As vezes é difícil compreender ou simplesmente a gente não quer admitir que a vida nos exige dividir. O pão, as coisas, o conhecimento, as experiências, o sentimento, os sonhos.
Há mistérios poderosos nisso e, desde os tempos antigos a sabedoria nos tenta ensinar que ao nos dividirmos nos multiplicamos, nos fazemos mais que a fração em separado de todos nós.
Não se trata de nos dividirmos no sentido de apartação, mas de nos compartilharmos e assim, nos darmos ao outro e no outro nos fazermos novamente uno, um ser comum ainda que diverso.
É um dar-se que preconiza a cultura do individualismo como se uma perda fosse, por isso, sofremos para não nos entregarmos, depois, então, conforme passa o tempo e nos percebemos diminutos ao nos privarmos somente a nós mesmos, sofremos por não nos temos arriscado nos dividir,
E os lapsos de vazios começam a se tornar cada vez mais constantes e se vão deixando de ser lapso para rotina, sólidas muralhas que desejam ardentemente o trânsito em si, ainda que de alma somente em transe e são, ao mesmo tempo, intransponíveis.
A solução são portas e pequenas janelas, suspiros de relações que como toda janela tem suas limitações e a necessidade já previamente estalecida de fechaduras, trancamentos, tempos de nada entra e nada sai. Os marcos da funcionalidade.
As tais incompletudes que podem dar sentido às nossas buscas existenciais ao nos dividirmos, podem, também, ser as que se fazem em estranhamentos de lugar e tempo nos sufocarem até ao ponto da insignificância total da não existência da qual sempre fugíamos.
Talvez o caminho menos tortuoso, afinal, seja nos dedicarmos a aprender a divisão que multiplica, encarar o medo da entrega pessoal.
Uma questão de sobrevivência. Existência.
Dividir-se dói menos.
Dividir-se dói menos.
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