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Sobre Manifestações

Brasília,

Capital Federal, Sede dos Três Poderes ... deveria ter uma polícia melhor preparada para as dezenas de manifestações populares que aqui ocorrem todos os anos, conforme prescreve a Constituição Afinal, elas são, não apenas importantes, mas necessárias e fundamentais em qualquer processo democrático.

Ao invés disso temos uma polícia incompetente, quando a questão é a relação com as populações em marcha.

Não, não me venham com papo que é o "governo golpista" porque vou às ruas desde 1998, e SEMPRE vi as MESMAS CENAS. Truculência, uso desmedido de força, provocações.

É a cultura MILITAR AUTORITÁRIA E ARBITRÁRIA que é estimulada nos quartéis e centros de formação desses que se colocam em patamar de não cidadãos, em categoria superior, como se ela existisse - e deles transbordam para as ruas.

O que vi ontem, por exemplo, foi de um absurdo tenebroso. Vários idosos indígenas sob fogo cruzado da polícia. Tão ameaçadores eram, aqueles velhos, que nem conseguiam correr, por causa dos limites da idade avançada. Além de mulheres com crianças de peito, como se diz na minha terra, e outras de não maior idade que cinco anos.

Chorei, não apenas em consequência da fumaça agressiva, lágrimas que não se podiam conter, mas também quando passou o seu efeito.

Chorei porque, se à luz do dia - diante de câmeras do mundo inteiro, com transmissão real time - é esse o tratamento que esses povos recebem, fico imaginando o que lhes ocorre nos rincões em que a chancela de polícia e bandidos é o cobre dos senhores feudais do século 21; onde o agronegócio impera e latifúndio é solo sagrado de uma meia dúzia de muito ricos.

Chorei pela humilhação a que submetemos aqueles a quem deveríamos devotar o cuidado dado a um irmão, um parente.

Chorei porque testemunhei que por aqui as páginas da História não viram para os povos indígenas, para os sertanejos, para os negros.

Sexta-feira teremos, ao que se especula (e pelo que torço), um mar de gentes nas ruas, especialmente concentradas na Esplanada dos Ministérios, e seria uma lição de que é possível evoluir,  se hoje e amanhã nos comandos e centros de inteligência das polícias, o que se estivesse discutindo fossem estratégias outras que não a provocação a um povo já cotidianamente violentado pelo Estado e quase todo o seu aparato, porque pasmem, é assim, que a polícia muitas vezes age manifestações: identifica grupos mais vulneráveis a provocações e vai pra cima, PROVOCANDO até desencadear os quase incontroláveis enfrentamentos para desmoralizar os movimentos de rua. Eu vi isso em manifestações em 1998, vi em 2013, vi em 2014, vi em 2015 e vi ontem.

Sim, é claro que em quase toda manifestação vai a turma da perturbação da ordem, da irresponsabilidade, da bagunça, do descompromisso com as causas em pauta. SEMPRE. Agora, até os tolos, como eu, conseguem sem muita dificuldade identificar essas figuras, imagina as forças da inteligência da polícia!

Mas é preciso inteligência, principalmente emocional.

Oremos!

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