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Ingenuidade!

Ingenuidade não deveria ser fraqueza, mas qualidade louvável e desejada. Não é.

A existência é uma selva e nela, os ingênuos, as pessoas crédulas, os que insistem em dar votos de confiança, normalmente, são os primeiros atropelados pela sanha de poder, a irrefreável disposição por construção, pensada, de processos de solapa, o incontido desejo ao holofote.

A Bíblia, para mim, é um livro sagrado e não porque as suas histórias, a sua letra não deva ser posta sob a luz dos questionamentos e da dúvida, afinal, é bem difícil lidar com elas racionalmente, ao mesmo tempo em que é, justamente a razão, que mais é mobilizada em mim, por seus sagrados ensinamentos. Quero dizer que, ao ler o texto bíblico, eu sou levada a questionar a minha própria conduta e a fazer uma escolha frente ao tipo de gente que desejo ser - aquela que se inspira no Cristo expresso ao longo da fatia histórica da Bíblica e que, para mim, creio, se perpetua na história em nós, sempre que manifestamos os princípios do seu Reino, semeados aqui, em vida.

Então, significativa parte da minha leitura de mundo (e nem poderia ser diferente) tem por pontapé inicial o tal livro sagrado, a Bíblia, é lá a minha primeira referência, minha base comparativa, mas não consigo fazer isso na letra, na discussão teológica (nem tenho conhecimento para tal), faço-o a partir daquilo que o texto me comunica no espírito e em soma com outros conhecimentos que tenho buscado adquirir e sob a luz daquilo que é espiritual e no que acredito.

Essa coisa toda, que é o que me tornei, que é a base da minha vida e o que me ajuda a compreender o mundo e os seus desafios (ou que pelo menos me ajuda a não sucumbir diante deles) é justamente o que me choca quando somos exigidos o tempo todo a sermos espertos, a desconfiarmos das pessoas, suas falas e expressões (ou contenção delas). Eu simplesmente reluto em dar o braço a torcer que 'tem que ser assim', uma vida sem ingenuidade, ou seja, sem candura e simplicidade, porque isso significa, no mundo real dos tempos humanos, sermos os bobos de quem todos se aproveitarão, de quem os que vieram para dominar, ser cabeça e não calda, sugarão os sonhos, as energias, as esperanças até chegar ao ponto de sugar-lhes, também, a singeleza, a candura, a simplicidade e fazê-los seus iguais, torpes violadores de humanidade, que sangram por manter-se em destaque, ainda que a luz que os põe em lugar alto não seja exatamente a natural de exuberância e valor, mas a artificial, utilitarista e que, necessariamente, para existir precisa destruir, a que é pálida, mas é posta em lugar alto para que todos vejam. 

Eu lamento, por minha própria existência, estar-me tornando uma pessoa menos ingênua, menos crédula, menos disponível a dar um voto de confiança a determinadas plataformas e pior, pessoas, porque isso me faz sangrar e não tenho ciência do tamanho do meu estoque de energia para a hipocrisia.

Eu sei que sei não somos bons e não sei explicar isso, como que ainda assim, algumas vezes podemos fazer coisas boas (a não ser sob a luz do Evangelho que desejo como norte). Mesmo sabendo, dói admitir que "não é possível" desejar a ingenuidade, ainda que a possa admirar e que ela é desprezada e tomada por tolice e sem valor quem a valoriza. Eu sei.

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