Ouvi recentemente (mais a vida toda também) e gastei boa parte da minha noite passada pensando sobre o significado e impacto disso:
"A mulher tem que seguir o seu marido".
Mentira.
A justificativa é a Bíblia.
Nem vou dizer que é mentira, também, para não provocar mais contenta.
Vou perguntar:
E quando a Bíblia diz que "o marido deve amar a sua esposa como Cristo ama a sua Igreja", o que você faz a respeito disso?
E como é o amor de Cristo à Igreja?
Ele, o Cristo, a constituiu.
Deu a ela status e autonomia de agir, recomendando que o fizesse segundo os princípios do Reino de Justiça e Paz que Ele veio demonstrar possível ao mundo, com a própria vida - por palavras, atitudes e sentimentos.
Você, marido, age assim, dando autonomia à sua esposa ou a silencia e a reduz, a engessa, fica ofendido que ela faça e aconteça? E a sua preocupação nem são os princípios, é você!
Ele, o Cristo, a respeitou, consciente de que ela era parte dele próprio.
Você, age assim, ou trai a sua esposa, a desrespeita, a violenta - física e psicologicamente, a vê como objeto único de consumo, focado exclusivamente na sua saciedade pessoal sem qualquer lembrança de que ela tem anseios, desejos, necessidades?
Ele, o Cristo, de tal modo se entregou ao ponto de dar a vida.
Você, marido, age com toda essa abnegação ou sequer se esforça para decorar o significado da palavra?
Então, meus caros, não me venham usar seletivamente a Bíblia, mesmo livro que ensina a perdoar, a respeitar, a ter palavra branda, a não fazer acepção de pessoas, a dar a outra face quando se é ofendido, a acolher o pobre, a viúva, o órfão, o estrangeiro; a mesma Bíblia que nos determina, cristãos, a uma vida absolutamente comunitária, exemplo para todos os povos, e nós não nos importamos em assim fazer, porque isso implica em abrir mão do nosso conforto até que todos tenham possibilidade de conforto; da nossa dignidade até que todos possam viver dignamente; do nosso consumo exagerado para que não haja falta a ninguém e para que não destruamos a Terra que nos foi dada a cuidar; a mesma Bíblia que nos exorta a buscar o contentamento em ser, de modo a não nos escravizarmos ao possuir, a desenvolver empatia e a perceber as pessoas nas suas peculiaridades e não a coisificá-las.
Você, se é que conhece minimamente o texto bíblico, bem sabe que eu poderia puxar diversos recortes dele, a partir dos quais fazermos longa e infrutífera discussão, não o farei.
Bem objetivamente, sabe o que se passa?
Covardia, medo e MACHISMO.
Até quando você fará leitura seletiva da Bíblia?
Até quando a escolha vai ser usar, vergonhosamente, a Bíblia para justificar sua incapacidade de se curvar à necessidade de revisão de conceitos, porque você, MACHO, coroa da criação (sic), acha humilhante simplesmente reconhecer que precisa de ajuda para remodelar a sua mente escrava à mente do Cristo, que quebrou paradigmas e nos veio ensinar que um novo mundo e jeito de viver é possível?
Termino com um recorte que você conhece muito bem:
"Aquele que está em Cristo, nova criatura é, as coisas velhas já passaram e eis que tudo se fez novo".
Que tal investir energia investigando na mente do Cristo, e não nas tradições religiosas, e o que significa isso?
Dica: se a missão de transcender à mente do Cristo, para tentar compreendê-la, é impossível, olhe para ele, pessoa humana que passou por aquelas terras da Judeia, não será difícil perceber a sua humanidade muito objetivamente expressando a espiritualidade de nós desejada.
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