Duas mulheres viúvas em país estrangeiro. Fome na por todo lado. Uma convicção: TEU POVO É MEU POVO, ONDE FORES IREI CONTIGO.
Isso é dito de acontecimentos muito, muito antes do Cristo encarnado e a mulher a quem se atribui essa frase era Rute, de quem veio Davi, o maior rei de Israel.
E hoje, a quem dirigiria Rute, a sua fala?
Imagino, e somente isso posso fazer e nisso me inspirar, ela estaria entre as viúvas, divorciadas, traídas, abraçando-as e diria: estamos juntas e vocês não estarão mais sozinhas, no abandono que quiseram lhe dar como marca e insígnia.
Às estupradas a cada 11 minutos, às agredidas a cada 5 minutos, junto aos corpos das assassinadas a cada 2 horas, ela choraria e com o sangue dessas suas irmãs escreveriam cartazes e faixas e ela sairia por todos os cantos da cidade - nos palácios, nas igrejas, nos guetos e em frente às emissoras de rádio e TV bradaria: ESTE TAMBÉM É O MEU SANGUE, ESTA É TAMBÉM A MINHA FERIDA E DOR e a violência não pode ficar impune.
Ela não silenciaria - como se não visse - a respeito dos baixos salários das suas irmãs, mesmo quando igualmente capacitadas; ela falaria, até se fazer ouvida e compreendida, que contribuir com as tarefas em casa não é ajudar à mulher, mas harmonizar o ambiente e desde o lar, praticar a justiça, o respeito e a honra, e que os filhos são responsabilidade do casal, desde a concepção e para sempre (ou até que eles deem os próprios vôos); ela discutiria de igual para igual com todos os homens e assim, estimularia as amigas a fazerem o mesmo com quem se relacionassem, porque ela sabe que o idioma do Eterno é a justiça, por isso, submissão não é subserviência, mas igualdade na missão de existir e ser.
Muitas "contravenções religiosas e sociais" faria hoje, aquela frágil moça estrangeira, uma se sobressairia, com certeza: ela cancelaria o show gospel, o estudo bíblico no templo, a conferência profética, o chá das mulheres de bem com a vida, para ir as ruas, praças, avenidas, em coerência ao que acredita ser a vontade do Eterno e o que postula o Reino, e diria a todas as suas irmãs: no lugar em que vocês estiverem, lá estarei e, se hoje é dia de luta, contem comigo nas fileiras das batalhas para que um dia a paz, fruto da justiça em nossos atos de rebeldia hoje semeados, seja usufruida por mulheres livres.
Hoje a minha celebração, ao Deus a quem devoto a graça de viver, é na rua e junto a todas as outras mulheres errantes na guerra diária por permanecerem ao menos vivas para um outro dia. Ao lado delas será o meu culto. Com elas, iguais a mim, entoarei meus cânticos e juntas, em protestos, pela vida e justiça, faremos orações.
A minha congregação hoje, e até que a justiça esteja abraçada à paz será a rua e lá eu choraria de júbilo se encontrasse, também, aquela outra igreja, que está nos templos.
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