
É da edição nº 124 da HSM Management que vem inspiração para estas linhas, não para escrever sobre liderança de mercados e negócios, mas política.
"Ausência de ego, a sensação de intemporalidade, a motivação natural e a riqueza criativa, que surgem quando as pessoas estão em êxtase, podem alavancar seu desempenho". São estes os atrativos com os quais Steven Kotlen e Jamie Wheal nos levam para o artigo 'Habilidades que vêm do fluxo da consciência'.
O começo é um registro sobre o desafio de Larry Page e Sergey Brin, fundadores do Google, no dilema da escolha um CEO que desse ao mercado e investidores a segurança que eles, jovens, em 2001, não conseguiam dar. Para além das qualificações técnicas, "eles queriam alguém que conseguisse deixar o ego de lado a fim de compreender profundamente os planos e anseios da organização".
Essa pessoa precisaria passar por um teste fora do escopo habitual e a grande questão no desafio da superação a que deveria ser submetida era se ela se refugiaria em si mesma ou se se fundiria com a equipe.
Page e Brin buscavam que, no desafio do super stress e êxtase, seu CEO fosse capaz de trabalhar sob o regime da cooperação profunda, que fosse capaz de suportar, no teste, o calor escaldante, as tempestades de areia, as noites em claro e a implacável estranheza do "não dou a mínima para quem você é". É o recorte que nos traz o artigo.
Eric Shmidt passou no teste do Burning Man e se colocou no lugar do homem ideal para liderar e realizar o sonho de crescimento do Google.
A leitura me transportou para o nosso desafio político, quando o teste do Burning Man é a vida real contínua que alcança cidades inteiras, unidades federativas, o país e seus mais de 200 milhões de vidas humanas e a relação e dependência de suas vidas com a biodiversidade, suas demandas e potenciais, bem como as consequências oriundas da forma como encaramos os sistemas de vida sobre e sob a terra que habitamos, e sua intersecção com todos os mundos que a compõem e mesmo aqueles que julgamos fora dela.
No nosso momento de trevas e insegurança, em que dançamos sob movimentos bruscos dos rodopios das disputas, o que mais precisamos agora é da figura de liderança de um novo tipo. Aquela capaz de se fundir à equipe para superar os desafios como uma figura única, não centrada em si, mas única porque é resultado do todo de que faz parte, porque é mais um. Liderança capaz de inspirar movimentos de autonomia e ao mesmo tempo de interdependência pela decisão de tornar-se e realizar sob a proteção e no esteio poderoso da colaboração. Liderança que não se sente ofendida ou arruinada se não for percebida como apenas uma parte do todo. Liderança cuja bússola não é o ego, mas a visão do serviço. Liderança disposta a navegar na direção dos ventos contrários, não por irresponsabilidade de ação personalística e egocentrada, mas em razão da consciência de fazer o que precisa ser feito a despeito dos ventos contrários.
Quando o fluxo da nossa consciência segue a biruta dos ventos do nosso ego, o êxtase do fazer só nos levará a catalizar o autoritarismo e a anulação da força comum, o que nos fará, portanto, pomposos, porém frágeis.
Se o fluxo da nossa consciência segue o comum e a biruta dos ventos das nossas ações é a colaboração, catalizaremos autoridade distribuída e, portanto, fortalecida em muitos, tornando-nos pedrinhas construtoras, bases longevas do poder de realizar e em toda parte replicando o grande sonho comum.
A pista está aberta. A música está tocando. Os corpos estão se movendo. Alguns freneticamente em torno de projetos pessoais, conforme lhes conduz o ego. A outros a colaboração convida para uma parceria harmônica em perfeitos passes que alegram, motivam e dão brilho aos olhos e convidam mais e mais parceiros a se juntarem.
O que vamos escolher? Que música embalará nossos movimentos?
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