Todos, especialmente os que se consideram PROGRESSISTAS, precisam, urgentemente - como diz Arnaldo Antunes - tirar a mão da consciência e colocar a mão na consistência, para um diálogo franco sobre as vestes da autoridade e as máscaras de autoritarismo.
A gente fala muito sobre o outro, autoritário. Mas, e nós? Temos autoridade n'alguma fala, fruto de esforço por sermos consistentes ou apenas estamos travestidos do velho autoritarismo que dizemos combater?
Há muita modernidade nas nossas falas, tanto quanto o arcaico desejo de submeter todas as vozes ao nosso próprio pensamento, ensurdecendo e silenciando o que difere das nossas ruidosas convicções e isso, sem ao menos exercitarmos a valoração de um e outro e os seus porquês.
Ao passo que disseminamos tanta tecnologia de fala (e as dizemos de escuta) também, no mesmo esforço ou, até com mais vigor, quebramos muitos vasos, depositários poderosos de idéias e energias outras que poderiam estar sendo aplicadas para melhoramento do mundo. E isso fazemos, despudoradamente, com a estridência da nossa voz autoritária, materializada em gestos, cerceamento a outras opiniões - sob as quais não assinamos, 'nãos' por não querermos (e somente) e outras ações sorrateiras que mais parecem ditaduras de pensar mascaradas nos nossos gritos de autonomia. É muito paradoxo com que lidar!
Carrego comigo uma experiência muito singela e com a qual tenho cuidado especial para não esquecê-la.
Foi em janeiro de 2013 que fui "convidada", pela primeira vez (formalmente, digamos assim), a me lançar numa tal 'OFICINA DE PENSAR'. Se aplicaria a leituras, que creio, necessariamente alcançariam a vida. Já a levei, de pronto a tudo de que me lembro.
Desde então, sem encontros "formais", sem livros, no meio de uma correria insana, pela observação, pela troca, através de exposição de idéias, pelo exemplo sobre o qual me debruço com lupa para absorvê-lo no que me corrige, no enfrentamento (muitas vezes doloroso, porque palavras doem mais que lapadas), tenho tentado compreender essa oficina cotidiana, olhando o meu modo de impor ao outro o que penso e sou e o meu esforço de não mais ser assim e nisso, vou-me incomodando cada vez mais quando identifico falas e gestos autoritários e vou-me determinando a não fazer parte desses ciclos.
Acredito que, se queremos ser úteis na sociedade e para a sociedade que compomos, se desejamos deixar um legado de humanidade para as próximas gerações, talvez, o primeiro grande significado a ser expresso em nós, seja a luta contra nós mesmos para banimento do nosso autoritarismo. O fruto, quem sabe, seja reconhecimento de alguma autoridade transformadora, no final. E isso já terá sido grandioso.
#ParaPensar
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