Pular para o conteúdo principal

METANOIA - a complexidade de um caminho possível

É muito difícil lucidez no meio de um incêndio. Sei lá, missão dura e quase impossível, talvez.  Certo é, porém, loucura absoluta jogar gasolina no fogo. Ela pode ser palavras ou atitudes, ou ambas.

A seara na qual nos estamos (ou deveríamos estar) propondo atuar, desde o “menorzinho” ao mais gabaritado em cultura intelectual e política, tem sua gradação e valor contributivo para o bem ou para mal, nessa confusão que nos assenhora, e precisamos ter muita responsabilidade nisso.

A responsabilidade da introspecção, da oposição e da posição. SEMPRE e alicerçada no esforço pelo alinhamento do discurso à prática. Penso que isso nos ajudará a não ficarmos na reação epidérmica, apenas. Essa, claro, natural, aceitável que ocorra, inadmissível, porém, que se faça nossa patrona.
  • Introspecção em estado de silêncio, por um pouco que seja (ou tempo necessário). É preciso ouvir a razão, ouvir a emoção e depois mergulhar no exercício de equacioná-las.
  • Oposição ao que está posto, saltando aos olhos até mesmo dos cegos, sobretudo ao que está por trás do que os olhos veem. Como alguém já disse, há mais mistérios entre os céus e a Terra do que imagina a nossa vã filosofia. Oposição ao nosso próprio olhar dicotômico e vesgo, à nossa rigidez a novos processos de pensamento e construção, à nossa resistência para colocar o que falamos de mãos dadas com o que fazemos, pois, “o que a gente faz fala muito mais do que só falar”. Oposição à construção de mundo individualizado que gerou a permissividade nos valores e deságuo nisso aí, e outros desequilíbrios.
  • Posição clara quanto ao que queremos. Uma nova política, de fato? Democracia? Cidadania? Então teremos que enxergar para além dos trópicos da nossa pele e encarar a carne e o sangue contaminados por uma cultura de favores, arranjos, jeitinhos, fast-foods, projeção em um salvador da pátria que nos alivie o fardo de olhar para dentro e tomar consciência de que “contra você é você contra você mesmo, você é o seu pior inimigo, seu pior pesadelo”.
Decisão precipitada compromete a posição acertada.

Metanóia, maninhos. Eis a cartada final que o processo nos exige e do qual já não podemos fugir. 

A epirderme, sob pressão, gela e congela a lucidez frágil ou a põe em chamas, derretendo-a. Ela que poderia ser uma semente para um novo que não sabemos ainda o que será. Por isso, vamos encarar a complexidade da nossa cultura política dominante, a complexidade do processo em curso e a complexidade ainda maior do que temos discursado à sociedade e tentar nos exercitar numa leitura propositiva do que estamos vivendo?

E se nos puséssemos a diálogos fala em que há a interação entre dois ou mais indivíduos; colóquio, conversa; contato e discussão entre duas partes (p.ex., em busca de um acordo); troca de ideias - pequenas rodas de conversa na faculdade, no trabalho, na escola, no condomínio, nas igrejas, etc, etc, etc, sobre o Brasil, sua história, inconstâncias, fragilidades e forças; brasileiros e as atitudes comportamentais que nos fazem louvados no mundo e as que nos apequenam; sobre pequenas novas posturas no cotidiano e nos imbuíssemos da responsabilidade pela coisa pública?

Só uma semente? Talvez?
Boa semente? Na minha perspectiva sim.
Brotará em algo útil? Não tenho a menor ideia?
Tem sustentabilidade? Se for boa, espero que sim.

Para mergulhar sério nessa complexa metanoia temos que deixar de ir às ruas por "a" ou "b" questão, situação? De modo algum, só não podemos ocupá-las sem paralelamente (ideal é que fosse antes) startar um processo de nos fazermos cidadãos e nisso prosseguir. É um caminho.

Se não for assim, fica inconsistente e coisas inconsistentes, gentes inconsistentes são também insustentáveis.

Metanoia. É preciso considerar a complexidade desse caminho possível.

Comentários

  1. Provérbios 3:13 FELIZ O HOMEM QUE ACHA SABEDORIA,
    E O HOMEM QUE ADQUIRE CONHECIMENTO;
    ALELUIA.
    PENSAMOS DO que FALAMOS E FALAMOS DO que PENSAMOS
    Divanir Gomes
    bom dia

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Democracia e representatividade: por que a anistia aos partidos políticos é um retrocesso

Tramita a passos largos na Câmara dos Deputados, e só não foi provado hoje (2/maio) porque teve pedido de vistas, a PEC que prevê anistia aos partidos políticos por propaganda abusiva e irregularidades na distribuição do fundo eleitoral para mulheres e negros. E na ânsia pelo perdão do não cumprimento da lei, abraçam-se direita e esquerda, conservadores e progressistas. No Brasil, ainda que mulheres sejam mais que 52% da população, a sub-representação feminina na política institucional é a regra. São apenas 77 deputadas entre os 513 parlamentares (cerca de 15%). E no Senado, as mulheres ocupam apenas 13 das 81 cadeiras, correspondendo a 16% de representação. Levantamentos realizados pela Gênero e Número dão conta que apenas 12,6% das cadeiras nos executivos estaduais são ocupadas por mulheres. E nas assembleias legislativas e distrital esse percentual é de 16,4%. Quando avançamos para o recorte de raça, embora tenhamos percentual de eleitos um pouco mais elevado no nível federal, a ime...

Narrativas. Vida. Caos. Desesperança.

  Quando eu era pastora repetia com muita frequência, aos membros da igreja, sobre a necessidade de submeterem o que ouviam de mim ao crivo do Evangelho, aprendi isso com o bispo Douglas e com o Paulo, o apóstolo rabugento (e por vezes preconceituoso), mas também zeloso com a missão cristã assumida. Outra coisa que eu repetia era que as pessoas só conseguiriam se desenvolver se exercitassem a capacidade de pensar. Nunca acreditei num Deus que aprecia obediência cega, seres incapazes de fazer perguntas. E cada vez mais falo a Deus que se ele não conseguir se relacionar com as minhas dúvidas, meus questionamentos, as tensões do meus dilemas e mesmo cada um dos incontáveis momentos em que duvido até dele, então ele não é Deus. Será apenas um pequeno fantasma das minhas invencionices mentais, portanto, irreal. E por que isso aqui da gaveta das minhas convicções e incertezas? Assim? A nossa História é basicamente um amontoado de narrativas. Ora elas nos embalam na noite escura e fria. O...

Reforma?

Daqui 11 dias celebraremos 505 anos da reforma protestante.  Naquele 31 de outubro de 1517 dava-se início ao movimento reformista, que dentre seus legados está a separação de Estado e Igreja. É legado da reforma também o ensino sobre o sacerdócio de todos os santos, na busca por resgatar alguns princípios basilares da fé cristã, que se tinham perdido na promíscua relação do poder religioso com o poder político. E, co mo basicamente todo movimento humano de ruptura, a reforma tem muitas motivações e violência de natureza variada. No fim, sim, a reforma tem sido muito positiva social, política, economicamente e nos conferiu uma necessária liberdade de culto.  Mas, nós cristãos protestantes/evangélicos, teremos o que celebrar dia 31?  Restará em nossas memórias algum registro dos legados da reforma? Quando a igreja coloca de lado seu papel de comunidade de fé, que acolhe e cura pessoas e passa a disputar o poder temporal, misturar-se à autoridade institucional da política, e...