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O autoritarismo silenciando a autoridade dos bons gestos

Autoridade e Autotarismo. A raiz é a mesma. O desenvolver dos significados diversos. Intensos.

Os tempos nos impõem urgente necessidade crítica sobre a que  palavras desejamos dar significado às nossas ações, militância, processos - dos mais simples no cotidiano aos mais complexos embates das negociações políticas e sociais.

Autoridade se faz pelo que somos em consonância com que falamos e fazemos.

No autoritarismo, ao contrário, há vezes em que até faz. Normalmente, porém, é apenas uma fala desacompanhada do tornar-se. Portanto, somente um manifesto palavresco sem sentido,  um distanciamento do diálogo e por isso mesmo, uma posição de imposição aos gritos ou ao silêncio tão violento quanto o falar sob embate. Um ciclo de desinteresse nos processos e cego enfoque no resultado de poder.

Por vezes nós agimos assim, sem nos percebermos prisioneiros do que nos dizemos combater. É o vício do comportamento preponderante da nossa sociedade, em velada disputa por todos os atos e nesta, o único resultado válido é aquele garantidor de imposição de vontade, não a construção de ideias pelo acúmulo da diversidade de pensamentos.

Se nos apresentamos à sociedade como colaboradores nos seus processos políticos, por exemplo, não cabe nessa colaboração o autoritarismo. Do mesmo modo, ou ainda mais, nos campos religiosos.

A colaboração convida ao desarme das certezas, ao exercício da pluralidade respeitosa, aos processos de busca por conhecimento da (e na) diversidade do humano, ao encontro pelo diálogo sem preconceitos.

Talvez não exista complexidade maior que esta e, talvez por isso, tão facilmente levantamos guarda ao processo e mergulhamos no habitual autoritarismo, cego.

Lamentável que a Política perca para o autoritarismo.  
Lamentável que o desenvolvimento da espiritualidade perca para o autorismo.
Lamentável que a diversidade humana perca para o autoritarismo.

Lamentável que nos reduzamos tanto assim, ao ato e efeito de impor o nosso pensamento, a nossa maneira de ser e agir, a nossa opinião, a nossa visão de mundo e não percebamos a riqueza da pluralidade, da diversidade.

O resultado?

Uma brutal transformação dos ambientes de diálogo e discussão em ringues, disputas vazias pela mera comprovação de "falei por último, tenho a última palavra e o espaço é meu".

A disputa e o fazer, assim, sem o aporte do espírito colaborativo que deveria reger a alma humana ao que é grandioso, ao invés do que preconiza, não cria vencedores. Antes enfraquece, isola, dispersa e assassina as mentes movidas pela construção dos novos significados na sociedade.

O queremos, afinal?

Construção política solidária, fraterna, colaborativa, que respeita a diversidade de opinião e os processos de aprendizado e desenvolvimento, que está atenta à sociedade e ao máximo das suas variantes e por isso, esforça-se por compor, fazer junto, andar mais devagar para ganhar robustez nas construções, valorizar menos o chegar primeiro e mais, muito mais, o chegar de mãos dadas e reconhecendo a autoria de todos, em cada etapa? Ou nos importa mesmo é consolidar posição e poder, o autoritarismo da velha política e dos arcaicos e virulentos modos como as sociedades primitivas, ainda que contemporâneas, se organizam e se mantém em atuação?

Há muito autoritarismo regendo nossos atos e nos tornando insanos. Autoritarismo inclusive, travestido de boa ação e com largo sorriso.

Repensar é preciso. Ou nos perderemos todos.
Não podemos deixar que o autoritarismo silencie a autoridade dos bons gestos.

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