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Último cristão

Nós, os que inflamos o peito ao nos dizermos cristãos se cristãos fôssemos, um Brasil mais justo e mais solidário nos entregaríamos para construir.

O que nos importa, porém, é discutir o sexo dos anjos, é controlar a sexualidade alheia; é esbanjar a nossa certeza de sermos abençoados (esquecendo de nos desenvolvermos abençoadores); é exaltar o justiçamento na vingança e intolerância e desconsiderar que o nosso desequilíbrio gera as mazelas que alimentam nossos monstros.

Alguém já disse que o último cristão morreu pregado na Cruz. Sim, e ele lá permanece, vilipendiado, humilhado, já não não exaltado no poder da entrega, mas sucumbindo porque, ainda que seja Ele - o filho do Criador, a sua ressureição, poder, autoridade e glória operam é na vida imperfeita dos ciclos do nosso existir e na medida em que vai se assemelhando à plena que nos foi dada no paraíso, quando nos dispomos a plantar jardins aqui na terra, pelo exercício das virtudes do Reino de Justiça e Paz que ele nos deu exemplo de como construir.

Se não é assim, nosso cristianismo é mentiroso e na mentira nos fazemos filhos do diabo, trazemos o inferno das nossas almas, atormentadas, ao mundo e imundas fazemos a criação e as relações humanas que, absolutamente utilitaristas e só, nos tiram o significado de ser, nos esgotam a esperança, nos despedaçam em desumanidades.

Mas o último cristão pode reviver e reinar todas as vezes que mergulhamos nos mistérios das virtudes do Cristo tendo sincero desejo de nos redescobrirmos gente que precisa de outra gente para ser decente. E nos pequenos atos, escolhas e expressões nossos, Ele vive.

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