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Trabalho e Sindicalismo

Faltam-nos reflexão e espírito crítico.

Acredito que o Brasil precise de uma reforma previdenciária, de uma reforma trabalhista, de uma reforma tributária e fiscal e, essencialmente, de uma REFORMA POLÍTICA.

A ausência dessa essencial reforma, a política, nos deixa, a todos reféns de um sistema apodrecido que se retroalimenta, ano após ano, e que numa avassaladora capacidade de ação, apodrece também a todos os sistemas de serviços à sociedade - seja através do aparato estatal, seja pela produção econômica nas mais variadas frentes de ação. E nisso. a premissa número um é a sobreposição do interesse individual e de pequenos grupos à coletividade e ao estado de equidade, justiça e desenvolvimento sustentável de que necessitamos.

TRABALHO, EMPREGO E RENDA

Neste país, emprego e renda são gerados, significativamente, pelas quase 9 milhões de micro e pequenas empresas espalhadas de norte a sul, leste a oeste. Segundo o SEBRAE, esses pequenos negócios produzem à economia brasileira 27% do PIB, 52% dos empregos com carteira assinada e 40% dos salários. Entretanto, apesar de serem o motor faz a economia circular, é preciso destacar que os micro e pequenos empresários chegam a tais números e resultados ao preço de uma trajetória heróica e de muitos e profundos sacrifícios pessoais em razão de uma bem viva e indecifrável veia empreendedora somada à responsabilidade que enxergam ter com o país, sabendo o tamanho do impacto negativo do fechamento de negócios.

De onde vem esse sufocamento?

Legislação trabalhista que não atende às demandas e certos aspectos de flexibilidades dos novos tempos e da nova economia e, um sistema de tributação que beneficia grandes corporações.

A reforma em curso, como um trem em altíssima velocidade e sob gestão de um super controle remoto, é o caminho?

Nunca. Pelo menos não creio que o seja.

A reforma trabalhista proposta por um Congresso apodrecido e regido por proposições de sistemas que alimentam seus interesses e não os da população e suas demandas, não serve, não se aplica e por não passar pelos necessários processos de construção com a sociedade e cumprindo, adequadamente, os atos formais e ritos legais, é inaceitável e, não pode vigorar como regime legislativo para o país aquilo feito sob negociações estranhas, na madrugada.

Reforma trabalhista? Em alguns aspectos sim. Antes porém, da reforma tributária e fiscal, não. Fora da reforma política, jamais.

SINDICALISMO

Toda vez que ouço representantes dos sindicatos, em discursos ou elaborações táticas, me sinto numa viagem ao início do século passado. Para os nossos tempos, portanto, palavras vazias, mas nem tanto. Há muito de irracionalidade no que diz e no posicionamento massivo dos ouvintes.

Esse tipo de agir dos sindicatos e sindicalistas os afastam da sociedade e do compromisso de discutir as políticas públicas que afetam aos trabalhadores e assim, os sindicatos passam a ter olhos e sentimentos apenas para os interesses corporativistas em desconexão com a marcha e demandas da sociedade. Pesa ainda, contra grande parte do sindicalismo, sua prostração e rendimento ao aparelhamento político.

Resultado objetivo direto?

Incapacidade de dialogar com a sociedade e por isso, retorno nas mobilizações, em geral, apenas dos seus sindicalizados e gasto de energia em embates e não em construção. O resultado final é o distanciamento do que deveria interessar: as políticas públicas que afetam aos trabalhadores.

Um novo sindicalismo precisa emergir. Mais responsável e comprometido com o trabalhador, que vá além das pautas de carreira, que pense trabalho, emprego, renda e a proteção aos trabalhadores, que se faça proponente e animador de uma nova visão de serviço à sociedade através do trabalho e que confronte e constranja o que ainda hoje persiste no sindicalismo de gritos que nada dizem, jargões vazios de sentido e egos embriagados por escusos interesses políticos - não é disso que a sociedade precisa e os trabalhadores demandam.

Obviamente que o tsumani que está passando sobre os trabalhadores, neste momento, é inaceitável e precisa ser combatido incansavelmente e sob a bandeira da resistência e da esperança de que outro quadro é possível.

UM DESAFIO

O momento nos exige reflexão e espírito crítico sobre o que nos está acontecendo, nas nossas instituições e a partir dos nossos estados reivindicatórios, suas bases e lastros.

Do contrário, ainda como hoje, quando os gritos ecoavam nas frentes sindicais, as perversas condições de trabalho, exploração e submissão a um sistema insano que coloca sempre o acúmulo de capital acima das necessidades humanas, permanecerá na proa das decisões escritas nos palácios em ratificação aos rascunhos propostos pelos interesses das grandes corporações que concentram riqueza, manipulam as decisões políticas e atrapalham os avanços da nova economia que poderia ser libertadora e mais justa.

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