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Uma nova cultura política como legado

As movimentações recentes no calendário político-policial nacional revelam um quadro que nos sinaliza o tamanho da responsabilidade da REDE e de todas as forças políticas decentes desse país. Essa responsabilidade, penso, é muito maior e mais significativa na medida em que os caminhos menos dolorosos são as nossas primeiras opções quando estamos sob pressão. E TODOS - do brasileiro mais simples ao maior agente político desse país, tendo ou não reserva moral - estamos sob intensa pressão. E assim, claro, é menos doloroso encarar "as soluções" habituais, que podem se travestir na polarização e que nos forçam, na ânsia por resposta rápida, à junção com outras forças políticas quaisquer, apenas para falar algo, ainda que não se tenha nada efetivamente a dizer, quando o que cabe é refletir.

Pode ser este o caminho? É sempre uma opção. Apenas, muito privadamente vejo nessa opção, uma busca por achar um novo salvador da pátria que nos livre da nossa desgraça maior de não sabermos ser donos da nossa história.

O que nós queremos, afinal?

Encarar a complexidade da nova política ou simplesmente eleger Marina a grande mãe da pátria?

Só não podemos esquecer que ela prega exatamente o contrário dessa segunda opção.

O salvador da pátria é cada brasileiro consciente de si, cidadão virtuoso que constrói instituições virtuosas que o corrigem quando falha em suas virtudes.

A grande questão é que dá trabalho despertar essa consciência. É um processo lento e, para nós, é muito difícil lidar com o tempo quando, além da pressão da crise política, nos vemos agarrados - muitas vezes sem más intenções, é bem verdade - à pressão das carteiras dos pleitos eleitorais, porque no fundo, acreditamos que a política só se move sob a batuta de cargos eletivos e temos muito pouca fé em que a sociedade seja a verdadeira batuta para reger a política. Com cargos eletivos sim, mas não exatamente com o nosso aprisionamento a eles.

Já explico que acredito na nossa capacidade de hackear o sistema e claro, para fazê-lo - como ele está concebido e sacramentado - necessariamente temos que estar inseridos nele. De modo que, os pleitos eleitorais são legítimos, devem compor nosso raio de ação e atuação política, mas é preciso muito cuidado para não dinamitarmos o maior legado que temos por missão a construir com o Brasil e que NÃO é eleger Marina Presidente ou fazer governadores, senadores, deputados, prefeitos e vereadores Brasil afora. O maior legado da REDE e das forças políticas responsáveis desse país, é a construção de uma nova cultura política, em que pesem e lhes sejam absolutamente caros os processos e projetos de longo prazo que nunca se encaixarão no curto prazo dos políticos.

De novo, a Marina que ouvimos mas as vezes não queremos decifrar, porque nos tensiona a buscarmos uma nova visão de mundo que vai além do hoje, do imediato, das receitas prontas.

Então, como conjugar os pleitos eleitorais, a ocupação política via cargos eletivos - que são sim necessários, com a ocupação política pela mobilização da sociedade e com a sociedade? Isso sim, o fundamento primordial que jamais podemos sonhar colocar no terreno arenoso das disputas de poder.

Eis aí, na minha simples avaliação, um desafio sobre o qual devemos nos debruçar.

Se eu quero Marina Silva, Presidente do Brasil? Claro que quero. 
Quero representantes da REDE em todos os cargos possíveis, no legislativo e executivo? Sim, com certeza.

Porém, há algo que eu desejo mais que isso.
Desejo mais brasileiros que não dependam de uma Marina Silva, que sejam cidadãos antes de qualquer outra coisa - porque o sistema é profundamente viciado, o que me obriga dizer que, por mais digno que seja o agente político, por melhores que sejam os seus programas de governo e propostas de atuação, se não for a força da sociedade, cidadã, dona do seu destino, plenamente consciente do que é serviço e res publica, seremos apenas parte do velho sistema e por ele manobrados de acordo com os seus vícios.

Por uma nova cultura política como legado é preciso nos exercitarmos numa nova relação com o tempo. Isso nos impõe menos medidas apressadas, menos decisões pela emoção, menos conjugação com o jogo de poder, desprovido de povo cidadão e mais cidadania.

Comentários

  1. Excelente reflexão. É preciso reformar a "forma de fazer política atual" para que se possa pensar em algo diferente do que aí está posto!

    Uma proposta seria o concurso público para candidatos, o que eliminaria um monte de aventureiros e despreparados para gerir o Brasil. Notas do concurso divulgadas publicamente e aí sim, o processo seria eletivo, com uma pré seleção curricular e por competência.

    Além da renovação de pessoas e ideais é preciso um comprometimento pessoal com a mudança do país.

    Agente político = servo da sociedade, este conceito precisa ser internalizado.

    Respeito ao que é público e privado, participação popular na verdadeira política!

    Sou agente transformadora deste novo tempo! Sempre lanço minhas sementes.

    Mais cidadania, mais inclusão, mais acesso a todas as informações, mais educação, mais cultura, mais saúde, mais transporte, mais lazer, mais segurança, mais vida!

    Por um novo Brasil sem as velhas práticas colonizadoras de gestão! Sigamos...

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    Respostas
    1. Grata pela leitura e contribuição do comentário, Andrea.
      A proposta do concurso não me inspira paixão. Pelo menos não no primeiro momento, mas considero que quase todas as coisas devem receber a validade da apreciação.

      O restante pontuado, prontamente assino embaixo.

      Abs

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  2. Escrever depois desse excelente texto, tendo clara também esta visão e percepção, será difícil!!! Me representa, querida Ádila!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Ah Sonia,
      muito grata querida.
      Estamos na luta. Vamos de batalha em batalha...abs

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  3. Escrever depois desse excelente texto, tendo clara também esta visão e percepção, será difícil!!! Me representa, querida Ádila!

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  4. Escrever depois desse excelente texto, tendo clara também esta visão e percepção, será difícil!!! Me representa, querida Ádila!

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