E vou subindo a ladeira.
Força.
Continua.
Falta pouco. Não para.
Há um mito acerca da vida na Bahia que não creio ser possível atestar ou desmentir nessa minha rápida passagem por aqui. E, até acho presunção querer fazê-lo. Uma lição, porém, há muito necessária, estou aproveitando nesses dias de descanso e lazer, para exercitar a fim de me desafiar a praticar.
É preciso não correr sempre.
É preciso viver mais devagar.
Como diz o adágio popular: "pois é devagar que se vai ao longe".
Chego a Lençóis, Bahia, 420 km de Salvador, às 19h. Informo-me e descubro que pra chegar à pousada da minha hospedagem basta subir um pouco à rua da esquerda que dá num beco, subir o beco até o final e estarei no Alto do Cajueiro, meu destino.
Ansiosa ou apenas por força do mal hábito de andar correndo, como sempre e todo dia, apressadamente me ponho à subir. Bastam não mais de 200 metros para que eu me veja em ponto de esgotamento. Coração acelerado, quase saindo pela boca, pulmão em estado de não sei o quê, pernas e braços tremendo.
Há condicionamento físico quase zero, há peso em demasia nas costas. Há, sobretudo, marcha em pressa desnecessária.
Tive que parar, sentar na calçada e recobrar a respiração.
Para não perder o caminho, as pequenas pausas são fundamentais.
Andar em ritmo mais lento pode significar chegar ao destino.
É assim, a vida nos pede desaceleração. Ninguém consegue correr para sempre em ritmo de largada de pequenas distâncias. A estratégia é importante, a concentração no destino final também, mas a existência está bem mais para uma corrida de fundo, uma maratona, onde se exige também calma, resistência física, psíquica e mecânica. Passos firmes sim, velocidade constante e, percepção apurada do que ocorre ao redor, nutrir-se não apenas da arrancada e força própria para manter-se em marcha e à frente. Mas necessário é, interagir com os arredores e suas forças, a marcha do vento, expressões que há no ar.
Pois é, a primeira subida, por aqui em Lençóis, a da chegada na segunda-feira (1), foi assim, digamos, estúpida. Correndo sem necessidade ou por ansiedade, passei do endereço e aumentei o esforço e tive uma parada forçada para não ter um colapso. Depois, na ida para o jantar, descobri caminho pouco menos tortuoso e desacelerei um pouquinho.
No dia seguinte, enfim, admiti: ou exercito andar devagar, reparar a cidade ou o meu pulmão e coração sedentários não suportarão muito o esforço que lhes será exigido nos próximos dias.
Um novo outro caminho, enfim descobri. Aparentemente mais longo, subida menos pesada, passos mais lentos e, ainda que continue ofengante ao final do trajeto, já não me encontro mais em estado de internação.
Como disse no começo, não creio que em tão pouco tempo por essas bandas me permitam saber ou não se o mito de vida devagar por aqui é verdade ou SÓ mito. Aliás, desconfio, agora, que isso pouco ou nada importa. Mas estou bem certa que desacelerar é muito importante para podermos continuar dando os passos firmes que a missão nos exige ter.
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