Está aberta a temporada de retiros espirituais e acampamentos de carnaval. Há muitas opções e estilos e uma temática só: SANTIDADE = SEXUALIDADE DOS JOVENS IRMÃOS.
Eu faço a mea culpa, pois já promovi muito isso. E como promovi. Mas sempre carreguei um questionamento que agora tenho liberdade de fazê-lo mais abertamente:
- Por que cargas d'água só se fala desse tema nos eventos de jovens?
Parece que é a única coisa que importa pra juventude - e de tanto se falar, assim acaba sendo; que é a única coisa para que se tem espaço na vida da juventude é sexo. Claro que tem muito espaço (mais até do que deveria, é bem verdade, porque fala-se mais do que efetivamente se faz e, pior, fala-se mal, porque não se fala do enfrentamento aos tabus da sexualidade, o que seria muito saudável). Mas sexo não é a única coisa que desperta as emoções da juventude.
Outra coisa caramba, é a compreensão de santidade e vida consagrada ao divino, ao reino, ao ministério e variações do mesmo tema.
Até quando viveremos na superficialidades dos conceitos, à margem dos significados?
Até quando nos embebeceremos na preguiça e não nos permitiremos ao deleite do exercício de pensar detidamente sobre palavras, expressões e as possibilidades de alargarmos o nosso entendimento a partir do confronto aos significados que nos são enfiados goela abaixo a pretexto de obediência?
Até quando não dissecaremos o que nos é posto, exercitando a mente e o espírito a uma compreensão que vá além da margem?
Quem foi que disse que Deus aprecia a obediência burra, fruto da manipulação do pensamento e do silenciamento à crítica?
A que se aplica a santidade?
Longe, desde muito, todos sabemos, de uma vida de afastamento de uma "sexualidade ativa", santidade passa por novas práticas cotidianas a partir de se enxergar o mundo sob uma ótica de serviço e vida abnegada e comunitária. Podemos até admitir isso, mas a escolha continua sendo a dominação pelo medo e a tática de nos metermos na intimidade da vida das pessoas e suas escolhas, ao invés de apenas orientarmos e ensinarmos a autonomia nas tomadas de decisões para que estas sejam fruto de consciências livres, desenvolvidas por uma vida de busca por conhecimento e devoção particular sincera. Preferimos o aprisionamento, as imposições, a tática da promessa do inferno ao desobediente, a auto-mutilação de emoções que escraviza as pessoas a uma vida de sensações e as fazem reféns de alguém com falsa autoridade.
Já tem um tempo que tenho duas orações:
- Pedido de perdão por todas as bobagens que eu repeti como ensinamento, presa a uma doutrina torta, concebida em gabinetes de uma teologia pobre e emburrecedora;
- Pedido por graça para que eu não me aprisione à falsa liberdade e não me lambuze na minha insensatez, outra vez - com outra roupagem.
Um desejo: ver a profecia alcançando pessoas - "quem crê em mim como diz a escritura, do seu interior fluirão rios de águas vivas".
Um anseio: Pastores, Bispos, Apóstolos, quase-deuses, líderes de jovens, por favor, a juventude tem cérebro, coração e múltiplos interesses.
Santidade é a expressão da vida de Cristo: no cuidado com a criação; na luta por justiça e paz social; na busca por conciliação nos conflitos (de toda natureza); na entrega por reconciliação do homem com o seu Criador e com ele mesmo; no exercício da compreensão da vida missional (integral); no confronto às culturas da sociedade desigual, do machismo, da violência, da intolerância; no aprofundamento do significado de espiritualidade; no conhecimento do próprio corpo e emoções; no exercício por vislumbrar uma outra vida possível, em dimensão não conhecida, mas que tem início de construção aqui e agora, com a mútua responsabilização de um pelo outro para uma vida comunitária.
Isso é muito? Será?
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